O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, e a segunda-dama, Usha Vance, chegam nesta sexta-feira, 28, na Groenlândia, tendo como pano de fundo da viagem as renovadas ameaças do presidente Donald Trump sobre os Estados Unidos controlarem o território autônomo dinamarquês.
Depois de uma mudança de roteiro em meio aos ânimos exaltados entre EUA e Dinamarca, os Vances viajarão apenas para o noroeste da Groenlândia, para a Base Espacial de Pituffik, antiga Base Aérea de Thule, que opera uma rede de radares de alerta precoce, satélites e sensores para detectar mísseis balísticos intercontinentais.

A segunda-dama Usha Vance estava programada para aproveitar os pontos turísticos culturais da Groenlândia e assistir a uma corrida de trenós puxados por cães. Mas os planos mudaram quando o vice-presidente anunciou na terça-feira que se juntaria à esposa — apenas algumas horas depois de Mette Frederiksen, a primeira-ministra dinamarquesa, dizer que o governo Trump estava colocando uma “pressão inaceitável” no território.
Em uma publicação no X, Vance disse que iria “apenas verificar o que está acontecendo com a segurança na Groenlândia”.
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Embora a visita tenha sido anunciada como uma viagem privada, Usha inicialmente iria com uma delegação de alto nível, incluindo Michael Waltz, conselheiro de segurança nacional de Trump.
As autoridades da Groenlândia, que estão em meio a negociações para formar um governo após as eleições deste mês, foram rápidas em enfatizar, no início desta semana, que a segunda-dama e seu partido não foram convidados pelo Estado. O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, acusou Washington de “interferência estrangeira”.
“Estamos agora em um nível em que isso não pode de forma alguma ser caracterizado como uma visita inofensiva da esposa de um político”, disse Egede no domingo, antes que os planos mudassem. “O único propósito é demonstrar poder sobre nós.
Groenlandeses estão irritados
Os Estados Unidos têm um acordo de defesa de longa data com a Dinamarca para estacionar tropas na Groenlândia, e autoridades americanas podem visitar a base à vontade. Mas a mudança de roteiro, focando diretamente na base espacial, parece ser uma tentativa de evitar o caldeirão que está se formando na capital.
O sentimento anti-Trump tem aumentado constantemente na ilha, e ativistas já estavam se preparando para protestar contra a chegada da delegação americana, começando pelo aeroporto internacional na capital, Nuuk, quando os planos iniciais da viagem ainda incluíam a região.
Em Sisimiut, uma das maiores cidades da Groenlândia, onde Usha assistiria à corrida de trenós puxados por cães, os organizadores da corrida fizeram uma declaração direta no domingo de que, embora a corrida fosse aberta ao público, eles não pediram que os Vance comparecessem.
“Acho muito positivo que os americanos tenham cancelado sua visita à sociedade groenlandesa. Eles apenas visitarão sua própria base, Pituffik, e não temos nada contra isso”, declarou o ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, à rádio pública DR.
Anne Merrild, uma groenlandesa e especialista em política e desenvolvimento do Ártico, disse para a agência Associated Press que as recentes manifestações anti-EUA em Nuuk podem ter assustado o governo Trump o suficiente para que ele reconsiderasse a viagem e evitasse interações com groenlandeses irritados.
Ainda assim, disse Merrild, até mesmo uma visita à base espacial mostra que o governo dos EUA ainda considera a anexação da Groenlândia uma possibilidade.
“É um sinal para o mundo inteiro, é um sinal forte para a Dinamarca, é um sinal para a Groenlândia”, ela disse. “E, claro, também é um sinal interno para os EUA, de que isso é algo que estamos buscando.”
O que saber sobre a Base Espacial de Pituffik
Antigamente chamada de Base Aérea de Thule, agora conhecida como Base Espacial Pituffik, esta instalação operada pelos EUA no noroeste da Groenlândia é um dos locais militares estrategicamente mais importantes do mundo.
A presença militar americana na Groenlândia começou durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Groenlândia era uma colônia dinamarquesa. Durante a Guerra Fria, a então base Thule foi um posto chave no Ártico. Dali, bombardeiros americanos de longo alcance podiam alcançar a União Soviética, e sistemas de radar massivos foram construídos para detectar mísseis cruzando a rota polar.

Hoje, Pituffik é parte de uma rede global de infraestrutura de defesa dos EUA e uma estação crucial. Especialistas militares dizem que, à medida que novas ameaças, como mísseis hipersônicos, surgem, os sistemas de alerta precoce em Pituffik são indispensáveis.
Cerca de 150 membros da Força Aérea e da Força Espacial dos EUA operam permanentemente em Pituffik. Eles lidam com defesa de mísseis e vigilância espacial, e o Radar de Alerta Antecipado Atualizado baseado lá pode detectar mísseis balísticos em seus primeiros momentos de voo./NYT, WP e AP.