O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Nicolás Maduro “é um problema da Venezuela, não do Brasil”, ao referir-se ao ditador e ex-aliado histórico com quem tem vivido uma escalada de tensões diplomáticas nos últimos meses.
A declaração foi dada em entrevista à RedeTV! veiculada neste domingo, 10. Lula foi questionado pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) se não estava na hora de começar a “ignorar” Maduro. “Eu aprendi que a gente precisa ter muito cuidado quando vamos tratar de outros países e de outros presidentes. Eu acho que o Maduro é um problema da Venezuela, não do Brasil”, iniciou o petista.
“O que nós fizemos lá foi acompanhar o processo eleitoral e no dia que terminou as eleições, o meu ministro, que era meu enviado lá, o Celso Amorim, perguntou para Maduro se ele poderia mostrar as atas da votação. Perguntou para ele e perguntou para o candidato da oposição. Os dois disseram que iriam mostrar e a verdade é que os dois não mostraram”, disse o presidente.
Em seguida, Lula relembrou que, junto com a Colômbia, emitiu uma nota demonstrando “inquietação” com a falta de provas do resultado eleitoral do país vizinho. “Ele deveria ter mandado a nota para o Conselho Nacional Eleitoral, que foi criado por ele próprio, que tinha dois membros da oposição e três do governo. Ele não mostrou. Foi direto para a Suprema Corte. Eu não tenho o direito de ficar questionando a Suprema Corte de outro país, porque eu não quero que nenhum outro país questione a minha Suprema Corte”, afirmou o presidente.
As eleições presidenciais ocorridas em julho deste ano na Venezuela não foram reconhecidas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por diversos países latino-americanos. O presidente brasileiro, no entanto, evita classificar o regime venezuelano como “ditadura”. Em setembro, questionado se a Venezuela é uma ditadura, democracia ou um rolo que não dá para definir, o presidente respondeu que seria um rolo.
O novo capítulo da tensão entre os dois líderes envolveu a não inclusão da Venezuela na lista de 13 países convidados a integrar o Brics, após o Brasil discordar da adesão, o que configurou o primeiro gesto concreto da diplomacia sob Lula contra o governo chavista nos fóruns globais.
A fala do petista, citando nominalmente o antigo aliado do venezuelano, foi dita menos de duas semanas após o governo da Venezuela, por meio de publicação nas redes sociais da Polícia Nacional Bolivariana, dar um “recado” à Lula. “Quem mexe com a Venezuela se dá mal”, dizia a postagem, com uma foto da bandeira do Brasil ao fundo sobreposta com a silhueta do presidente brasileiro, logo após Maduro cobrar explicações públicas de Lula sobre o veto. Em 30 de outubro, o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vicente Vadell, foi convocado por Maduro a retornar ao país de origem.
Em setembro, o presidente afirmou que apesar de não reconhecer os resultados eleitorais do país vizinho, não cortaria relações nem iria impor sanções econômicas, por avaliar que isso prejudicaria o povo venezuelano. Na entrevista deste domingo, 10, o presidente afirmou que cabe a eles “cuidarem” de Maduro.
“Eu vou cuidar do Brasil, o Maduro cuida dele, o povo venezuelano cuida do Maduro, e eu cuido Brasil. E vamos seguir em frente. Porque também não posso ficar me preocupando. Ora brigar com a Nicarágua, ora brigar com a Venezuela, ora brigar com não sei com quem. Tenho é que tentar brigar para fazer esse país dar certo”, disse.
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