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‘No começo, me arrependi’, diz imigrante separada do filho nos EUA

Hondurenha viaja durante 15 dias de ônibus e carro até ser presa e separada do filho de 7 anos na fronteira com o México

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Por Cláudia Trevisan, EL PASO e TEXAS

EL PASO, TEXAS - Na última vez em que Rosa viu seu marido, estava grávida de seis meses. Antes de presenciar o nascimento de seu primeiro filho, ele imigrou de maneira ilegal para os EUA e passou a viver em Nova York, onde trabalha na cozinha de um restaurante. No fim de maio, a hondurenha e o filho de 7 anos deixaram seu país para se unir a ele. Depois de uma viagem de 15 dias de ônibus e carro, os dois atravessaram a fronteira do México com os EUA e foram pegos pela imigração.

A brasileira Wesliane (esquerda), separada do filho de 14 anos, e a hondurenha Rosa, separada do filho de 7, ficaram presas juntas e foram libertadas no mesmo dia Foto: Cláudia Trevisan / Estadão

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“No começo eu me arrependi e senti culpa por ter trazido meu filho tão pequeno. Fiquei com medo de ele pensar que eu o tinha abandonado. Agora, sei que logo vou estar com ele e meu marido”, disse, em meio ao choro misturado com um sorriso. Mãe aos 18 anos, Rosa agora tem 26. 

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Depois da Guatemala e de El Salvador, Honduras é o país de origem de muitos dos que arriscam a vida na travessia do México para os EUA, sozinhos ou com seus filhos. Em 2014, milhares de crianças e adolescentes da região chegaram ao território americano desacompanhados, fugindo da violência e da pobreza. Milhares de outros fizeram o mesmo trajeto com o pai, a mãe ou ambos.

Na época, a administração Barack Obama passou a prender os adultos e os filhos juntos, por tempo indeterminado. Por um curto prazo, a política reduziu o fluxo de famílias que chegavam à fronteira, mas logo ele voltou a crescer, afirmou Ruben García, fundador de três abrigos para recepção de imigrantes em El Paso. Entre eles, a Casa Vides, para onde Rosa e Wesliane foram depois de serem libertadas.

“Trabalho há 40 anos com imigrantes e nunca vi nada parecido ao que vimos agora: uma política deliberada de retirar crianças de suas mães ou pais”, disse García. Segundo ele, a imigração dos EUA separava famílias havia anos, mas a prática atingia apenas os adultos. “Se chegasse aqui uma família com pai, mãe e filhos de 20, 19, 10 e 8 anos, por exemplo, o pai e os filhos com mais de 18 anos eram presos, enquanto a mãe era liberada com os filhos menores.”

Diante da reação negativa da opinião pública, o presidente Donald Trump anunciou há dez dias o abandono da política de separação de crianças e adolescentes de seus pais. Mas não definiu de maneira clara como ocorreria a reunificação dos que já haviam sido vítimas dessa prática, entre os quais Rosa, Wesliane e seus filhos. 

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Do início de maio ao dia 20 de junho, pelo menos 2.300 menores foram enviados a abrigos em diferentes Estados americanos, enquanto seus pais ou mães eram encarcerados em prisões federais.

Até um ano e meio atrás, era raro ver brasileiros entre os imigrantes que chegavam às três casas para imigrantes dirigidas por García. Desde então, eles são cada vez mais comuns. “Muitos chegam com filhos e dizem estar fugindo de dificuldades econômicas.” Uma brasileira que se uniu ao filho depois de nove meses e um pai recém-chegado com o filho estavam na quinta-feira na Casa Anunciação, também dirigida por Garcia, mas não concordaram em dar entrevistas.

Trump disse que acabaria com a separação familiar, mas manteria a política de “tolerância zero”, pela qual todos os adultos que cruzavam a fronteira de maneira ilegal eram processados criminalmente. De acordo com García, isso é impraticável, porque o governo não tem estrutura para manter famílias detidas por longos períodos. “Na semana passada, eles libertaram 400 pessoas, só em El Paso. Nesta semana, serão outros 400.” 

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