O que leva alguém a ‘fundar’ uma ‘micronação’? Não pagar impostos? Para se divertir?

Para muitos, o micronacionalismo é levado muito a sério, apesar de saberem se tratar apenas de uma brincadeira

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Por Redação
Atualização:

As micronações são territórios minúsculos (por vezes, do tamanho de um quarto - literalmente) que dizem ter adquirido autonomia do país em que estão localizadas. A autononia destes territórios não é reconhecida oficialmente, mas isso não impede o surgimento de novas “micronações” pelo mundo.

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O micronacionalismo, que pode parecer uma simples brincadeira, é um campo fértil para o aprendizado sobre política, geografia e relações internacionais, segundo Raphael Garcia, um entusiasta e estudioso do assunto. Ainda segundo ele, a criação de uma “micronação” vai muito além de não querer pagar impostos ou pura e simples diversão.

“Eu, com 14 anos, descobri o micronacionalismo pesquisando países, sempre tive paixão por novos países”, diz Garcia, 39 anos, nascido no Rio de Janeiro, criado no Recife e com parte de sua formação acadêmica em São Paulo.

Essa paixão o levou a se envolver com o Sacro Império de Reunião, uma das primeiras micronações online no Brasil, e a dedicar parte de sua vida acadêmica ao estudo deste movimento. Já em sua monografia de conclusão do curso de relações internacionais na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o tema foi “Identidade e Ciberespaço: O Micronacionalismo enquanto Comunidade Imaginada”.

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George Cruickshank, o "chefe de estado" de Atlantium; ele começou a sua micronação no quintal de sua casa com outros dois amigos, em uma área de 10 metros quadrados Foto: Atlantium/Reprodução

Mas, o que leva alguém a fundar uma micronação? Segundo Garcia, os motivos são variados, desde o interesse por explorar novas ideias e formas de governo até uma certa “megalomania”. “É um interesse em aprender, colocar em prática o que se estuda sobre política e comportamento humano”, afirma.

Ele enfatiza que, para muitos, o micronacionalismo é levado muito a sério, apesar de saberem se tratar de uma brincadeira. “O principal do micronacionalismo é que a gente sempre levou muito a sério, obviamente saber que é uma brincadeira, mas ajudou muita gente a seguir carreira”, afirma Garcia.

Inclusive a dele, segundo explica. Depois de morar na Itália, Espanha e Alemanha, hoje ele reside na Bélgica, onde atua como editor de uma revista de um grupo de comunicação focado em sustentabilidade. O seu doutorado foi pela Universidade de Deusto, na Espanha, e teve como foco migração e diáspora. Ele avalia que a experiência com o micronacionalismo o levou a fazer as escolhas que fez em sua vida profissional e acadêmica.

Motivos para criação de micronações

As micronações variam desde entidades puramente online até aquelas com reivindicações de território físico, como Sealand e o Principado de Hutt River, este último fundado por um fazendeiro australiano que se recusou a pagar impostos ao governo da Austrália. “As físicas elas têm a ver com revoltar contra governo, questão de taxas, impostos, a virtual é mais o interesse pela questão da política, geografia”, diz Garcia.

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Além de questões políticas e territoriais, o micronacionalismo também abraça aspectos culturais e sociais, como a criação de religiões próprias e até concursos de miss e mister. “Existiam competições que a gente chamava de micronações lusófonas, e criava o seu time de futebol no começo dos anos 2000″, conta Garcia.

Ele diz que é impossível saber quantas micronações existem, já que não há um registro oficial de quando elas foram criadas ou quantas possuem religiões próprias, moedas, selos ou outros. Uma página de fãs de micronacionaismo na internet relaciona cerca de 80 micronações que já existiram ou que ainda estão em atividade e que possuem religiões próprias. Uma dessas citadas, o Reino de Permaria, criou o “cristianismo celta”.

Bandeira da Molossia, uma das várias micronações criadas por entusiastas do assunto Foto: Republic Of Molossia

Apesar de ser visto como uma piada por alguns, o micronacionalismo é um campo de estudo sério e uma comunidade global que oferece uma experiência única de aprendizado e interação, segundo Garcia. “Em geral é visto como piada, começa com adolescente, criando algo online e eu conheço doutores e diplomatas que começaram com o micronacionalismo”, relata Garcia.

Entre outros benefícios de aprendizado, ele relaciona a capacidade de gerar novas ideias, exercícios de novas formas de governo, estudos de geografia e relações internacionais.

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Títulos, moedas e souvenirs

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São raras as micronações que possuem um território para chamar de seu. Entre elas está Atlantium, criada por George Cruickshank. Ele começou a sua micronação com outros dois amigos no quintal da casa dele, na Austrália, em uma área de 10 metros quadrados, em 1981.

Hoje a micronação ocupa uma área de 0,76 km², mais ou menos do tamanho do Parque Villa-Lobos, na cidade de São Paulo. Ela fica no sudeste de Sydney, Austrália. Cruickshank, proprietário das terras, foi “coroado” imperador, autoproclamando-se “primeiro entre iguais”. “Você não pode ser chefe de Estado do Brasil, mas pode ser de uma micronação”, diz Garcia.

Apesar de não ter nenhuma rua, a micronação tem placas de carros, selos, títulos de “nobreza” e outros souvenirs. E todos estão à venda. “No caso de Atlantium, a proposta é de criar um diálogo, uma representação física para atrair as pessoas. A coleção de selos, moedas e afins é uma forma de ligação com esse território”, afirma Garcia. Questionado se essa não é uma forma de vida criada por alguns para lucrar, ele diz que, na maior parte das vezes, esses valores são apenas para cobrir custos.

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