No Canadá, pesquisadores estudam como gerar eletricidade a partir das marés oceânicas

A Baía de Fundy, entre Nova Escócia e New Brunswick, tem uma das marés mais poderosas do mundo. Agora, engenheiros e cientistas esperam transformá-la em uma fonte de energia limpa

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Por Ian Austen

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A Baía de Fundy, nas províncias canadenses de Nova Escócia e New Brunswick, há muito tempo atormenta e frustra engenheiros que esperam explorar sua maré alta recorde de 15 metros para gerar eletricidade.

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Depois de mais de um século de tentativas, resta apenas uma pequena central geradora de energia, já fechada, e inúmeros sonhos desfeitos, planos abandonados e falências.

Mesmo assim, uma nova coalizão de empresários e cientistas da Nova Escócia está tentando novamente. Um participante, uma empresa chamada Sustainable Marine, desenvolveu uma nova tecnologia e a operou com sucesso por mais de sete meses, mais do que qualquer outro sistema similar, produzindo eletricidade suficiente para cerca de 250 residências.

O formato de funil da Baía de Fundy é parte do motivo de suas marés excepcionais. Ao longo de seus 96 ou mais quilômetros de comprimento, a baía se estreita drasticamente e sua profundidade cai de 765 pés para 147 pés. Foto: David Goldman/The New York Times

A inovação da Sustainable Marine é que, em vez de colocar turbinas fixas no fundo do mar, como foi tentado no passado, ela faz com que turbinas móveis flutuem na superfície, levantando-as quando um objeto perigoso se aproxima e para manutenção.

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Se a plataforma continuar a se mostrar confiável, economicamente viável e não prejudicar a vida marinha, terá aproveitado não apenas uma nova fonte de energia renovável, mas também uma das mais confiáveis do mundo. Porque ao contrário do vento ou do sol, as marés são incessantes e completamente previsíveis.

A Sustainable Marine é uma das cinco concorrentes para produzir um método viável de geração elétrica na Baía de Fundy e, espera-se, em dezenas de regiões de maré semelhantes no mundo.

Cientistas que colaboram com um centro de pesquisa financiado pelo governo estão estudando o impacto das tecnologias na vida marinha. Um grupo de pescadores foi ao tribunal sem sucesso há seis anos para impedir a implantação de uma turbina no local de teste do centro e colocou outdoors com a frase “Moendo Nemo”.

Os reguladores exigiram que a Sustainable Marine equipasse sua plataforma com uma variedade de sensores e câmeras subaquáticas para rastrear a vida marinha e levantar automaticamente as turbinas quando as baleias ou outras criaturas grandes se aproximam.

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Se os sensores e câmeras subaquáticas da Sustainable Marine confirmarem as afirmações da indústria de geração de energia das marés de que peixes, baleias e outras criaturas marinhas nadarão com segurança em torno de suas lâminas de turbina e o protótipo se mostrar confiável, ele poderá se tornar parte de um desenvolvimento em grande escala.

Engenheiros e cientistas da Nova Escócia são levados a explorar as marés em parte porque a província é uma das poucas no Canadá que ainda depende fortemente de combustíveis fósseis para gerar energia.

Enquanto as três maiores províncias do país há muito trocavam combustíveis fósseis por outras fontes de energia, a Nova Escócia ainda produz 51% de sua eletricidade queimando carvão, cuja mineração já foi uma parte fundamental de sua economia. Com a província agora empenhada em eliminar essas usinas até o final da década, a atenção está novamente voltada para o potencial de geração de energia das marés da Baía de Fundy.

Uma torre em torno da qual a plataforma gira conforme a maré muda de direção. Foto: David Goldman/The New York Times

A cada seis horas na Passagem de Minas - a porção estreita da baía perto do porto de Parrsboro, na Nova Escócia - o nível da água sobe ou desce cerca de 16 metros, aproximadamente a altura de um prédio de quatro andares.

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Ao todo, 14 bilhões de toneladas métricas de água atravessam a baía a cada 12 horas a velocidades de até 19 Km/h. Estima-se que a Passagem de Minas tenha potencial para gerar cerca de 7.000 megawatts de energia, mais que o dobro da quantidade de eletricidade gerada atualmente por outras fontes para a província de quase 1 milhão de habitantes.

