Nobel da Paz: De Hitler a Michael Jackson, veja alguns candidatos inusitados ao prêmio

Em seus quase 120 anos de existência a premiação tem sua cota de candidaturas pouco prováveis, exageradas ou claramente absurdas

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Por Redação

OSLO - Em tempo de guerras, especula-se que o Nobel da Paz, marcado para esta sexta-feira, 11, pode premiar organizações humanitárias em zonas de conflito, símbolos da ordem multilateral, como o secretário-geral da Nações Unidas, António Guterres, ou simplesmente guardar a medalha e não entregar para ninguém.

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A escolha este ano se dará entre 286 candidatos. O Comitê manterá essa lista em segredo pelas próximas cinco décadas, mas as milhares de pessoas aptas a fazer indicações para o Nobel da Paz podem deixar escapar nomes sugeridos antes desse prazo. E, ao longo da história, nomeações inusitadas tem sido reveladas.

É o caso, por exemplo, de Adolf Hitler, que foi cogitado para o Nobel da Paz pouco antes da 2.ª Guerra estourar. Apresentado como “o príncipe de Paz na Terra”, ele ilustra como é fácil fazer uma indicação ao prêmio mais prestigioso do mundo.

Do Führer até o astro pop Michael Jackson, em seus quase 120 anos de existência o Nobel da Paz tem sua cota de candidaturas pouco prováveis, exageradas ou claramente absurdas. Veja algumas delas abaixo.

Norwegian Nobel Institute, anuncia o Nobel da Paz nesta sexta-feira, 11.  Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Hitler

Em janeiro de 1939, o social-democrata sueco Erik Brandt sugeriu ao Comitê Nobel norueguês que concedesse o prêmio a Hitler, alegando seu "ardente amor pela paz", sendo que a Alemanha nazista havia acabado de anexar a Áustria e invadir regiões da então Checoslováquia conhecidas como Sudetos.

A carta de Brandt provocou um escândalo na Suécia, onde muitos não perceberam o sarcasmo. Brandt explicou que queria protestar contra a nomeação do então primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, artífice dos acordos de Munique de 1938, pelos quais a Checoslováquia foi cedida em parte aos alemães.

A proposta finalmente foi retirada, mas Hitler permanece no registro de candidatos ao Nobel. Essa história "mostra o quão perigoso pode ser usar a ironia em um ambiente político acalorado", disse o historiador Asle Sveen.

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Stalin e Mussolini

O caso também ilustra a facilidade com que uma pessoa ou organização, quaisquer que sejam seus méritos, pode competir pelo prêmio.

O Comitê Nobel aceita todas as propostas. As únicas condições são que elas sejam enviadas antes da data-limite de 31 de janeiro e que provenham de uma das milhares de pessoas com direito a fazê-lo, como parlamentares e ministros de todos os países, ex-laureados, alguns professores universitários e/ou membros atuais ou passados do Comitê Nobel.

"Há tantas pessoas que têm direito a propor um nome que não é difícil ser indicado", disse o secretário do comitê, Olav Njolstad.

Em 1935, Benito Mussolini foi proposto - então, sem ironias - por acadêmicos alemães e franceses meses antes de a Itália invadir a Etiópia.

Josef Stalin, um dos vencedores da 2.ª Guerra, também foi proposto em duas ocasiões, em 1945 e 1948. Uma vez recebidas as indicações, apenas algumas delas passam à lista resumida que é examinada pelo comitê e seus assessores.

"Nem Hitler, nem Stalin, nem Mussolini foram considerados seriamente para o prêmio Nobel da Paz", disse o historiador Geir Lundestad, ex-secretário do comitê. "O que mais me surpreende é que muitos ditadores de todo o mundo se abstiveram de ser nomeados."

Como o número de indicações explodiu nas últimas duas décadas, a ponto de superar os 300 aspirantes por ano atualmente, não surpreende que haja algumas surpresas. "Uma ou duas" candidaturas se distinguem por seu lado louco "em intervalos regulares", destacou Njolstad.

Michael Jackson

A lista de candidatos é mantida em sigilo durante pelo menos 50 anos, mas uma pessoa ou instituição que lança uma candidatura pode divulgar sua proposta.

Sendo assim, sabe-se que Michael Jackson entrou na corrida pelo Nobel da Paz em 1998.

"Os parlamentares romenos que propuseram Michael Jackson julgaram esta nomeação bastante séria, mas tampouco foi estudada pelo comitê", disse Lundestad.

O caráter insólito de uma candidatura depende da visão e dos tempos, e os méritos de um indivíduo podem desaparecer com os anos.

Fifa

No entanto, algumas candidaturas provocam reações de surpresa, como a do sérvio Slobodan Milosevic, mais tarde julgado por genocídio, ou da Federação Internacional de Associações de Futebol (Fifa), proposta em 2001.

A bola de futebol "permitiu estabelecer boas relações entre os povos", argumentou o então deputado sueco por trás dessa candidatura.

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Não foi precisamente uma ideia nova, já que o francês Jules Rimet, considerado o "pai" da Copa do Mundo de Futebol, também tinha sido proposto em 1956, lembrou o jornalista Antoine Jacob, autor de Histoire du Prix Nobel (História do Prêmio Nobel).

"Os nomes de artistas aparecem regularmente, mas é uma tendência mais recente", disse Njolstad.

Seu antecessor na direção do Nobel, Lundestad, já tinha mencionado em 2001 a ideia de que estrelas pop envolvidas em grandes causas - como Bob Geldof, Bono Vox e Sting - poderiam algum dia ser premiadas.

Ex-presidente americano Donald Trump foi indicado ao Nobel da Paz em 2019. Foto: Matt Slocum/Associated Press

Donald Trump x Greta Thunberg

Em 2019, a lista de indicados incluiu duas figuras públicas com pensamentos antagônicos, que vinham trocando farpas publicamente: o ex-presidente americano, Donald Trump, e a jovem sueca Greta Thunberg, representante da luta mundial contra as mudanças climáticas.

A ativista, na época com 16 anos, foi eleita a pessoa do ano pela revista Time naquele ano, mas o Nobel coroou o então primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, por seus esforços em “alcançar a paz e a cooperação internacional”.

“É bastante fácil ser nomeado”, disse Lundestad. “É muito mais difícil ganhar”, acrescentou. / AFP

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