Jardinagem não precisa ser dolorosa, veja dicas para evitar lesões comuns

‘Gardenfit’, uma nova série de televisão americana, mostra que jardineiros precisam de tanta atenção quanto suas plantas

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Por Margaret Roach

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Se você quiser fazer jardinagem de forma mais inteligente, pode investir em qualquer número de ferramentas - uma podadora telescópica que estende seu alcance para que você não precise se esforçar tanto, por exemplo, ou uma almofada para ajoelhar com amortecimento mais espesso. Mas o investimento que realmente importa está na ferramenta mais importante de todas: seu corpo. E isso requer a construção de novos hábitos com base na consciência de como seu corpo funciona quando você está fazendo jardinagem.

Reality show une jardinagem com exercício e ensina como manter o corpo sem dores enquanto trabalha em um quintal ou jardim. Foto: Tony Cenicola/The New York Times

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Essa é a premissa por trás de uma nova série de televisão chamada GardenFit, uma fusão de passeios por jardins e consultas de autocuidado ao ar livre, tudo com uma vibe de reality show. A proposta: Venha para os jardins, fique para a esperança de alívio das dores exacerbadas por todas aquelas flexões e agachamentos, e aquelas tarefas repetitivas de uma mão e de um lado só.

A gênese da série remonta a três anos, ao pescoço e ombro doloridos de Madeline Hooper. Apesar do desconforto, Hooper, uma executiva de relações públicas aposentada e jardineira de Hudson Valley de longa data, ainda ficava fora de casa várias horas por dia, fazendo o que amava. Um amigo sugeriu que ela tentasse uma sessão com Jeff Hughes, que o havia ajudado alguns anos antes.

Hughes trabalhou como personal trainer por 35 anos, com negócios em Los Angeles, Nova York e, desde 2004, não muito longe da Sra. Hooper. E suas sessões juntos não só reduziram sua dor, mas a fizeram pensar: O que eles estavam fazendo seria útil para todos os seus amigos que faziam jardinagem.

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“É tolice continuar achando que você deveria estar com dores por causa da jardinagem”, ela se lembra de ter pensado. “Não há razão para isso.”

E também: “Devemos compartilhar isso com todas as pessoas que conhecemos que fazem jardinagem”.

Ela e Hughes finalmente decidiram tentar fazer exatamente isso, embora nenhum dos dois tivesse criado um programa de televisão antes. A estrutura básica do enredo é simples: a dupla viaja para 14 jardins e pequenas fazendas especializadas em todo o país. Cada visita começa com um tour por um local notável - entre eles, a coleção de topiaria de Matthew Larkin na Black Barn Farm em Berkshires de Massachusetts e o jardim resiliente de Lauren Springer na região de baixa pluviosidade em Fort Collins, Colorado.

Mas Hughes não está apenas curtindo a paisagem. Ele está observando o jardineiro bem de perto, com um motivo oculto.

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“Quando chega a hora de sentar com eles no final do dia”, ele disse, “já tenho uma boa ideia de como eles usam seu corpo e quais tarefas estão fazendo”.

Jeff Hughes, instrutor de fitness, e Madeline Hooper, uma executiva aposentada e jardineira ávida, criaram o "GardenFit" depois que ela foi até ele para pedir ajuda com uma dor no pescoço e no ombro.  Foto: Tony Cenicola/The New York Times

Poder na mente e nos quadris

A abordagem de Hughes coloca um ponto de vista cognitivo no treinamento convencional. Ele ajuda os clientes a adotarem novos hábitos para substituir aqueles que não estão funcionando para eles, aderindo à filosofia de que se você “treinar a mente, o corpo seguirá”.

Seu corpo começa a fazer as coisas incorretamente porque é mais fácil, disse Hooper: “Mas quando você consegue as correções, fica muito melhor, porque construir um novo hábito é acolhedor para seu corpo. Eu me sinto totalmente no comando do meu corpo quando faço jardinagem agora - o que é totalmente diferente.”

Hughes é rápido em observar que ele não está realizando algum tipo de intervenção médica. “Estou apenas examinando a causa do problema”, ele disse com uma risada. “Para pararmos de causá-lo.”

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Sua maior lição de décadas de coaching, ele disse, é pragmática: “Se eu puder dar a alguém algo que eles vão fazer, eles farão. Se você der a alguém algo que irá ajudá-lo, mas que eles não farão, não é uma ajuda muito boa.”

Demora cerca de quatro semanas para o novo hábito começar a se encaixar, então eles voltam a ver cada jardineiro um mês depois.

Um exemplo dolorosamente familiar de um hábito que precisava ser mudado veio do jardim de Elaine Burden em Middleburg, Virgínia. Além de trabalhar em seu extenso jardim de inspiração inglesa, com suas bordas mistas de 4,5 metros de profundidade e um canteiro emoldurado por 144 buxos, Burden joga tênis e golfe. Como varrer e cavar, essas são atividades muito unilaterais.

Ser destra a fazia girar constantemente para a esquerda, o que deixava seu corpo desequilibrado. Hughes sugeriu alguns alongamentos para a direita, e também que ela conscientemente tentasse usar a mão esquerda sempre que possível: para pegar uma bola de golfe, ou girar para a direita e capinar com a mão esquerda. Ela também praticou varrer com a mão esquerda, para aliviar a tensão repetitiva que estava causando problemas nos nervos de uma perna.