A Baía de Fundy “foi chamada de Everest das marés”, disse Lindsay Bennett, gerente geral interina da Força, uma estação de pesquisa de marés do governo provincial a cerca de 10 quilômetros de Parrsboro. “Ao longo dos anos houve a descrição de uma espécie de padrão Fundy. Se você pode operar sua tecnologia aqui neste ambiente, você pode operar sua tecnologia em qualquer lugar do mundo.”

O formato de funil da Baía de Fundy é parte do motivo de suas marés excepcionais. Ao longo de seus 155 ou mais quilômetros de comprimento, a baía se estreita drasticamente e sua profundidade cai de cerca de 233 para 44 metros.

A água da baía tem um movimento de balanço natural, como qualquer grande massa de água. Mas o que distingue a Baía de Fundy é que ela balança para frente e para trás na mesma frequência com que suas marés sobem e descem. A maré amplifica o movimento de derramamento - e vice-versa - cada um tornando o outro mais rápido e mais alto, aumentando a maré.

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Sete anos atrás, a Nova Escócia aprovou uma lei para apoiar o desenvolvimento de uma indústria de energia das marés que protege o meio ambiente. Desde então, a província selecionou cinco empresas para executar projetos de demonstração que testariam e exibiriam suas tecnologias.

O primeiro projeto não teve um começo auspicioso. Envolvia instalar uma turbina de cerca de 15 metros de diâmetro no fundo do mar. Mas logo que ela entrou na água, a força da maré rasgou a turbina.

“Foi mal projetada”, disse Bennett. “Ninguém tinha uma compreensão completa do poder dessas marés.”

A energia potencial na Passagem de Minas, segundo pesquisas recentes, é cerca de 24 vezes maior do que a estimativa original.

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Durante o segundo projeto, uma turbina mais robusta foi lançada ao mar apenas para que a empresa por trás dela fosse à falência. Depois de um ano rodando sem manutenção, a turbina travou. Por enquanto, ela está sem vida no fundo do mar.

Visitar o projeto da Sustainable Marine, o mais avançado dos últimos esforços para transformar a maré de Fundy em eletricidade, envolve duas viagens de balsa até a vila de Westport, com uma população de 193 habitantes, na Ilha Brier. Quando a maré está baixa, as barracas nos cais adjacentes de pesca de lagostas ficam muito acima da água como em palafitas.

Detalhe de uma turbina geradora de energia na Baía de Fundy.  Foto: David Goldman/The New York Times

A Sustainable Marine, uma empresa de propriedade alemã com sede na Escócia, veio a Westport para testes iniciais de seu sistema, que fornece eletricidade à rede da Nova Escócia desde março. A proximidade de Westport com a foz da baía significa que sua maré tem cerca de metade da força daquela encontrada na Passagem de Minas, tornando-a menos arriscada para testes.

A plataforma, como a empresa se refere ao seu gerador de energia, se assemelha a um submarino branco com dois grandes cascos como estabilizadores. Espalhadas em uma das extremidades, como um enorme conjunto de motores de popa, estão seis turbinas de três lâminas. A plataforma tem cerca de 33 metros de comprimento e cerca 27 metros de largura em seu ponto mais largo e é altamente automatizada.

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Enquanto circulava a plataforma em um grande barco inflável, Nabil al-Kahli, o engenheiro sênior do projeto, demonstrou suas capacidades pegando seu telefone e comandando as turbinas, cada uma com 4 metros de diâmetro, para que descessem aos pares na maré vazante. Um leve zumbido encheu o ar quando seus geradores começaram a funcionar, e a plataforma se elevou como um barco a motor quando seus geradores começaram a produzir energia.

De pé em uma passarela acima das turbinas agitadas, al-Kahli, que é do Iêmen, refletiu sobre a transição pela qual sua carreira passou desde que chegou ao Canadá vindo de Cingapura, quatro anos atrás. Ele passou da construção e instalação de plataformas de petróleo e gás, uma fonte de mudança climática, para o pioneirismo de uma de suas alternativas.

“Para mim, ir de óleo e gás offshore para a energia marinha é muito bom”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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