KIEV - A Rússia lançou seu maior ataque com mísseis e drones contra a Ucrânia desde janeiro, atingindo alvos em todo o país com diversas armas, entre elas mísseis hipersônicos, os mais novos no arsenal de Moscou.
Encerrando semanas de relativa calma em Kiev e em outras cidades, os ataques mataram pelo menos onze pessoas em todo o país e feriram dezenas, cortaram a energia em várias áreas e danificaram três usinas elétricas, disseram autoridades ucranianas.
Os ataques incluíram seis dos novos mísseis hipersônicos conhecidos como Kinzhals, ou Daggers, os mais usados pela Rússia em uma única onda desde o início da guerra, um ano atrás, de acordo com a Força Aérea da Ucrânia.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que realizou um “ataque em massa de retaliação” contra alvos de infraestrutura ucranianos pelo que chamou de ataque terrorista na região de Bryansk, na Rússia, na semana passada.
Dos 81 mísseis disparados durante a noite e pela manhã, 47 atingiram alvos, disse a Ucrânia. Essa é uma proporção muito maior de acertos em ataques para mísseis disparados do que a Rússia alcançou em lançamentos nos últimos meses.
O presidente Volodimir Zelenski disse que a Ucrânia teve uma “noite difícil” com o “ataque em massa de foguetes” que foi uma tentativa de intimidar e aterrorizar. Escrevendo no Telegram, ele disse sobre as tropas russas: “Isso é tudo que eles podem fazer. Mas isso não vai ajudá-los. Eles não vão evitar a responsabilidade por tudo o que fizeram”.
O ataque de quinta-feira se destacou pelo amplo uso de mísseis Kinzhal, disse o porta-voz da Força Aérea da Ucrânia, Yurii Ihnat, à televisão ucraniana. A agência de inteligência militar da Ucrânia disse que a Rússia tem menos de 50 desses mísseis em seu arsenal, e os militares ucranianos disseram que seis foram disparados durante a noite. “Não me lembro de tantos Kinzhals disparados em um ataque durante esta guerra”, disse Ihnat.
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Dmitro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, afirmou em um post no Twitter que os ataques aéreos da Rússia antes do amanhecer “não tinham objetivo militar” e eram um exemplo de “barbárie russa”.
Ataque à usina nuclear
A usina nuclear de Zaporizhia está “sem energia”, segundo as autoridades ucranianas. As regiões de Kharkiv, no leste, e Odessa, no sul, foram as primeiras a sofrer bombardeios aéreos. A capital, Kiev, também sofreu com explosões, após mísseis caírem em vários pontos da cidade.
Desde outubro do ano passado, após vários reveses militares, a Rússia tem atingido as principais instalações ucranianas com mísseis e drones, cortando os serviços de água e eletricidade de milhões de pessoas, que ficaram sem aquecimento no inverno gelado.
A usina nuclear de Zaporizhzhia foi atingida e ficou sem fornecimento de energia. O funcionamento ocorre no momento por meio de geradores a diesel, disse a National Nuclear Power Company State Enterprise (Energoatom), operadora de energia nuclear do país. “A última ligação entre a usina nuclear ocupada de Zaporíjia e o sistema de energia ucraniano foi cortada”, afirmou.
De acordo com o The Guardian, o Energoatom informou que o quinto e o sexto reatores estão parados, e a energia elétrica necessária ao funcionamento da central é fornecida por 18 geradores a diesel, que têm combustível suficiente para 10 dias.
O chefe da agência nuclear das Nações Unidas emitiu um apelo apaixonado depois que os ataques cortaram temporariamente as linhas de energia externas da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pela Rússia, na Ucrânia, e a forçaram a mudar para geradores a diesel.
Foi a sexta vez que a usina teve que mudar para o fornecimento de energia de emergência desde o início da guerra, disse o funcionário Rafael Mariano Grossi. “Se permitirmos que isso continue repetidamente, um dia nossa sorte acabará”, disse ele, referindo-se à possibilidade de um acidente nuclear.
Ataque a civis
Cinco pessoas morreram em suas casas quando um foguete caiu em uma área residencial na região oeste de Lviv, na fronteira com a Polônia, e uma pessoa morreu na região de Dnipropetrovsk, no centro da Ucrânia, disseram autoridades locais.
Ao norte, na região de Kharkiv, perto da fronteira com a Rússia, 15 mísseis atingiram infraestruturas e um prédio residencial, disse o chefe da administração militar da região em sua conta no Telegram. Três pessoas também foram mortas em bombardeios russos na cidade de Kherson, no sul, disseram autoridades.
Na capital, Kiev, duas grandes explosões com uma hora de diferença feriram pelo menos dois moradores e enviaram uma nuvem de fumaça negra que se elevou do centro da cidade, sacudindo janelas e envolvendo carros em chamas. Pelo menos um míssil hipersônico parece ter atingido a capital, disse uma autoridade em Kiev.
“O inimigo lançou cerca de 15 tiros de bombardeio sobre a cidade e a região. Os ocupantes russos mais uma vez visaram uma infraestrutura crítica”, disse Oleg Sinegubov, governador da região de Kharkov.