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Funcionou.

A posição da poltrona é a base da casa, uma parada no caminho entre se agachar ou ajoelhar, ou quando voltar a subir. Com os pés apenas um pouco além da largura do quadril, agachados, evitando que os joelhos saltem além dos dedos dos pés. Descansar os antebraços sobre as pernas alivia a parte inferior das costas do papel de apoio.  Foto: Tony Cenicola/The New York Times

A posição de base: A poltrona

Várias outras dicas fundamentais abordam as reclamações que Hughes viu com mais frequência durante as filmagens de GardenFit e podem nos ajudar também.

Para cada jardineiro, por exemplo, ele enfatizou o papel fundamental dos quadris: “Eles são o poder central de tudo”, ele disse. “Eles são de onde seu poder deve vir usando-os corretamente - não de seus joelhos e nem de sua lombar.”

Um refrão era comum a praticamente todos os jardineiros que eles visitavam, disse Hooper: “Todo mundo queria saber como se levantar e abaixar, como fazemos o dia todo na jardinagem, sem estressar o corpo e sem machucar os joelhos”.

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Para o resgate: a posição da poltrona. Tarefas diárias como capinar, pegar ferramentas ou cavar com uma colher de pedreiro podem ser feitas a partir desta posição sem forçar a região lombar. E é o lugar para parar no caminho para agachar ou ajoelhar, ou quando você estiver levantando.

“Parar na poltrona é uma espécie de base para todo o resto”, disse Hughes. “O chão - não suas costas - está segurando seu corpo, desde que haja um braço em uma perna.”

Como funciona: Afaste os pés um pouco além da largura do quadril. Em seguida, comece agachando-se, evitando que os joelhos ultrapassem os dedos dos pés. Descanse os antebraços nas pernas, o que alivia a parte inferior das costas do papel de apoio. Se você fizer certo, você deve se sentir em equilíbrio, disse Hughes.

Ao começar a trabalhar, lembre-se de manter um cotovelo em uma coxa, uma percepção que ressoou em jardineiros como Robert Levine em Roxbury, Connecticut, cuja paisagem em estilo japonês exige muito trabalho com detalhes, especialmente capinar manualmente.

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Adicionando um giro

Para chegar ao chão a partir da poltrona, ou voltar sem forçar os joelhos ou a região lombar, adicione um giro ao movimento: comece da poltrona e, se precisar girar para a esquerda, solte o joelho direito. Ao fazer isso, você estará girando, não descendo direto.

“Isso fornece um toque suave, porque você está sempre equilibrado e no controle”, disse Hughes.

Para voltar do chão, vire e gire de volta para a poltrona no caminho. “Uma vez que estou no chão, nunca fico em pé sem me torcer de volta para a poltrona”, disse Hooper.

Outro estressor é segurar uma ferramenta - um cortador de cerca viva, por exemplo - na sua frente e depois tentar fazer todo o trabalho com os braços. Precisamos “ensinar nossos músculos das costas a entrar no jogo”, disse Hughes, especificamente aqueles que puxam as omoplatas para baixo. Imagine que você os está deslizando para os bolsos traseiros das calças.

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Ele chama esse ato de equilíbrio entre os braços e os músculos das costas de gangorra. “Só estar ciente deles e criar o hábito de usá-los os torna tão fortes quanto eles precisam ser”, ele disse.

Se for um levantamento pesado...

A base da poltrona entra em ação novamente quando é hora de levantar aquele vaso grande ou saco de terra para vasos - um movimento que pode prejudicar as costas se for feito errado.

“Basta torná-lo parte do seu corpo”, disse Hughes. “Não o segure na sua frente.”

E depois há sua receita para algo de que todos sofremos: excesso. Pense em sua lista de afazeres como a escolha de passeios em uma feira do condado, ele disse, e não passe o dia inteiro em um único passeio: “Vá de um passeio para o outro. Faça uma tarefa por 30 minutos ou mais, depois pare. Faça outra pelo mesmo período e, quer tenha terminado ou não, pare e faça outra coisa.”

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Eventualmente, você pode tentar novamente a primeira tarefa, mas, ao mudar, ele disse, “você não forçou nada a ponto de se desgastar”.

Uma vez, a Sra. Hooper pode ter resistido a esse conselho, ela disse, mas agora a feira do condado é sua abordagem favorita.

“Este é um hábito mental real”, disse Hughes. “Depois de fazer isso algumas vezes, seu cérebro dirá: ‘Ei, eu tenho uma ótima ideia - vamos agir como em uma feira do condado hoje.’”

Já faz meses desde que eles terminaram de filmar, mas Hooper ainda está recebendo ligações de acompanhamento de convidados, com relatórios de progresso sobre o quanto eles se sentem melhor desde que integraram seus novos hábitos. E não apenas no jardim.

“Agora, muitos deles estão usando seus corpos dessa maneira quando limpam a casa ou fazem qualquer outra coisa”, ela disse. “Eles realmente entenderam.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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