O que está acontecendo em Mariupol, a cidade ucraniana cercada por tropas russas

Veja um resumo sobre a catástrofe humanitária que está acontecendo na cidade portuária no sul da Ucrânia

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Por Miriam Berger, Ellen Francis e Loveday Morris

THE WASHINGTON POST - Moscou emitiu um ultimato em 20 de março: as forças ucranianas teriam que deixar a cidade sitiada de Mariupol ou enfrentar novos ataques e um “tribunal militar”.

A Ucrânia rejeitou categoricamente a ordem de rendição da cidade, que é alvo de um bloqueio e de bombardeios russos por quase três semanas.

Aqui está um resumo com o que saber sobre Mariupol e a catástrofe humanitária que está acontecendo lá.

Homens enterram vítimas mortas em bombardeios russos em Mariupol. Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko

Onde fica Mariupol?

Mariupol é uma cidade portuária ucraniana no Mar de Azov, no sul da região de Donetsk. Foi fundada no final do século XVIII e mais tarde tornou-se um centro industrial, sendo conhecida pela produção de aço e outros metais.

Imagem de satélite mostra apartamentos em chamas após bombardeio no nordeste de Mariupol. Foto: Maxar Technologies via AP

Atualmente, está estrategicamente localizada entre a Crimeia, controlada pela Rússia, e áreas do leste da Ucrânia, controladas por separatistas apoiados pela Rússia. Muitos de seus moradores falam russo. Antes da guerra, Mariupol tinha uma população de cerca de 430 mil pessoas.

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Por que Mariupol é importante para a Rússia?

Se a Rússia capturar a cidade, Mariupol seria a primeira vitória estratégica de Moscou na guerra e ajudaria a liberar tropas para outros alvos russos, como tomar a capital, Kiev. Também daria à Rússia um corredor terrestre conectando territórios sob seu controle.

Equipes de resgate e do Corpo de Bombeiros chegam a maternidade bombardeada em Mariupol, em 9 de março. Foto: AP Photo/Evgeniy Maloletka

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As forças ucranianas lutaram pelo controle de Mariupol antes – em 2014, depois que uma revolta ucraniana derrubou o presidente pró-Putin da Ucrânia e a guerra estourou no leste da Ucrânia entre Kiev e Moscou e seus apoiadores. Durante vários meses, separatistas de Donetsk apoiados pela Rússia e forças do governo ucraniano disputaram o controle da região. Os separatistas chegaram a assumir o controle de Mariupol por algum tempo, até a cidade retornar totalmente ao domínio da Ucrânia.

Os combates, no entanto, não pararam em outras partes da região de Donbas, no leste da Ucrânia: cerca de 14 mil pessoas morreram ali entre 2014 e a invasão da Rússia em 24 de fevereiro deste ano. (A Rússia também anexou unilateralmente a Crimeia em 2014.)

O que está acontecendo em Mariupol desde a invasão russa?

No início da guerra, as tropas russas moveram-se para cercar Mariupol. Cerca de um quarto dos moradores fugiu da cidade.

Os militares russos cortaram o abastecimento de alimentos, eletricidade, suprimentos médicos e redes de comunicação enquanto bombardeavam constantemente a cidade, atingindo indiscriminadamente tudo, desde casas a escolas e hospitais, enquanto os moradores ficaram em abrigos antiaéreos por dias a fio. Entre os locais atingidos estão um hospital e sua maternidade, um teatro onde várias centenas de pessoas teriam se abrigado e uma escola de arte onde mais 400 pessoas estariam escondidas no subsolo.

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A Ucrânia disse que a Rússia impediu repetidos pedidos de ajuda humanitária para a cidade bloqueada. Eventualmente, corredores humanitários foram abertos e milhares de moradores tomaram caminhos traiçoeiros para sair.

Em 13 de março, o conselho local de Mariupol disse em seu Telegram oficial que mais de 2.100 moradores morreram em ataques russos, uma alegação que o The Washington Post não pôde verificar de forma independente. Os dois últimos jornalistas internacionais na cidade, repórteres da Associated Press, conseguiram escapar dois dias depois, quando as forças russas os perseguiram. A propaganda do Kremlin afirmou falsamente que as fotos registradas por ambos foram encenadas.

Três semanas depois do cerco, as forças ucranianas que defendiam Mariupol, que incluía membros do Batalhão Azov, da extrema direita da Ucrânia, perderam o controle. As tropas russas entraram em todas as partes da cidade. Os combates rua a rua e os bombardeios contínuos impediram muitos moradores de deixarem a cidade e outros de realizar missões de busca e resgate após os bombardeios.

Por que a Rússia é acusada de cometer crimes de guerra em Mariupol?

Com base em relatórios iniciais, o principal diplomata da União Europeia acusou, em 21 de março, a Rússia de cometer “um enorme crime de guerra” em seu ataque a Mariupol.

“A cidade será completamente destruída e as pessoas estão morrendo”, disse Josep Borrell, chefe de política externa da UE, a repórteres.

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De acordo com a lei internacional, é ilegal atacar civis indiscriminadamente e sitiá-los durante a guerra. Também é ilegal atingir locais como hospitais e transferir populações à força.

Serviços de emergência transportam grávida ferida durante bombardeio russo a maternidade em Mariupol. Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Um relatório publicado no mesmo dia pela Human Rights Watch, com sede em Nova York, disse que o Tribunal Penal Internacional, as Nações Unidas e outras jurisdições “deveriam investigar possíveis crimes de guerra em Mariupol”.

A Human Rights Watch disse que em entrevistas com 32 pessoas que conseguiram escapar da cidade portuária, muitas descreveram ter visto cadáveres espalhados pelas estradas quando saíram em busca de comida, água ou sinal de telefone. Com as interrupções nas linhas telefônicas, eles não puderam falar com parentes, saber o que estava acontecendo na cidade ou saber se poderiam tentar deixar a cidade com segurança.

“Os moradores de Mariupol descreveram uma paisagem infernal congelante repleta de cadáveres e prédios destruídos”, disse Belkis Wille, pesquisador sênior de crises e conflitos da Human Rights Watch. “E estes são os sortudos que conseguiram escapar, deixando para trás milhares que estão isolados do mundo na cidade sitiada.”

Os cidadãos que fugiram da cidade em comboios nos últimos dias atravessaram as linhas de frente com para-brisas quebrados, veículos marcados com bandeiras brancas e placas que diziam “crianças”.

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O prefeito Vadim Boichenko disse ao The Washington Post em 19 de março que milhares de pessoas que estavam abrigadas em um pavilhão esportivo em Mariupol foram deportadas sob a mira de armas para a Rússia depois que tropas russas tomaram a área. O The Washington Post não pôde verificar imediatamente essa afirmação.

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