De acordo com autoridades locais, edifícios residenciais também foram atingidos. O governador da região de Lviv, Maksim Kozitskii, disse que quatro pessoas morreram após um míssil ter atingido uma área residencial no distrito de Zolochivskii. Equipes de resgate estavam vasculhando os escombros, disse ele, sob os quais mais pessoas poderiam estar presas.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, relatou as explosões na capital ucraniana: “Explosões no distrito de Holosiivskyi da capital. Todos os serviços são direcionados ao ponto”, disse Klitschko nas redes sociais, referindo-se a uma área ao sul da cidade. Segundo o jornal The Guardian, 40% da população da capital está sem energia e, consequentemente, sem aquecimento nas casas.
Klitschko confirmou que houve também uma explosão no distrito de Svyatoshyn, reportando “duas vítimas”. Em uma postagem no Twitter, a porta-voz do presidente Volodymyr Zeleksnky, Iuliia Mendel, acrescentou que as vítimas ficaram apenas feridas.
Vídeos publicados por moradores nas redes sociais mostram o resultado dos bombardeios em várias áreas de Kiev. A estação de energia termoelétrica foi atingida por mísseis e é possível avistar a fumaça num dos registros feitos próximo ao local.
Em Kharkiv, as informações são passadas pelo governador da região, Oleg Synegubov: “O inimigo lançou cerca de 15 bombardeios contra a cidade e a região. Mais uma vez atacaram a infraestrutura crítica”, disse Synegubov, nas redes sociais.
Na região de Odessa, o governador Maksym Marchneko disse que “mísseis atingiram a infraestrutura de energia da região e danificaram edifícios residenciais” após um “ataque maciço de mísseis”. Na cidade de Zhytomyr, as autoridades relatam que a população está sem fornecimento de água.
O governador de Kharkiv especificou que, “de acordo com informações preliminares, um prédio residencial privado na região de Kharkov foi atingido”. Synegubov acrescentou que as informações sobre as vítimas e a escala dos danos ainda estavam sendo “esclarecidas”.
Autoridades de Kharkiv informaram, ainda, que a “infraestrutura de energia” foi atacada e que houve “problemas” com o fornecimento de eletricidade em partes da cidade.
O mesmo aconteceu na região de Odessa, onde o governador Marchneko esclareceu que “felizmente não houve vítimas”, embora fosse necessário adotar “restrições no fornecimento de energia elétrica”.
Os sistemas de defesa aérea foram ativados na região de Kiev, de acordo com a administração militar local. O governador da região ocidental de Khmelnitsky, Segiy Gamaliy, pediu aos moradores que “fiquem em abrigos” depois de alertar que “o inimigo está atacando a infraestrutura crítica do país”.
As sirenes de ataque aéreo apitaram durante horas por toda a Ucrânia, incluindo a capital, Kiev, onde os residentes foram sacudidos da cama por explosões. Não ficou imediatamente claro quantos mísseis tinham atingido alvos na capital, ou se os sons eram mísseis sendo interceptados por sistemas de defesa, que foram ativados em múltiplas regiões do país.
Inicialmente, os ataques visando a infraestrutura energética do país ocorriam semanalmente, mergulhando as cidades inteiras na escuridão. Synegubov disse que, “de acordo com informações preliminares, um edifício residencial privado na região de Kharkov foi atingido”. Ele acrescentou que as informações sobre as vítimas e a escala dos danos estavam sendo “esclarecidas”.
Na cidade de Kharkov, o prefeito Igor Terekhov afirmou que a “infraestrutura energética” foi atingida e que havia “problemas” com o fornecimento de energia elétrica em partes da cidade.
O mesmo aconteceu na região de Odessa, onde o governador esclareceu que “felizmente não houve vítimas”, embora “restrições ao fornecimento de energia elétrica” tivessem que ser adotadas.
Os sistemas de defesa aérea foram ativados na região de Kiev, de acordo com a administração militar local. O governador da região oeste de Khmelnitsky, Segiy Gamaliy, instou as pessoas a “ficarem em abrigos”, alertando que “o inimigo está atacando a infraestrutura crítica do país”.
As ferrovias ucranianas relataram quedas de energia em certas áreas. Cinco trens atrasaram em mais de uma hora e 10 trens atrasaram mais de 30 minutos.
Cortes preventivos de energia de emergência foram aplicados nas regiões de Kiev, Dnipropetrovsk, Donetsk e Odesa, disse o fornecedor DTEK. Klitschko diz que 15% dos consumidores de energia da capital estavam sem energia devido aos cortes de energia de emergência.
Mais explosões foram relatadas na cidade do norte de Chernihiv e na região ocidental de Lviv, bem como nas cidades de Dnipro, Lutsk e Rivne. A mídia ucraniana também noticiou explosões nas regiões ocidentais de Ivano-Frankivsk e Ternopil.
Ajuda internacional
Os ataques chegam ao País logo após a União Europeia prometer, nesta quarta-feira, 8, o financiamento de mais € 2 bilhões (mais de R$ 10 bilhões) para aumentar a produção e entrega de mísseis munições para a Ucrânia no enfrentamento aos ataques russos.
O anúncio foi feito pelo chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, após reunião de ministros da Defesa da UE, em Estocolmo, na Suécia. O encontro discutiu planos de aquisição conjunta de armas, com o objetivo de aumentar as entregas de munição à Ucrânia e reabastecer o que foi esgotado dos países do bloco. /AFP e AP
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