PUBLICIDADE

Novo reator norte-coreano aumenta temores sobre maior produção de plutônio

Um novo reator no principal complexo atômico da Coreia do Norte parece ter entrado em operação, oferecendo ao país uma potencial fonte de plutônio adicional para seu crescente arsenal nuclear, de acordo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)

PUBLICIDADE

Por Choe Sang-Hun

THE NEW YORK TIMES -No que pode vir a ser uma nova violação a sanções das Nações Unidas, um novo reator no principal complexo atômico da Coreia do Norte parece ter entrado em operação, oferecendo ao país uma potencial fonte de plutônio adicional para seu crescente arsenal nuclear, de acordo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo de monitoramento da ONU sobre energia nuclear.

PUBLICIDADE

Desde meados de outubro, a AIEA tem observado um fluxo de água mais forte saindo do sistema de resfriamento do novo reator de água leve (LWR), que a Coreia do Norte vinha construindo em Yongbyon, ao norte de Pyongyang, segundo declarou em um comunicado o diretor-geral da entidade, Rafael Grossi, na quinta-feira.

“A descarga de água morna indica que o reator atingiu criticidade”, afirmou Grossi. “O LWR, como qualquer outro reator nuclear, é capaz de produzir plutônio em seu combustível irradiado, que pode ser separado durante reprocessamento, portanto é causa de preocupação.”

Kim Jong un, à esquerda, e sua filha assistindo ao lançamento de teste de um míssil balístico intercontinental Hwasong-18 em um local não revelado na Coreia do Norte. Foto: Central de notícias da Coreia do Norte/AFP

As observações detalhadas na declaração de Grossi são outro forte indicativo de que a Coreia do Norte tem acelerado seu programa de armas nucleares enquanto negociações com os Estados Unidos permanecem estagnadas e o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se preocupa com outras crises ao redor do mundo, incluindo as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

O novo reator da Coreia do Norte viola resoluções do Conselho de Segurança da ONU que tornaram ilegais o programa nuclear do país, assim como seu desenvolvimento de mísseis balísticos. Mas o Conselho não tem sido capaz de impor novas sanções contra Pyongyang após testes recentes com mísseis balísticos porque China e Rússia vetaram as propostas.

Monitoramento

A AIEA não tem acesso direto a Yongbyon desde que a Coreia do Norte expulsou seus monitores das instalações, em 2009. Mas a agência da ONU, autoridades americanas e institutos de análise privados têm monitorado proximamente o complexo em expansão usando imagens de satélite e outras tecnologias.

Eles relataram uma crescente atividade no local desde que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prometeu expandir seu arsenal nuclear em “qualidade e quantidade” após o colapso de seu canal direto de diplomacia com o ex-presidente Donald Trump, em 2019.

Publicidade

Yongbyon é lar do reator norte-coreano de 5 megawatts, de projeto soviético, cujo combustível irradiado é usado para o país extrair plutônio para construir bombas atômicas. O complexo também inclui uma centrífuga em que, acredita-se, o país enriquece urânio para um outro tipo de combustível de ogivas nucleares.

A torre de resfriamento do complexo nuclear de Yongbyon é demolida em Yongbyon, Coreia do Norte, em 27 de junho de 2008 Foto: Gao Haorong/ AP

A Coreia do Norte vinha construindo um novo reator, maior, de água leve em Yongbyon desde 2010. Os observadores assistiram atentamente o progresso da construção em razão do possível rendimento de plutônio do reator.

O novo reator de água leve começou a operar provavelmente no início de outubro, segundo uma postagem online realizada na quinta-feira pelos pesquisadores Jeffrey Lewis e David Schmerler, do Centro James Martin de Estudos de Não Proliferação.

Os planos da Coreia do Norte de aumentar sua produção de combustível de armas nucleares incluíram acrescentar mais centrífugas para produzir urânio enriquecido em nível militar e acionar o reator de água leve em Yongbyon, cujo cronograma de construção estava anos atrasado, afirmou David Albright, do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, sediado em Washington.

PUBLICIDADE

O novo reator “poderia permitir um incremento nas quantidades de plutônio” a uma taxa estimada de 20 quilos ao ano, um índice de quatro a cinco vezes maior em comparação ao antigo reator de 5 megawatts, escreveu Albright em abril.

Ao longo das décadas recentes, a Coreia do Norte parou e reiniciou a atividade em  Yongbyon, o local de nascimento de seu programa de armas nucleares, dependendo do progresso de conversas com Washington. Sucessivos governos americanos tentaram fechar o complexo completamente, mas fracassaram.

Durante negociações com Trump, em 2019, Kim ofereceu desmantelar o complexo de Yongbyon e, em troca, exigiu que os EUA suspendessem sanções da ONU impostas desde 2016, incluindo um banimento a exportações cruciais, como carvão, minério de ferro, pescado e têxteis. As conversas se romperam quando Trump rejeitou a oferta exigindo um desmantelamento muito maior do programa de armas nucleares norte-coreano, incluindo ogivas nucleares e mísseis de longo alcance.

Após o rompimento dessas negociações, a AIEA relatou que a Coreia do Norte parecia ter reativado seu reator de 5 megawatts em Yongbyon e retomado a extração de plutônio do combustível irradiado do reator. O país também aumentou a frequência de seus testes de mísseis, incluindo o lançamento de um míssil balístico intercontinental na segunda-feira.

A Coreia do Norte realizou seis testes nucleares subterrâneos desde 2006. Atividade em seu campo de testes atômicos em Punggye-ri indicou que o país pode retomar testes com armas nucleares a qualquer momento que Kim desejar, afirmaram autoridades sul-coreanas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.