A nação de Moçambique, no sul da África, está enfrentando a pior violência relacionada a eleições desde o fim da guerra civil, há 32 anos.
Desde 23 de dezembro, quando o tribunal superior do país confirmou o resultado da eleição presidencial a favor do candidato do partido governante de longa data, pelo menos 125 pessoas morreram em protestos de rua em todo o país, segundo uma organização da sociedade civil.
Isso eleva para 252 o número de mortes desde as eleições de outubro, à medida que manifestantes acusam o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), de fraudar o pleito, gerando repetidos confrontos com a polícia e os soldados.
O principal candidato da oposição declarou-se vencedor legítimo da eleição e convocou os moçambicanos a paralisarem o país. Pneus foram queimados nas ruas, prédios saqueados e vandalizados, multidões enfurecidas ergueram bloqueios informais de pedágio, e centenas de presos fugiram.
“Isso já nem é mais protesto. É como uma revolta social”, disse Cídia Chissungo, uma ativista de direitos humanos de Moçambique.
Por que o que acontece em Moçambique é importante?
A instabilidade em Moçambique tem grandes implicações regionais e globais. O país é um ponto estratégico que conecta o sul da África a outras partes do mundo. Suas reservas offshore de gás natural atraíram o maior investimento estrangeiro direto já feito no continente.
Além disso, o país luta há anos contra uma insurgência ligada ao Estado Islâmico. Potências ocidentais temem que organizações terroristas possam ganhar uma base na região, caso o conflito não seja contido.
Como o país chegou a essa situação?
O descontentamento popular começou muito antes das eleições deste ano para a presidência. Por anos, a Frelimo, partido que governa Moçambique desde a independência de Portugal, em 1975, enfrentou acusações de fraude eleitoral.
A insatisfação pública cresceu com denúncias de corrupção e o escândalo da dívida que quase colapsou a economia, enganando investidores americanos. A queda no investimento em serviços públicos, o aumento da pobreza e do desemprego, além do gasto extravagante por pessoas ligadas à Frelimo, deixaram muitos moçambicanos desiludidos com as promessas de progresso pós-colonial.
“A fraude eleitoral foi a grande gota d’água”, disse Hannah Danzinger da Silva, diretora da organização Search for Common Ground, que promove resolução de conflitos.
Vários observadores independentes relataram irregularidades generalizadas no processo eleitoral. Daniel Chapo, da Frelimo, foi declarado vencedor com 65% dos votos. Jovens, em particular, apoiaram Venâncio Mondlane, candidato independente que ficou em segundo lugar com 24%. Mondlane declarou-se vencedor, alegando que a eleição foi fraudada.
Analistas dizem que sua retórica, às vezes incendiária, alimentou a violência nas ruas. “Ele não consegue controlar o que começou”, disse Danzinger da Silva.
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Como o caos poderia ser contido?
Todos concordam que os lados opostos precisam dialogar. Foi o diálogo que encerrou a guerra civil entre a Frelimo, um movimento marxista, e a Renamo, a força anticomunista. Mas iniciar esse diálogo tem sido um ponto de discórdia.
Filipe Nyusi, o atual presidente, propôs uma reunião com Chapo, Mondlane e outros dois candidatos presidenciais, mas ela nunca aconteceu. Mondlane, que fugiu de Moçambique, recusou-se a voltar sem uma garantia de que não seria preso; ele enfrenta acusações relacionadas às manifestações que alega serem motivadas politicamente.
Mondlane também disse temer por sua segurança, já que dois de seus assessores foram mortos a tiros após as eleições. Ele, no entanto, apresentou demandas em uma carta para resolver o impasse político, incluindo a reforma da agência estatal que administra as eleições, penalidades para quem comete fraude eleitoral e reformas para limitar a influência dos partidos políticos nas atividades do Estado.
Mondlane e analistas disseram que a comunidade internacional precisaria se envolver nas negociações.
O que vem a seguir?
Há temores de que o caos nas ruas continue a crescer até 15 de janeiro, quando Chapo deve ser empossado como presidente. Alguns observadores temem que os apoiadores de Mondlane tentem impedir a posse — e que criminosos aproveitem a desordem para roubar e saquear.
Se o governo declarar estado de emergência, isso poderia dar mais liberdade para a intervenção militar. No entanto, muitos temem que isso leve a mais mortes.
Uma resolução discutida na mídia sugere que a Frelimo forme um governo de unidade nacional, oferecendo posições no governo aos partidos da oposição. Mas alguns analistas consideram essa ideia improvável.
Teodoro Waty, membro do principal órgão de decisão da Frelimo, afirmou que, embora deseje que Chapo seja o próximo presidente, o partido precisa tornar as instituições eleitorais mais transparentes e abordar as preocupações dos moçambicanos que acreditam que Chapo perdeu.
“Precisamos de reconciliação imediata no país”, disse ele. “Não podemos continuar vivendo com desconfiança.”
c.2024 The New York Times Company
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