Como você certamente já deve ter ouvido, Nova Jersey, nos Estados Unidos, recentemente se tornou o epicentro de uma obsessão — ou, alguns poderiam dizer, pânico — com objetos aéreos. Drones misteriosos, aviões ou talvez até espaçonaves extraterrestres, dependendo da sua perspectiva, parecem estar iluminando o céu noturno há um mês, gerando inúmeras teorias sobre seus propósitos e origens.
“Eu acho que é tipo... eles estão, sabe, tentando observar o que está acontecendo com o público”, especulou uma mulher na televisão. “É quase como um censo. Não sei, será que isso é uma teoria da conspiração estranha?”
Não era mais estranho do que teorias concorrentes. Na semana passada, o deputado Jefferson Van Drew, um congressista republicano cujo distrito inclui a Jersey Shore, afirmou que os drones estavam sendo enviados por uma “nave-mãe iraniana” operando na costa leste. Em um discurso de quatro minutos aos seus eleitores, publicado no YouTube, ele descreveu drones “do tamanho de minivans” que claramente não eram obra de um “hobbyista de quintal”. O Pentágono finalmente interveio, afirmando que não havia nenhuma nave-mãe iraniana estacionada perto de Cape May (ou em qualquer lugar na costa leste).
“Sei que você está esperando uma pergunta sobre drones”
Em uma entrevista para a emissora local Fox, na Filadélfia, o major-general James Poss, aposentado da Força Aérea e agora consultor e especialista em inteligência, apresentou sua própria interpretação. “Apostaria que provavelmente são o que chamamos de — e me desculpem pelo nome longo e complicado — aeronaves eletrônicas de decolagem e pouso vertical”, disse ele. “O nome popular para elas é carros voadores.”
A resposta inicial de autoridades federais teve um tom de “nada para ver aqui”, o que só frustrou políticos de ambos os partidos, que estão exigindo respostas. O FBI reconheceu cautelosamente que “sem dúvida” aeronaves não tripuladas estavam sobrevoando Nova Jersey e classificou isso como “irresponsável”, mas a explicação não foi suficiente.
Na terça-feira, um briefing com o porta-voz do Pentágono, major-general Pat Ryder, começou com discussões sobre uma parceria de defesa entre os Estados Unidos e o Catar, a importância de um cessar-fogo em Gaza e a transição presidencial, mas a atenção dos repórteres na sala claramente estava voltada para outro lugar. Inevitavelmente, após uma pergunta sobre a Síria, veio outra fantasiosa: “Sei que você está esperando uma pergunta sobre drones”, disse o repórter, “então vou fazê-la”.
O general Ryder continuou o esforço nacional para acalmar os ânimos, destacando que existem um milhão de drones registrados nos Estados Unidos e que, em qualquer dia, cerca de 8.500 estão em voo. A grande maioria deles é recreativa, mas arquitetos, engenheiros e outros profissionais também os utilizam. Ele mencionou que um parente próximo seu era operador profissional de drones. Embora o governo esteja levando esses novos relatos “a sério”. ele afirmou que “às vezes, quando você foca em algo, de repente percebe mais”.
Até o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, de Nova York, sugeriu que o Departamento de Segurança Interna deveria implementar melhores tecnologias de detecção de drones. Cidadãos com dúvidas sobre esses drones, argumentou ele, não deveriam ter que ficar esperando por uma resposta.
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“Sabemos que os OVNIs brincam com ‘imitação’”
Para alguns, há uma única resposta: alienígenas. Em sua página no Instagram, com 1,5 milhão de seguidores, Tom DeLonge, guitarrista da banda Blink-182 e conhecido em certos círculos por seu entusiasmo por OVNIs, reconheceu que “embora ainda não tenhamos todos os fatos”, o que as pessoas estão vendo pode ser espaçonaves alienígenas “imitando” as terrestres. “Sabemos que os OVNIs brincam com ‘imitação’, e isso é sabido há bastante tempo”, escreveu ele. “Por quê? Para nos fazer notá-los sem causar pânico? Quem sabe...”
Frenesis sobre grandes objetos iluminados de maneira suspeita no alto da atmosfera estão conosco há décadas. No verão de 1947, um piloto experiente no noroeste do Pacífico, chamado Kenneth Arnold, relatou ter visto uma série de objetos brilhantes voando sobre o Monte Rainier. Centenas de outros avistamentos ocorreram naquele verão, e foi nesse ponto que o termo “disco voador” entrou no vocabulário.
Os EUA têm uma base militar secreta chamada Área 51, próxima da cidade de Rachel, no estado de Nevada. Há uma década, o Departamento de Defesa dos EUA confirmou sua existência e especificou que desde 1955 serviu como campo de treinamento para a Força Aérea do País. Cerca de 55 mil pessoas visitam Rachel todos os anos para tentar chegar o mais próximo possível da Área 51.
Tudo isso acontecia no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial e do início da Guerra Fria. Assim como agora, a tecnologia estava em ascensão e as suspeitas corriam soltas. Esse tipo de frenesi, de certa forma, é quase esperado na aurora da era da inteligência artificial, quando o homem mais rico do mundo, determinado a colonizar Marte, é um conselheiro importante do presidente eleito, e a desconfiança no governo, na mídia e nos interesses corporativos é extremamente alta.
Greg Eghigian, professor de história e bioética na Penn State, estudou as condições culturais em torno desses tipos de avistamentos e escreveu sobre eles em seu livro, “Depois que os Discos Voadores Chegaram”. A gênese de algumas paranoias decorreu de programas secretos do governo que produziam novos tipos de tecnologia com implicações catastróficas.
“A guerra trouxe essa ideia de ‘Meu Deus, o governo está criando coisas que não podíamos conceber’”, disse ele. Eghigian apontou para outros “picos” e “ondas” — como os entusiastas de OVNIs chamam esses surtos periódicos de atividades aéreas estranhas, geralmente observadas em uma área geográfica limitada. Eles ocorreram nos anos 1950 e novamente em 1973, enquanto o escândalo de Watergate se desenrolava, os preços da gasolina disparavam e a Skylab, a primeira estação espacial dos EUA, era lançada em maio daquele ano.
O padrão é praticamente sempre o mesmo. “Você tem avistamentos vagos e intrigantes que têm o potencial de deixar as pessoas nervosas”, disse Eghigian. “Você tem autoridades que opinam, mas que não convencem em suas explicações. E você tem políticos exigindo respostas.” Muitas explicações “estão sendo contestadas”, como ele colocou, “e é assim que sempre aconteceu”.
No início de 1953, a CIA contratou um professor do Caltech para analisar relatos de avistamentos de OVNIs. Ele e uma equipe concluíram que, geralmente, havia explicações para cada fenômeno: luz do sol, por exemplo, refletindo em um jato. O verdadeiro problema não eram formas de vida alternativas. Não, era o público e seu reflexo para a histeria em massa.
c.2024 The New York Times Company
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