O mistério do superiate russo de US$ 700 milhões estacionado em uma marina na Itália

Opositores de Putin acusam ele de ser o verdadeiro proprietário do barco, diz jornal britânico. Polícia italiana investiga ligação com bilionários russos

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Por Redação
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Um misterioso superiate de 140 metros de comprimento e seis andares, estacionado no estaleiro da Marina di Carrara, na Itália, é investigado pela polícia italiana por possíveis ligações com bilionários russos sancionados na União Europeia. Ninguém sabe ao certo a propriedade do barco, mas, segundo uma reportagem do jornal britânico The Guardian, há suspeitas de que o verdadeiro dono seja o presidente russo Vladimir Putin.

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A suspeita não está confirmada e nasceu a partir de acusações de militantes que trabalham com o líder da oposição russa Alexei Navalni, informou o Guardian. O barco é nomeado Scheherazade e é avaliado em US$ 800 milhões.

O iate só pode ser visto através de uma cerca, onde passa por uma reforma, prevista para ser concluída no próximo ano. Ele está em um dos estaleiros (local onde as reformas dos barcos são realizadas) de propriedade do The Italian Sea Group, uma empresa que reforma e constrói iates de luxo. Relatos do Guardian afirmam que o interior da embarcação é equipado com spa, piscinas, dois helipontos, lareira a lenha e uma mesa de bilhar projetada para se inclinar para reduzir o impacto das ondas.

“É o maior iate que já vi aqui”, disse Suzi Dimitrova, dona de um barco na marina, ao Guardian. “Tem gente limpando o tempo todo. A última vez que o vi sair [do estaleiro] foi no ano passado. Estamos todos nos perguntando quem é o dono.”

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Iate Scheherazade estacionado no estaleiro de Marina di Carrara, na Itália, nesta quarta-feira, 23. Polícia italiana investiga ligações do barco com bilionários russos Foto: Fabio Muzzi / EFE

Na segunda-feira, a jornalista investigativa Maria Pevchikh, chefe do departamento de comunicação da Anti-Corruption Foundation (FBK), criada por Alexei Navalni, e o ativista Georgi Alburov disseram que todos os membros da tripulação, obtidos de uma lista datada de dezembro de 2020, eram russos, exceto o capitão.

Em um vídeo publicado no YouTube, eles alegaram que alguns dos funcionários do iate trabalhavam para o Serviço Federal de Proteção da Rússia (FSO), uma agência que gerencia a segurança de funcionários de alto escalão, incluindo Putin. Não há informações, no entanto, sobre como eles chegaram nestes nomes e quais provas eles obtiveram.

Os ativistas, que pediram às autoridades italianas que apreendessem o iate, disseram que esta informação prova que pertence a Putin. “Eles são funcionários do Estado russo, militares e viajam regularmente para a Itália como um grupo para trabalhar no misterioso iate”, escreveu Pevchikh no Twitter.

Em um discurso ao parlamento italiano nesta terça-feira, 22, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski instou a Itália a apreender o iate, acrescentando que Putin e seus apoiadores ricos costumam passar férias na Itália e devem ter seus bens bloqueados. “Não seja um lugar para assassinos”, disse ele. “Tranque todos os imóveis, contas e iates [das elites russas] – desde o Scheherazade até os menores.”

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A última visita oficial de Putin à Itália foi em 2019, a convite do ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte. Ele também manteve conversas com o Papa Francisco no Vaticano durante a visita.

No início de março, a polícia italiana apreendeu um iate de propriedade de Alexei Mordashov, o homem mais rico da Rússia até ser colocado na lista negra da União Europeia, e outro de Gennadi Timchenko, um bilionário com laços estreitos com Putin, no porto de Imperia, na Ligúria.

O mistério sobre o proprietário cresceu no início de março, quando a polícia financeira de Carrara embarcou no iate quando as sanções da UE contra os oligarcas russos tiveram início, em retaliação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Na operação, a polícia apreendeu documentos de propriedade do capitão britânico do iate, Guy Bennett-Pearce. Em paralelo, autoridades americanas disseram ao New York Times que também estavam investigando se o iate pertencia a Putin.

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Opositor russo, Alexei Navalni faz gesto de coração com as mãos na Corte de Moscou, no dia 3 de fevereiro de 2021. Aliados do opositor acusam Putin de ser o verdadeiro proprietário do iate estacionado na Itália Foto: Moscow City Court / AP

O Italian Sea Group disse em comunicado que continua trabalhando na reforma e manutenção do navio de € 6 milhões (£ 5 milhões) apesar das sanções da UE e que, de acordo com documentos em sua posse, o navio “não é atribuível à propriedade de o presidente russo Vladimir Putin”, e nem é propriedade de um russo na lista de sanções.

Uma investigação do jornal italiano La Stampa no início deste mês ligou o navio a Eduard Iurievich Khudainatov, ex-presidente da petrolífera estatal russa Rosneft, por meio de uma empresa de fachada registrada nas Ilhas Marshall.

Mas a polícia italiana tem certeza de que Khudainatov não é o verdadeiro dono do iate. “Ele parece ser um homem ligado ao círculo íntimo de Putin, mas não tão rico a ponto de possuir um iate como o Scheherazade”, disse Jacopo Iacoboni, jornalista do La Stampa que conduziu a investigação. /Com informações do The Guardian

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