Noboa, Lacalle Pou e Milei: direita lidera ranking de popularidade na América do Sul

Lula aparece em quarto lugar em meio à recente queda na aprovação do governo

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Foto do author Jéssica Petrovna
Atualização:

Quando assumiu a presidência do Equador aos 36 anos, Daniel Noboa se deparou com um barril de pólvora. A violência não deu trégua depois da eleição marcada pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio e culminou com a deflagração de um conflito armado interno contra as gangues. A política linha dura tem encontrado respaldo nas pesquisas e o político desponta com a melhor avaliação entre os líderes da América do Sul, ranking que tem no topo líderes da direita e centro-direita.

Com imagem positiva para 62% dos equatorianos e negativa para 31%, Noboa lidera a classificação da CB Consultora, empresa argentina de análises e pesquisas. Ele é seguido pelo uruguaio Luis Lacalle Pou (54% contra 41%) e pelo argentino Javier Milei (51% contra 45%). Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa o quarto lugar, sendo bem avaliado por 50% dos brasileiros e mal avaliado por 47%.

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“Cada país tem uma realidade única, mas no caso de Daniel Noboa e Javier Milei são presidentes recém-eleitos, então existe a grande possibilidade de que eles ainda estejam na fase da lula de mel com o eleitorado”, avalia Cristian Buttié, diretor da CB Consultora, em entrevista ao Estadão.

No Uruguai, chama atenção que Luis Lacalle Pou tem conseguido manter a imagem positiva na reta final do mandato. Como o país não permite reeleição e vai escolher um novo presidente em 27 de outubro, isso indica que o líder da centro-direita deve continuar sendo um protagonista da política local, mesmo após deixar a presidência, avalia Buttié.

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Lula, por sua vez, tem perdido popularidade, como mostra a série mais recente de pesquisas brasileiras, e aparece entre os “regulares” no ranking da consultora argentina. Junto com o petista estão Santiago Peña, do Paraguai, Gabriel Boric, do Chile, e Nicolás Maduro, da Venezuela.

As piores avaliações são do boliviano Luis Arce, do colombiano Gustavo Petro e da peruana Dina Boluarte.

As pesquisas foram realizadas de forma simultânea e online em 10 dos 12 países do continente no período entre 5 a 10 de março, com uma média de 1019 a 1463 entrevistados por país. A margem de erro é de três a quatro pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. A metodologia usada foi a de coleta de dados online, com questionários digitais distribuídos por meios online que permitiram aos investigadores recolher informação mais rapidamente e analisá-la de forma otimizada.

Equador e a popularidade da política ‘linha dura’ na segurança

No Equador, o ano começou com rebelião nos presídios, terror nas ruas e a invasão de um estúdio de TV por criminosos. A onda de violência, segundo analistas, foi uma reação do crime organizado ao plano de segurança do novo governo. E a resposta foi a guerra contra as gangues, declarada em janeiro. Desde então, vigora o Estado de exceção, com toque de recolher e militarização da segurança.

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A polícia tem divulgado diariamente nas redes sociais imagens de prisões, apreensões de armas e drogas e operações em presídios. No mês seguinte ao decreto, dados do governo apontaram uma queda de 41% nos homicídios em comparação com o mesmo período de 2023. Até o começo de março, o número de prisões passava de 11 mil.

A política alarmou organizações de direitos humanos, preocupadas com violações e efeitos a longo prazo, mas impulsionou a imagem de Daniel Noboa. No país que registrou 44 homicídios por 100 mil habitantes no ano passado, índice mais alto de toda América do Sul, o presidente “linha dura” chega a ter 80% de aprovação a depender da pesquisa.

Daniel Noboa entrega armas para Polícia em Quito, Equador.  Foto: José Jácome/ EFE

Uruguai e a tentativa de fazer um sucessor

No Uruguai, por outro lado, Luis Lacalle Pou tem conseguido manter a avaliação positiva apesar da segurança - área em que o governo teve o pior desempenho, segundo pesquisas locais. A memória da pandemia, quando o governo chegou a ser bem avaliado por 6 em cada 10 uruguaios, ainda parece surtir efeito: a saúde é a área em que Lacalle Pou se sai melhor, à frente - e bem a frente - da economia.

