WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi à TV em horário nobre na noite da terça-feira 8 para falar aos americanos sobre o muro na fronteira dos EUA com o México, sua principal promessa de campanha para combater a imigração ilegal. O republicano afirmou que se trata de uma crise humanitária na fronteira sul do país e apelou aos democratas, com maioria na Câmara dos Deputados, para que financiassem o muro.

A fala ocorreu no momento em que o governo estava há 18 dias parcialmente paralisado. O embatde entre o Congresso e a presidência é resultado da imposição do presidente para que o muro fosse incluído no orçamento dos EUA, recebendo US$ 5,7 bilhões para isso. Até agora, democratas se negaram a negociar o financiamento de um muro na fronteira.
O que é verdade e o que é mentira no discurso de terça-feira, a partir de análises da rede americana CNN:
1. “O muro será pago indiretamente pelo grande novo tratado que nós fizemos com o México” - Parcialmente falso
O presidente já havia feito essa falsa afirmação antes. Há muito tempo, Trump abandonou a sua promessa de campanha de que o México pagaria pelo muro na fronteira entre os dois países. Em vez disso, ele agora fala que o México irá “indiretamente” pagar pela barreira, graças ao aumento de tarifas geradas pelo novo acordo comercial no lugar do antigo NAFTA (North America Free Trade Agreement). Mas o novo acordo ainda não foi ratificado pelo Congresso, controlado pelos democratas, assumidamente contra a medida.
E mesmo se o tratado entre os EUA, México e Canadá acabar elevando a receita das taxas, não há nada identificando o dinheiro para um muro. Imposto de renda e taxas corporativas são receitas gerais que teriam de ser apropriadas pelo Congresso.
Outro jeito que o comércio poderia trazer dinheiro é pelo Tesouro por meio de tarifas, que são pagas por importadores americanos quando eles compram produtos estrangeiros. Mas, assim como o NAFTA original, o novo tratado foca em manter o comércio em grande parte gratuito entre os três países.
2. “Uma em três mulheres é sexualmente molestada no caminho pelo México” - Verdadeiro
Trump falou da violência que as imigrantes enfrentam no caminho para os EUA, dizendo: “Mulheres e crianças são as maiores vítimas do nosso falido sistema. Esta é a realidade da tragédia da imigração ilegal na fronteira do sul.”
De fato, o caminho para a fronteira EUA-México é conhecido por ser violento. De acordo com os Médicos Sem Fronteiras, 68,3% dos imigrantes e refugiados “entrando no México foram vítimas de violência a caminho dos EUA”, e quase um terço das mulheres afirmaram que foram sexualmente abusadas. Essa violência é também o porquê muitas mulheres escolheram viajar em caravanas.
3. “A pedido dos democratas, será um muro de aço e não de concreto” - Falso
Democratas sempre se opuseram ao muro de concreto na fronteira EUA-México. Mas eles não propuseram um muro de aço como alternativa. Em vez disso, os democratas continuaram a se opor à construção de qualquer novo muro de aço ou de concreto na fronteira do sul. Eles apenas deixaram a porta aberta para financiar uma barreira como parte de um acordo geral de imigração.

4. “Todos os americanos são feridos pela imigração ilegal descontrolada. Ela restringe os recursos públicose diminui os trabalhos e salários. Entre os mais atingidos, estão os afro-americanos e os hispano-americanos” - Falso
Há evidência de que uma pequena parcela de americanos nascidos nos EUA tem salários diminuídos por causa de imigrantes ilegais competindo por trabalhos similares, baixando a faixa salarial. Pesquisas mostram que os efeitos negativos estão concentrados entre trabalhadores sem diplomas universitários, que são desproporcionalmente afro-americanos, mas inclui gerações mais novas de imigrantes.
De modo geral, economistas determinaram que imigrantes (não documentados ou não) tendem a ajudar trabalhadores americanos em funções que exigem poucas habilidades, deixando para os americanos nascidos a oportunidade de mudar para áreas gerenciais ou funções que exigem conhecimento. Por exemplo, um estudo de 2009 da University of California-Davis feito pelo economista Giovanni Peri apontou que 1%de aumento no emprego por causa da imigração produziu em média 0,5% salários mais altos para cada trabalhador em cada estado. / CNN