Opinião | Nikki Haley foi uma ilusão — que acaba de desvanecer

Principal adversária de Donald Trump nas primárias do partido Republicano sofreu mais um revés esta semana com a derrota em New Hampshire

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Por Frank Bruni

Nikki Haley era perfeita para New Hampshire; New Hampshire era perfeito para ela.

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Eu não parei de ouvir essa frase, ler essa frase, conforme vários observadores da política transformaram um mito em mantra, persuadindo a si mesmos a respeito da potência dela e da vulnerabilidade de Donald Trump não apenas no Granite State, mas além. Eles quiseram muito acreditar que o controle do ex-presidente sobre o Partido Republicano poderia estar afrouxando. Estavam desesperados para certificar-se de que ele não retornaria à Casa Branca.

Então uma narrativa ilusória tomou forma: os excêntricos eleitores de New Hampshire se oporiam aos eleitores de Iowa e apoiariam Haley. Os independentes sobrepujariam-se aos minions trumpistas. Haley marcaria uma vitória incômoda e então, por toda a terra embriagada de Trump, os eleitores subitamente se dariam conta de que tinham uma alternativa, reconheceriam de repente as pesquisas que mostram Haley com mais chance que Trump de vencer uma disputa direta contra o presidente Joe Biden. Os eleitores desenlouqueceriam. E do outro lado dessa epifania brilhava Haley, com sua juventude, suas raízes étnicas e seu gênero dando nova vitalidade ao Partido Republicano. Uma nova imagem. Um novo início.

Que ilusão adorável — que acaba de se despedaçar. Os resultados da noite da terça-feira, quando Trump complementou sua vitória imponente no caucus de Iowa com uma vitória convincente na primária de New Hampshire, não deixam a Haley nenhum caminho plausível à indicação republicana para a disputa presidencial, a não ser que algo extraordinário aconteça. O cenário no qual ela deveria ter superado Trump pode agora ser visto pelo que sempre foi: a mais recente de muitas ficções nas quais aqueles de nós que temem, com razão, pela capacidade da democracia americana sobreviver a Trump buscaram consolo.

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Nikki Haley discursa após derrota para Donald Trump em New Hampshire.  Foto: NYT / The New York Times

Nós tentamos nos convencer de que a investigação de Robert Mueller ou o primeiro impeachment de Trump ou seu segundo impeachment o deteriam. Nós tentamos nos convencer de que o trabalho metódico da comissão parlamentar que investigou o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos selaria sua desgraça política. Nós tentamos nos convencer de que seus rompantes estavam finalmente violentos demais, seu temperamento vulcânico demais, suas mentiras ultrajantes e adornadas demais.

Haley floresceu no contexto dessas narrativas tranquilizadoras. Era a nave das nossas esperanças. Como resultado, nós promovemos seus desempenhos em debates de decentes para deslumbrantes. Certas vezes demos tanta importância ao seu crescimento nas pesquisas quanto à fatalmente distante posição que ela permanecia atrás de Trump. A dificuldade em aceitar o contínuo encanto dos eleitores republicanos em relação a Trump transformou-se numa disposição em aceitar que os eleitores ansiavam secretamente por alguém como ela.

Mas a evidência jamais se sustentou. Certamente Haley levantou baldes de dinheiro. Assim como Ron DeSantis — do mesmo tipo de republicanos, os que tinham perdido controle do partido em 2016. Sim, ela superou expectativas no passado tornando-se governadora de um Estado profundamente republicano que não parecia terreno fértil para uma pioneira como ela. Mas Haley não estava concorrendo com alguém como Trump na época. Não estava lidando com nada parecido com o movimento MAGA.

Na noite da terça-feira, Haley maquiou com alegria e confiança sua derrota em New Hampshire, classificando a margem entre ela e Trump — às 7h30 da quarta-feira, com cerca de 90% dos votos contados, Haley tinha 43,2%, contra 54,5% de Trump — como um triunfo e uma razão para sua pré-campanha continuar pressionando. Haley escarneceu de especialistas que, segundo ela disse a apoiadores em um comício em Concord, NH, estavam “entusiasmadíssimos afirmando que a disputa acabou”.

