LONDRES - O novo secretário do Tesouro britânico, Jeremy Hunt, admitiu neste sábado, 15, ter havido erros do governo de Liz Truss e sugeriu que pode reverter muitos dos planos de corte de impostos da primeira-ministra após semanas de turbulência econômica e política. Ele disse que terá que tomar decisões muito difíceis e fará uma mudança de rumo, o que pode não ser suficiente para a premiê salvar seu cargo já em questionamento.
Hunt, que foi nomeado na sexta-feira, 14, para substituir Kwasi Kwarteng, disse que os impostos podem aumentar e os orçamentos de gastos públicos provavelmente serão espremidos ainda mais nos próximos meses. Na sexta-feira, Truss demitiu Kwarteng e abandonou sua promessa de corte no imposto corporativo enquanto tentava manter seu emprego, depois de apenas seis semanas no cargo.
Hunt disse que Truss reconhece seus erros e vai corrigi-los. O novo secretário e a premiê devem se reunir neste domingo, 16. “Foi errado cortar a taxa máxima de imposto para os mais bem pagos em um momento em que teremos que pedir sacrifícios de todos para passar por um período muito difícil”, disse Hunt à BBC. “E foi errado voar às cegas e anunciar esses planos sem garantir às pessoas com a anuência do Escritório de Responsabilidade Orçamentária que realmente podemos pagar por eles”, acrescentou.
Hunt também indicou que os impostos podem aumentar e alertou que será difícil, embora tenha se recusado a dar detalhes sobre como planeja equilibrar as contas antes de uma declaração fiscal completa prevista para 31 de outubro. “Os gastos não aumentarão tanto quanto as pessoas gostariam e todos os departamentos do governo terão que encontrar mais eficiências do que planejavam. E alguns impostos não serão cortados tão rapidamente quanto as pessoas querem”, disse ele.
Hunt, que concorreu duas vezes nas disputas de liderança do Partido Conservador, é um legislador experiente que já ocupou cargos importantes no governo, inclusive como secretário de Relações Exteriores. Seus comentários neste sábado sugerem que ele pode desmantelar muitas das promessas econômicas pelas quais Truss fez campanha e tentou implementar durante suas primeiras semanas no cargo.
Premiê em xeque
“Truss luta por sua sobrevivência”, disse a principal manchete do The Times neste sábado, ao afirmar que “mesmo em Downing Street, altos funcionários acham que é apenas uma questão de tempo até que ela seja forçada a sair”.
“Truss se agarra ao poder”, publicou o Daily Telegraph em sua primeira página. Segundo o jornal conservador, parlamentares continuam conspirando para que ela deixe a liderança do Executivo o mais rápido possível.
Truss, uma defensora do livre mercado, havia insistido anteriormente que seus planos de corte de impostos eram o que o Reino Unido precisava para impulsionar o crescimento econômico. Mas um plano que ela e Kwarteng divulgaram há três semanas, que prometia 45 bilhões de libras em cortes de impostos sem explicar como o governo os pagaria, derrubou os mercados e a libra britânica e deixou sua credibilidade em frangalhos.
A nomeação de Hunt veio para tranquilizar tanto os mercados quanto o Partido Conservador. Uma de suas primeiras ações como novo secretário foi se reunir com Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra, que teve que agir com urgência para acalmar os mercados após a apresentação do plano econômico.
Para a imprensa britânica, Hunt agora aparece como homem-forte do governo, enquanto Truss está consideravelmente enfraquecida por suas mudanças de posição. Tampouco foi convincente em sua coletiva de imprensa mais recente.
Para o Financial Times, Truss sacrificou Kwarteng em uma tentativa de salvar sua cabeça em Downing Street, “mas a única coisa que une o partido é a falta de confiança em Truss”, escreveu.
Na sexta-feira, a primeira-ministra evitou perguntas sobre seu destino pessoal, insistindo que continuava absolutamente determinada a implementar sua política de apoio ao crescimento. “Me sinto totalmente enganado”, disse o deputado conservador Christopher Chope à BBC, afirmando que a líder parecia em total oposição a tudo o que apoiou em sua eleição.
Questionada por quanto tempo Truss permaneceria como líder, Hunt disse que “o que o país quer agora é estabilidade” e ela será julgada pelo que entregar até a próxima eleição geral em 2024. “Ela é primeira-ministra há menos de cinco semanas e eu diria apenas isso – acho que ela será julgada em uma eleição”, disse ele./AP e AFP
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