Costumava ser de conhecimento comum — não apenas entre formuladores de políticas e economistas, mas também entre estudantes do ensino médio com conhecimento de história — que tarifas são uma péssima ideia. A expressão “empobreça seu vizinho” significava algo para pessoas comuns, assim como os nomes do senador Reed Smoot e do representante Willis Hawley. Os americanos entendiam amplamente o quanto a tarifa deles de 1930, juntamente com outras medidas protecionistas e isolacionistas, fez para transformar uma crise econômica global em outra guerra mundial. Treze presidentes em sequência praticamente juraram nunca repetir esses erros.
Até Donald Trump. Até ele, nenhum presidente dos EUA foi tão ignorante das lições da história. Até ele, nenhum presidente dos EUA foi tão incompetente ao colocar as próprias ideias em prática.
Essa é uma conclusão que os mercados de ações parecem ter tirado enquanto despencavam após o golpe triplo de Trump: primeiro, ameaças tarifárias contra os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, significando custos muito mais altos; segundo, prorrogações mensais repetidas duas vezes para algumas dessas tarifas, significando um ambiente de negócios de previsibilidade zero; finalmente, sua admissão tácita, a Maria Bartiromo da Fox News, de que os Estados Unidos podem entrar em recessão este ano, e que este seria um preço que ele está disposto a pagar para fazer o que ele chama de uma “grande coisa”.
Em suma, um presidente obstinado, errático e descuidado está preparado para arriscar tanto os EUA quanto a economia global para fazer valer seu ponto de vista ideológico. Isso vai acabar mal, especialmente em um governo sem barreiras, composto por uma equipe de facilitadores e bajuladores.
O que mais vai acabar mal, pelo menos para o governo? Vamos fazer uma lista.

O ocaso de Elon Musk
O Departamento de Eficiência Governamental vai acabar mal. Não é um departamento, nem é eficiente — e “eficiência governamental” é, de acordo com o projeto madisoniano, um oxímoro. Uma força de trabalho da Receita Federal arrasada não vai diminuir seus impostos: vai atrasar sua restituição.
Demissões em massa de milhares de funcionários federais não resultarão em uma força de trabalho mais produtiva. Isso significará uma década de litígios e bilhões de dólares em honorários advocatícios. Eliminações de grande destaque de gastos desnecessários (alguns reais, outros não) não farão diferença nos gastos federais. Eles mascararão os condutores intocáveis da dívida americana de US$ 36 trilhões: Medicare, Medicaid, Previdência Social e defesa.
Alianças americanas em risco
As ameaças aos nossos aliados acabarão mal. Talvez pareça engraçado a alguém trollar Justin Trudeau, apenas uma vez, como “governador” do “grande estado do Canadá”. É grotesco, horripilante e idiota inventar pretextos falsos para embarcar em uma guerra comercial implacável contra nosso vizinho mais amigável — principalmente porque, de repente, isso impulsionou a sorte política do sucessor de Trudeau, Mark Carney, às custas do líder conservador, Pierre Poilievre.
É razoável tentar expulsar as empresas chinesas do Canal do Panamá. Mas ameaçar anular um tratado ratificado pelo Senado para recuperar o canal à força é algo que está fadado a semear uma desconfiança permanente em relação aos Estados Unidos. É intrigante contemplar a compra legal e voluntária da Groenlândia. É putinesco ameaçar, em um discurso ao Congresso, tomar a Groenlândia “de um jeito ou de outro”, ameaçando assim o aliado da Otan que é o soberano do território.
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A volta do militarismo alemão
A busca de contato com a extrema direita europeia acabará mal. Não menos importante entre os problemas com partidos como a AfD da Alemanha ou o Reagrupamento Nacional da França é o fato de eles odiarem tudo que é americano: a cultura vulgar, os fast foods revoltantes, o capitalismo voraz e as pretensões imperiais. Talvez a maior conquista do século XX tenha sido a destruição, tanto física quanto espiritual, do militarismo alemão e a ameaça que ele representava para os muitos vizinhos da Alemanha.
Mas uma versão dos Estados Unidos que se afasta da Otan enquanto empodera esses partidos antiamericanos não alcançará maior segurança para ninguém, incluindo os próprios americanos. Isso levará a uma Alemanha mais uma vez liderada por fascistas e disposta a se armar com armas nucleares.
Rússia e China mais fortes
As negociações com a Ucrânia acabarão mal. Se o governo Trump quiser dar um fim duradouro à guerra, faria tudo o que pudesse publicamente para apoiar Kiev, incluindo uma reunião amigável com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mais rapidez na entrega de armas, negociações de uma garantia de segurança de longo prazo dos EUA e filiação à União Europeia. Ele também faria tudo o que pudesse para se opor a Moscou, incluindo apreender os ativos congelados da Rússia para financiar as compras militares da Ucrânia. Então, usaria essa alavancagem para fazer Zelenski aceitar um acordo envolvendo a perda de território ucraniano.
O que a equipe Trump conquistou é o oposto: uma Rússia que vê ainda menos motivos para aceitar um acordo, uma Europa que vê mais motivos para seguir seu próprio caminho, uma China que acredita que os EUA acabarão cedendo e uma Ucrânia mais uma vez traída que terá ainda menos motivos para confiar nas garantias internacionais de sua segurança.

E isso não é tudo: a prisão no domingo e a ameaça de deportação de Mahmoud Khalil, um portador de green card e ativista pró-palestino na Universidade Columbia, pode até fazer com que os defensores das liberdades civis pró-Israel defendam os direitos dele enquanto o transformam em um mártir na extrema esquerda.
Mas o padrão de Trump é claro. Ele ignora a Terceira Lei de Newton — aquela que toda ação tem uma reação igual e oposta. Isso quer dizer, na prática, que o governo agora colherá precisamente aquilo que deveria evitar.
Os críticos de Trump são sempre rápidos em ver os lados sinistros de suas ações e declarações. Um perigo ainda maior pode estar na natureza caótica de sua formulação de políticas. A democracia pode morrer na escuridão. Pode morrer no despotismo. Sob Trump, é igualmente provável que morra pela burrice. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL