Suponhamos que você seja uma mulher na casa dos 50 anos, ou talvez um homem de 70 e poucos anos, e quebre uma perna ou o quadril depois de cair de uma escada de dois metros de altura. Isso certamente seria angustiante, mas provavelmente nem você nem seu médico ficariam surpresos com a gravidade da lesão, dada a natureza do acidente.
E é provável que seu médico nem o informe, depois da queda, que ossos fracos podem ter contribuído para sua fratura, ou que você corre o risco de quebrar outro osso na próxima vez em decorrência de um acidente menor, como tropeçar em um cachorro. E, assim, depois que a fratura for imobilizada por gesso ou reparada cirurgicamente, seu médico provavelmente não fará mais nada para evitar uma nova fratura.
Os médicos são treinados para pensar que apenas os ossos que se quebram em um trauma leve, ou até mesmo sem que tenha havido um trauma, são sinais de ossos frágeis. E que tais quebras são as únicas que justificam uma avaliação da saúde óssea do paciente, bem como tratamento e orientação para prevenir outras quebras. Além disso, as recomendações profissionais reforçam esse pensamento e levam os médicos a dar alta ao paciente depois que uma fratura causada por um trauma mais grave é reparada.
No entanto, agora há cada vez mais provas de que, para mulheres depois da menopausa e homens na faixa etária do Medicare (acima dos 65 anos), um osso quebrado por qualquer tipo de trauma – seja grave (acidente de carro) ou não (queda na calçada) – pode provavelmente ser atribuído à fragilidade óssea.
Em um comentário publicado no Jama Internal Medicine em junho, a dra. Anne Schafer e a dra. Dolores Shoback, do Sistema de Atendimento de Saúde dos Veteranos de San Francisco, sugeriram que uma fratura decorrente de um trauma grave ou leve representa "uma distinção sem diferença" para pessoas de meia-idade e idosos. Independentemente de como o acidente ocorreu, as provas atuais indicam que, quando uma pessoa idosa quebra um osso, é necessário incluir no tratamento uma avaliação mais profunda da saúde óssea geral e orientações sobre como ela deve ser mantida.
Por que as idosas que quebraram um osso precisam de um teste ósseo
O comentário no Jama Internal Medicine foi uma resposta a um novo e importante estudo publicado na mesma edição da revista. O estudo catalogou a incidência de fraturas subsequentes em 7.142 mulheres na pós-menopausa, muitas na faixa dos 50 e 60 anos, que haviam tido uma primeira fratura, e comparou o risco de ter uma segunda fratura com 66.874 de suas colegas que não tinham sofrido uma fratura inicial. Os pesquisadores acompanharam as mulheres por uma média de cerca de oito anos.
Entre as mulheres que sofreram uma fratura inicial em decorrência de um trauma leve, o que é considerado uma característica de ossos fracos, o risco de sofrer uma nova fratura aumentou em 52 por cento. Entre as mulheres cuja primeira fratura ocorreu depois de um acidente traumático, como cair de uma escada, o risco de uma segunda fratura foi 25 por cento maior do que o esperado com base em mulheres que não haviam sofrido uma primeira fratura.
Os autores do estudo concluíram, a partir de uma análise estatística, que "tanto as fraturas iniciais não traumáticas quanto as traumáticas foram igualmente associadas ao risco de fratura subsequente".
Ao contrário das diretrizes atuais, os autores escreveram: "Os resultados do nosso estudo são clinicamente importantes porque, diferentemente de uma fratura não traumática, uma fratura considerada traumática muitas vezes não desencadeia uma avaliação adicional para osteoporose ou uma orientação sobre o aumento do risco de uma fratura subsequente. Contudo, tanto uma fratura grave quanto uma leve têm uma associação semelhante com uma baixa densidade mineral óssea."
Segundo estudos, mesmo as mulheres mais jovens na pós-menopausa que sofreram uma fratura grave correm maior risco de desenvolver a osteoporose, informou o dr. Sundeep Khosla, especialista em ossos da Clínica Mayo em Rochester, no estado de Minnesota. "São muito convincentes as provas de que as mulheres na pós-menopausa que sofrem uma fratura, independentemente do nível do trauma, deveriam fazer uma avaliação da densidade óssea. Uma fratura sofrida na queda por uma mulher que estava em pé traz um risco alto de uma segunda fratura, quase como se a primeira fratura tivesse resultado de uma queda da escada."
Homens idosos também têm um alto risco de uma fratura subsequente
Os homens também enfrentam um risco frequentemente ignorado de uma segunda fratura, especialmente porque a primeira fratura provavelmente foi resultante de um evento traumático, como um acidente de carro, e não é reconhecida como um prenúncio de fraturas futuras, explicou Schafer em uma entrevista. A dra. Carolyn Crandall, médica da Escola de Medicina David Geffen da Universidade da Califórnia, em Los Angeles que liderou o estudo do Jama Internal Medicine, afirmou que estudos recentes documentaram que homens idosos que sofreram uma fratura em um trauma grave costumam ter a mesma probabilidade de apresentar uma densidade óssea baixa quando comparados a homens que tiveram uma fratura por trauma leve, e os homens de ambos os grupos podem vir a ter uma nova fratura.
"Os homens idosos podem estar em desvantagem se desconsiderarmos a fratura decorrente do trauma grave. Eles perdem volume ósseo com a idade e desenvolvem osteoporose, embora normalmente em uma idade mais avançada do que as mulheres. Os dados não prestaram muita atenção a eles. Os homens com ossos fraturados no passado não devem ser descartados", disse Schafer.
Como testar e tratar ossos frágeis?
Portanto, qual é a mensagem para os homens idosos e as mulheres de meia-idade e idosas e para o médico deles?
Para começar, a pergunta que os médicos costumam fazer – "como você quebrou esse osso?" – não é relevante. Para Khosla, o que conta é a saúde dos ossos do paciente, e isso é determinado por um teste de densidade óssea que mede o conteúdo mineral dos ossos da coluna, do quadril e, às vezes, do antebraço. O teste é indolor, não invasivo e rápido, e o resultado é mais bem interpretado por um especialista em osteoporose.
Se o teste mostrar ossos anormalmente enfraquecidos, o médico geralmente prescreve medicamentos para retardar, interromper ou reverter o processo. O tratamento também deve incluir orientação sobre o estilo de vida no que se refere a dieta e exercícios, observou Khosla. "Ser fisicamente ativo ajuda a manter a força, o equilíbrio e a agilidade, e diminui as chances de cair e quebrar um osso." Os exercícios de levantamento de peso e de fortalecimento muscular são importantes ao longo da vida.
Igualmente importante: tenha uma dieta bem balanceada, rica em vegetais, frutas e grãos integrais, bem como em cálcio e vitamina D. Evite fumar e limite o consumo de álcool e de cafeína.
Por fim, veja se na sua casa ou nos lugares por onde você passa há armadilhas que podem fazer com que você tropece e, então, elimine-as. Tapetes espalhados, sapatos e outros itens deixados no chão, falta de corrimão, má iluminação especialmente nas escadas – tudo isso pode, a qualquer momento, causar um acidente e danificar demais os ossos.
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