THE NEW YORK TIMES - Há relatos de que a Rússia pode estar planejando usar – ou, segundo relatórios não verificados de autoridades locais em Mariupol, pode já ter usado – armas químicas como parte de sua ofensiva no leste da Ucrânia. O governo Biden já montou uma equipe de oficiais de segurança nacional para considerar opções caso isso aconteça; agora é a hora de essas discussões se tornarem mais públicas.
Já percorremos esta estrada antes, e mal. Em agosto de 2012, Barack Obama advertiu publicamente o regime de Bashar Assad na Síria contra o emprego de armas químicas. “Uma linha vermelha para nós é ver um monte de armas químicas se movendo ou sendo utilizadas”, disse ele. “Isso mudaria meu cálculo.”
Não mudou. No ano seguinte, surgiram relatos de que Assad havia começado a usar armas químicas, culminando em um ataque com gás sarin em um subúrbio de Damasco. Obama hesitou, temendo uma guerra mais ampla. O Parlamento britânico votou contra a ação militar na Síria. Os republicanos do Congresso mudaram da noite para o dia de intervencionistas agressivos para isolacionistas céticos. Vladimir Putin interveio com uma oferta para que Assad se livrasse voluntariamente de seu arsenal químico.
O governo Obama se vangloriou de ter alcançado o melhor resultado possível. Mas mais tarde veio à tona que Assad não havia desistido de todo o seu arsenal e continuou a usar gás cloro contra seus adversários sem consequências. Putin consolidou sua aliança com Assad, levando à introdução de forças russas na Síria em 2015.
Isso serviu de predicado para a tomada da Crimeia pela Rússia alguns meses depois. A hesitação de Obama na Síria “foi decisiva”, disse recentemente o ex-presidente François Hollande da França. “Decisivo para a credibilidade americana, e isso teve consequências. Depois disso, acredito, Putin considerou Obama fraco”.
Este não é um cenário que a equipe de Biden pode se dar ao luxo de repetir. E o que fazer?
Faça apenas promessas que pretende cumprir. O uso de armas químicas pela Síria foi uma crise militar, humanitária e de normas internacionais. A linha vermelha de Obama transformou-a em uma crise de credibilidade americana – cujas consequências foram muito mais abrangentes do que qualquer coisa que aconteceu na Síria.
A resposta dos EUA deve ser assimétrica. O presidente Biden fez uma ameaça velada a Putin quando se encontraram em junho passado em Genebra, mencionando o ataque cibernético russo a um oleoduto americano: “Eu olhei para ele e disse: ‘Bem, como você se sentiria se o os americanos fizessem um ataque cibernético aos oleodutos de seus campos de petróleo?’”. Isso foi um aviso justo.
Exercer pressão diplomática máxima sobre a Alemanha e outros estados europeus para acabar com as importações de petróleo e gás da Rússia é outro. Segundo uma estimativa, essas vendas fornecem ao Kremlin US$ 1 bilhão por dia. Berlim continua sendo o elo mais fraco no esforço para criar um regime de sanções eficaz contra a Rússia.
Essa posição, covarde agora, se tornará moralmente insustentável para a Alemanha se a Rússia começar a usar gás venenoso nos ucranianos. Deve levar à remoção imediata de todas as instituições financeiras russas do sistema de transações SWIFT para tornar os pagamentos de petróleo e gás quase impossíveis.
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Destrua as cadeias de suprimentos da Rússia. Este é o projeto do vice-secretário do Tesouro Wally Adeyemo, que está procurando maneiras de interromper as cadeias de suprimentos militares do Kremlin. Deve ir além disso para todos os setores da economia russa, proibindo automaticamente qualquer empresa que faça negócios na Rússia de também fazer negócios nos Estados Unidos e, com esperança, na Europa.
Arme a Ucrânia com armas ofensivas. “Se Putin usar armas químicas – um método favorito. dele, desde envenenar oponentes políticos até apoiar seu uso no campo de batalha sírio – o Ocidente precisa responder agressivamente”, me disse o ex-comandante da Otan, Almirante James Stavridis. “Assumindo que essas armas seriam entregues por via aérea, aumenta a aposta em dar aos ucranianos ainda mais ferramentas para administrar uma zona de exclusão aérea eficaz, incluindo caças MIG-29 e outras plataformas e drones com capacidade antiaérea”.
Ataque Belarus. O governo Biden desconfia do confronto direto com a Rússia. Deveria ser muito menos contido em perseguir o regime fantoche do Kremlin. Desligar as luzes em Minsk por um dia seria um tiro útil na proa russa, enquanto o ditador Alexander Lukashenko pondera se juntar ao esforço militar do Kremlin.
Espere o pior. “Ele não tem escrúpulos com ações realmente horríveis”, outro ex-comandante militar americano de alto escalão me disse sobre Alexander Dvornikov, o novo comandante da guerra da Rússia na Ucrânia. “Foi o que ele fez em Aleppo.” Uma das características do uso de armas químicas por Assad é que ele começou a usá-las de maneira discreta, mas ficou mais ousado com o tempo. O efeito, alertou o ex-oficial, pode ser uma “Srebrenica cumulativa”, referindo-se ao massacre sérvio de 1995 de mais de 8.000 homens e meninos muçulmanos na Bósnia.
Se planeje para uma longa guerra. Certifique-se de que podemos fornecer à Ucrânia as armas de que ela precisa por pelo menos um ano. Comece a treinar as forças ucranianas em avançados sistemas de combate ocidentais. Prepare-se para isolar a Rússia da economia global por uma década.
Podemos não ser capazes de impedir Putin de usar armas químicas, mas ainda podemos evitar o erro fatal que cometemos há uma década com Assad.
*Bret Stephens é colunista de opinião, ganhou um Prêmio Pulitzer por comentários no The Wall Street Journal e foi editor-chefe do The Jerusalem Post
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