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“Bem”, continuou ela, “eu tenho uma notícia para todos eles: New Hampshire é a primeira (prévia republicana) no país, não a última”. Na verdade, Iowa é a primeira, New Hampshire é provavelmente sua batalha final, um Estado cujas regras específicas de primárias republicanas — que permitiram votos de eleitores não republicanos, que a escolheram majoritariamente — lhe deram uma chance melhor talvez do que em qualquer outro lugar.

Haley falou na noite da terça-feira sobre haver “dúzias de Estados por vir”. Poucos, se é que há algum, parecem tão ideais quanto New Hampshire pareceu. Em seu Estado-natal, Carolina do Sul, que votará daqui a um mês, pesquisas mostram-na mais de 25 pontos porcentuais atrás de Trump entre os republicanos. Ficarei surpreso se ela ainda estiver concorrendo quando chegar a vez dessa disputa.

Trump passará os próximos dias gabando-se de seus triunfos consecutivos em Iowa e New Hampshire: nenhum candidato presidencial republicano que venceu em ambos os Estados jamais perdeu a indicação do partido.

Trump começou a se vangloriar nos pronunciamentos de vitória, na noite da terça-feira. “Ela tinha que ganhar”, disse ele a apoiadores em Nashua, NH, referindo-se a Haley. “Ela perdeu feio”. Ele irradiou zombarias sobre a adversária e então cedeu o microfone para Vivek Ramaswamy, para que alguém pudesse irradiar ainda mais escárnio. Eles são como uma dupla dinâmica de pesadelos, Batman e Robin em versão MAGA; me dão arrepios.

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Mas ainda que New Hampshire possa muito bem garantir que Trump levante a bandeira de seu partido na eleição geral, a primária no Estado também lhe deu motivo para se preocupar com seu desempenho daqui em diante. A intensidade do voto anti-Trump ficou clara nesse resultado. E os eleitores não declarados que favoreceram Haley comportam-se, pode-se argumentar, da mesma maneira que os eleitores indecisos capazes de definir uma eleição geral.

Trump certamente desejava uma vitória ainda mais assimétrica sobre Haley, e a maneira que vários ocupantes de cargos eletivos republicanos e ex-adversários de primárias enfileiraram-se atrás dele no último fim de semana criou essa possibilidade. Assim como o fato de que Trump concorre, para sermos honestos, quase como incumbente.

Donald Trump deixa o palco após discurso de vitória em New Hampshire. Foto: AP / Matt Rourke

Mas Trump não atendeu certas expectativas, e não foi só isso que o fez parecer um pouco titubeante. Conforme a terça-feira se aproximava, suas sempre bizarras digressões foram ficando ainda mais excêntricas, conforme Haley apontou acidamente em declarações aos seus apoiadores. “Outro dia Donald Trump me acusou de não fornecer segurança suficiente ao Capitólio no 6 de Janeiro”, disse ela, referindo-se ao fato do ex-presidente tê-la confundido com Nancy Pelosi. “Bem, faz muito tempo que eu defendo testes de aptidão mental para políticos com mais de 75 anos.”

Haley sabe ser incisiva. Nós não tentamos nos convencer de uma fábula sobre isso. Mas em nosso desejo de que ela representasse uma ameaça real para Trump e transformasse as primárias republicanas em uma disputa real, nós com frequência superestimamos suas capacidades e subestimamos suas falhas, encobrindo baboseiras que brotam de seus lábios, desconsiderando o quão dissimulada ela pareceu para muitos eleitores, que a viram pendendo para todo lado ao longo dos anos, sua ambição constante mas com princípios a qualquer disposição.

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Haley não foi uma pré-candidata espetacularmente feroz. Foi adequada, competindo para liderar um partido tão absolutamente prisioneiro de Trump, tão completamente dominado por ele, que adequado jamais seria o suficiente. E nossa relutância em lidar com isso refletiu uma relutância ainda mais persistente: entender que Trump não é um fenômeno prestes a se dissipar, uma febre prestes a ceder. Trump foi o porta-estandarte de seu partido em 2016 e 2020 e tudo indica que será o porta-estandarte de seu partido em 2024.

Haley lutou com grande energia. Mas acho que ela nunca teve nenhuma chance. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Frank Bruni

Opinião, New York Times

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