Sem a possibilidade de reeleição, Lacalle Pou tentará fazer um sucessor. E é aí que o levantamento traz uma má notícia para o líder da centro-direita: o atual presidente aparece em segundo lugar, atrás de Yamandú Orsi. Favorito para representar Frente Ampla, a oposição de esquerda, ele tem quase 60% de avaliação positiva e apenas 22% negativa. Alvaro Delgado, que provavelmente será o candidato do governista Partido Nacional está em terceiro (45% a 38%).

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Em paralelo, a pesquisa de intenção de voto realizada pela Equipos Consultora, do Uruguai, aponta que Orsi tem vantagem em todos os possíveis cenários para as eleições de outubro. E, se ele for mesmo confirmado candidato, as chances de a Frente Ampla, partido do ex-presidente Tabaré Vázquez, voltar ao poder aumentam.

Ou seja, mesmo bem avaliado, Lacalle Pou pode não conseguir eleger um sucessor no país onde a política tem sido marcada pela alternância entre blocos de esquerda e direita.

Da esquerda para direita: Javier Milei, Daniel Noboa e Luis Lacalle Pou. Foto: EFE

‘Lua de mel’ de Javier Milei na Argentina pode estar perto do fim

Com o discurso contra o sistema - ou a “casta”, como costuma dizer” - Javier Milei conquistou uma vitória expressiva na Argentina e tentou usar o respaldo das urnas para avançar com o seu “tratamento de choque” para a crise. As medidas recessivas colocaram um freio na inflação mensal em janeiro e fevereiro, mas o índice acumulado segue em disparada e bateu 276%.

Em algumas pesquisas recentes, a imagem negativa de Milei já supera a positiva. Embora esse ainda não seja o caso no levantamento em questão, Cristian Buttié alerta que a tendência é de piora na avaliação do presidente libertário. “Quando começou o governo, Milei tinha uma imagem positiva para 55% dos argentinos e, três meses depois, caiu para 51%, ou seja, há uma tendência negativa”, afirma.

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Buttié destaca que, até aqui, o presidente não tem conseguido dar repostas de curto prazo para os problemas que mais preocupam os argentinos: a inflação e a segurança - como se viu com a onda de violência em Rosário. Mas a joga a culpa para os governos anteriores, argumento que convence os seus apoiadores mais fiéis.

“Aquele setor que votou em Milei motivado pela esperança aceita que a situação é ruim, mas considera que vai melhorar e que Milei está tomando as medidas necessárias para isso”, justifica. “Até agora, a imagem de Milei está sendo corroída pouco a pouco, mas ainda não vemos o negativo superar o positivo”.

Lula e a queda nas pesquisas

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Depois de vencer uma disputa acirrada contra Jair Bolsonaro, Lula chegou a ser aprovado por 60% dos brasileiros (Genial/Quaest, agosto de 2023). Este mês, no entanto, três dos principais institutos de pesquisa do País - Quaest, Atlas/Intel e Ipec - apontaram para a mesma tendência: a imagem positiva do governo petista caiu ao passo em que a negativa subiu.

Os números foram puxados pela percepção sobre a economia, impactada pela inflação dos alimentos, mas também por falas desastrosas de Lula, como a comparação entre a guerra em Gaza e o Holocausto. A pesquisa Quaest mostrou que, para 60% dos entrevistados, o petista “exagerou”, índice ainda maior entre os evangélicos (69%), justamente o público em que a perda popularidade do presidente foi mais evidente.

Lula em reunião com ministros no Palácio do Planalto, 18 de março de 2024. Foto: Wilton Junior / ESTADAO CONTEUDO

Segundo a mesma pesquisa, Lula tem aprovação de 51% dos brasileiros e desaprovação de 46% - números que estão em linha com o ranking argentino, com leve variação de um ponto percentual, dentro da margem de erro.

Em resultados ainda piores para o governo, a Atlas Intel aponta que 47% tem uma imagem positiva da gestão petista e 46%, negativa. Já no levantamento divulgado este mês pelo Ipec, Lula aparece com 33% de “ótimo e bom”, 32% de “ruim ou péssimo” e 33% de regular.

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Para além dos problemas do governo, a análise das pesquisas brasileiras indica que o nível de divisão da sociedade se apresenta para o petista como uma espécie de teto.

Percepção que foi reforçada pelos argentinos: “No caso de Lula, o resultado é muito coincidente com o segundo turno”, afirma Buttié - o petista teve 50,90% dos votos válidos e derrotou Jair Bolsonaro (49,10%). “Há uma divisão da sociedade brasileira, o muito bom e o muito ruim estão em condições semelhantes. É preciso observar como isso evolui, mas há uma espécie de distribuição da imagem do presidente”, acrescenta.

