WASHINGTON D.C. (ESTADOS UNIDOS) - A 15 minutos a pé do Capitólio, em um edifício imponente de oito andares, fica a seda da Heritage Foundation, o think tank conservador por trás do polêmico Projeto 2025. A fundação e seu livro de 900 páginas com propostas para o futuro governo americano têm ganhado destaque nos discursos da candidata democrata à presidência americana, Kamala Harris, que busca relacionar o Projeto 2025 ao candidato Donald Trump.
Criada em 1973, a fundação tem como objetivo “formular e promover políticas públicas baseadas nos princípios da livre iniciativa, do governo limitado, da liberdade individual, dos valores tradicionais americanos e com uma forte defesa nacional”. No ano passado, ela levantou US$ 150 milhões (R$ 854 milhões), um valor recorde, entre 500 mil doadores.
“É o maior think tank conservador do mundo. Eles estão nadando no dinheiro e pagam muito mais para seus funcionário que qualquer outro think tank”, diz E.J. Fagan, professor do departamento de ciência política da Universidade de Chicago e autor do livro “The Thinkers: The Rise of Partisan Think Tanks and the Polarization of American Politics” (“Os pensadores: a ascensão dos think tanks partidários e a polarização da política americana”, em tradução literal). Em 2022, por exemplo, o presidente da fundação, Kevin Roberts, recebeu US$ 668,9 mil (R$ 3,8 milhões).
De acordo com o professor, a Heritage Foundation costuma levantar recursos de forma pulverizada como estratégia para evitar que um doador exerça controle sobre ela. “Ao contrário de muitos think tanks americanos, que dependem basicamente de um grande doador, a fundação é financiada por uma rede grande de americanos conservadores muito ricos”, diz ele.
A reportagem esteve na sede da Heritage Foundation, na capital americana, mas os porta-vozes da fundação se recusaram a dar entrevista. No térreo do edifício, placas com imagens de homens que apoiaram a fundação decoram as paredes. Uma delas é a de Richard Scaife, um bilionário que herdou sua fortuna do avô e do tio – banqueiros e investidores do setor de petróleo –, financiou a campanha de Richard Nixon nos anos 1970, comprou a publicação Pittsburgh Tribune-Review nos anos 80 e atacou o presidente Bill Clinton nos 90. Apesar de republicano, ele apoiava causas como o direito ao aborto e a legalização da maconha.
Um dos criadores da fundação e presidente dela por 35 anos, Edwin J. Feulner tem seu busto exposto no prédio acompanhado da frase: “Em Washington, não há vitórias ou derrotas permanentes, apenas batalhas permanentes que cada geração deve enfrentar para preservar uma sociedade livre”. Filho de donos de uma empresa do setor imobiliário em Chicago, Feulner, hoje com 83 anos, foi assessor de parlamentares republicanos antes de criar a Heritage Foundation.
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Feulner e o jornalista Paul Weyrich fundaram a Heritage após levantarem US$ 250 mil com Joseph Coord (herdeiro da cervejaria Coors Brewing Company). Weyrich, que morreu aos 66 anos em 2008, também trabalhara antes como assessor parlamentar.
Ainda no lobby da sede da fundação, poltronas e uma estante com prateleiras de vidro formam uma sala de espera. Na estante, há um porta-retrato com uma foto da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em um evento da Heritage Foundation e livros como “Next Gen Marxism - What it is and How to Combat it” (Próxima Geração do Marxismo - O que é e Como Combatê-lo, em tradução literal) e “Detrans - True Stories of Escaping the Gender Ideology Cult” (Detrans - Histórias Reais de Quem Escapou do Culto da Ideologia de Gênero), além de obras sobre as forças militares americana e liberdade econômica.
O destaque, porém, é um livro colocado de forma isolada no centro da estante. Em sua capa azul, está escrito “Mandate for Leadership - The Conservative Promise” (Mandato para a Liderança - A Promessa Conservadora). É o Projeto 2025.
A repórter viajou como bolsista do World Press Institute (WPI)
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