Essa foi a primeira vez que a consultora usou a metodologia validada em pesquisas presidenciais dentro e fora da Argentina para fazer a classificação das lideranças regionais. Por isso, não é possível estabelecer tendências dentro do ranking.

Lula ainda tem a melhor avaliação entre os políticos brasileiros, seguido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (47% de imagem positiva e 38% de imagem negativa) e do seu vice, Geraldo Alckmin (42% a 51%), segundo a classificação da CB Consultora.

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Jair Bolsonaro, por sua vez, é bem visto por 37% dos brasileiros e mal visto por 59%. Inelegível e na mira da Polícia Federal, ele aparece na faixa dos “regulares”, atrás ainda dos governadores Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Romeu Zema, Minas Gerais.

Popularidade entre líderes sul-americanos

Ao contrário do presidente brasileiro, o conservador Santiago Peña foi eleito no Paraguai por uma ampla margem e tem perdido popularidade em um cenário político conturbado. Ele aparece em quinto lugar no ranking com uma imagem positiva entre 48% dos paraguaios e negativa entre 45%.

A senadora da oposição progressista Kattya González, destituída no mês passado em um processo com queixas de irregularidades, desponta como figura mais popular do país.

Em Santiago, o jovem esquerdista Gabriel Boric acaba de completar dois anos no Palácio de La Moneda, em sexto lugar no ranking, sendo mais reprovado que aprovado pelos chilenos. Como mostrou o Estadão, um descompasso entre a agenda do governo e as demandas da população, como a preocupação com a segurança, tem contribuído para desgastar a imagem de líderes da esquerda sul-americana, como é o caso de Boric.

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Oito em cada dez chilenos afirmam que o crime piorou nesses dois anos, mostrou a consultora chilena Cadem. Ainda de acordo com o instituto, a segurança é apontado como principal motivo para rejeição ao presidente. Por outro lado, compromisso com o desenvolvimento social e com a juventude estão entre os motivos de aprovação.

No caso da Venezuela, Nicolás Maduro, que é candidato à reeleição, aparece com 45% de imagem positiva, mas perde para a líder opositora María Corina Machado, que tem 50% de aprovação. Apesar das promessas de eleições livres e justas, contudo, ela está impedida de ocupar cargos públicos pelos próximos 15 anos e tem denunciado uma “repressão brutal”.

Nos últimos dias, assessores de campanha foram detidos por acusações que envolvem a organização de protestos, tachados pelo regime como “ações desestabilizadoras”. O cerco levou a Casa Branca a reimpor sanções que haviam sido relaxadas a partir dos Acordos de Barbados, quando Maduro se comprometeu com eleições competitivas - o que indica que não vai cumprir.

Na Bolívia, o cenário político é conturbado pelo racha entre Luis e Arce e o seu ex-padrinho político Evo Morales. Um panorama publicado no fim do ano passado pelo Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag) apontava o confronto como maior preocupação entre os bolivianos - bem maior que a segurança, em segundo lugar.

Ainda na esquerda sul-americana, Gustavo Petro aparece com uma das piores avaliações do ranking de presidentes. No lugar da prometida “Paz Total”, o país tem visto a criminalidade aumentar. Além disso, o governo enfrentou dificuldades no Congresso para aprovar reformas como a trabalhista e a previdenciária.

No caso peruano, a crise parece ser maior que a avaliação de Dina Boluarte em si - a pior de toda América do Sul. Vice na chapa de Pedro Castillo, assumiu a presidência depois que ele foi preso por tentar dar um golpe de Estado e teve desde o início a legitimidade contestada, com manifestações que pediam por novas eleições. Boluarte até sinalizou que cederia aos protestos, mas não houve consenso para chamar a votação e ela segue no cargo.

Mas o país, que teve seis presidentes em quatro anos, chama atenção pela baixa avaliação dos políticos como um todo. O economista conservador Hernando de Soto, que é o melhor colocado, tem 42% de aprovação e 41% de desaprovação. Ele é seguindo por Boluarte, que tem uma imagem positiva para 28% dos peruanos e negativa para 68%. Outro nome conhecido da política local, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, é rejeitada por 73% dos eleitores.

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