O que Lula vai fazer na Europa e com quem vai falar no G-7? Entenda

Missão presidencial será marcada pelos encontros bilaterais previstos, como uma reunião com o papa Francisco; há a expectativa de primeiro encontro com o argentino Javier Milei, mas sem reunião entre eles

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Foto do author Felipe Frazão

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a caminho da Europa, onde participa da Cúpula do G-7, na Itália, que começa nesta quinta-feira, 13, e da 112ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Suíça.

O presidente terá encontros reservados com o papa Francisco e ao menos quatro outros líderes mundiais - de França, Índia, África do Sul e União Europeia. Ele evitou participar de uma reunião global patrocinada pela Ucrânia para discutir sua proposta de paz na guerra contra a Rússia.

Lula embarcou para nova viagem à Europa em que participará de Cúpula do G-7 pela oitava vez e de uma conferência da OIT Foto: DIV

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Lula terá compromissos públicos nesta quinta-feira, dia 13, e sexta-feira, dia 14. Embora o presidente esteja em território europeu, o Palácio do Planalto rechaçou convite da Ucrânia para que ele estendesse permanência no continente e participasse da conferência de paz, nos dias 15 e 16, durante o fim de semana, na região de Lucerna, também em solo suíço. O Brasil deve ser representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi, representante do País na Suíça.

A viagem de Lula à Itália será marcada pelos encontros bilaterais previstos para acontecer e também pelos que estão fora dos planos. O governo brasileiro confirmou que o papa atenderá ao pedido de reunião feito por Lula. O petista se encontrará em separado com os presidentes da França, Emmanuel Macron, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

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Todos os quatro estiveram com Lula no ano passado, e passam por tensões políticas, com resultados eleitorais adversos internos. O presidente deve discutir com Macron e Ursula o resultado das eleições para o Parlamento Europeu, onde a extrema direita avançou, e assuntos econômicos, como o Acordo Mercosul-União Europeia. Modi e Ramaphosa são líderes políticos de países parceiros no Brics e no fórum tripartite Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), que sofreram reveses em eleições parlamentares recentes, embora sigam no poder.

O presidente da Argentina, Javier Milei, confirmou presença na mesma sessão de debates que Lula no G-7, a ser aberta pelo papa Francisco Foto: Agustin Marcarian/REUTERS

Frente a Frente com Milei?

Por outro lado, Lula se encontrará na Itália pela primeira vez com Javier Milei, presidente da Argentina e adversário político. Eles dividirão o mesmo palco global, na reunião ampliada do G-7 e países convidados, com direito a um discurso de cada durante 5 minutos. Ambos confirmaram presença a convite do governo italiano, mas, segundo o Itamaraty, Milei não formalizou pedido de reunião paralela com Lula durante a passagem pela Itália.

Em ao menos duas cartas, Milei já manifestou intenção de conversar com Lula. O argentino tem ficado sem resposta. Eles protagonizaram embates e provocações no ano passado, durante a campanha eleitoral argentina - Milei chegou a desdenhar de uma reunião de trabalho com o petista. Depois de eleito, deu sinais de que buscaria uma aproximação pragmática, algo ainda visto com desconfiança pelo Planalto.

A Casa Rosada informou que Milei viajará acompanhado apenas de sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência argentina. A chanceler Diana Mondino, que tenta para atenuar a rivalidade entre o libertário e o petista, será a enviada de Buenos Aires para a conferência convocada pela Ucrânia, e não passará pelo G-7 na Itália. Tanto Milei quanto Lula foram convidados pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, uma das líderes da direita europeia.

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TOPSHOT - US President Joe Biden (R) shakes hands with Ukraine’s President Volodymyr Zelensky (L) as they hold a bilateral meeting at the Intercontinental Hotel in Paris, on June 7, 2024. Biden announced $225 million in new aid for Ukraine during talks with Zelensky in Paris. (Photo by SAUL LOEB / AFP) Foto: Saul Loeb/SAUL LOEB

Desencontro com Zelenski

No ano passado, Lula passou por uma saia-justa ao participar da cúpula em Hiroshima, no Japão, marcada por um desencontro entre ele e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, justificado com versões divergentes até hoje. Os presidentes se reuniriam pessoalmente apenas quatro meses depois, em Nova York, mas até hoje dão sinais de falta de sintonia política. O episódio desgastou Lula, cujas ações e discursos vêm sendo lidos por ucranianos e seus aliados ocidentais como gestos em favor da Rússia, o que o presidente nega.

Reuniões preparatórias para a cúpula de 2024, em temas como Segurança Nuclear, Corrupção, Clima e Justiça, deixaram claro que a guerra na Ucrânia continua como a prioridade total do bloco. Autoridades ucranianas participaram das discussões prévias. Uma delas é o uso de ativos russos congelados para financiar a defesa ucraniana.

Zelenski é aguardado para uma sessão de discussões sobre a guerra, presencialmente. O programa prevê que ele participe do G-7 nesta quinta-feira, dia 13, enquanto Lula estará na Suíça. Eles, portanto, devem mais uma vez se desencontrar.

Putin e os representantes russos estão totalmente alijados dos debates na Itália e na Suíça. Por isso, Lula esquivou-se de atender ao chamado de Zelenski. No mês passado, o Brasil assinou com a China - principal parceiro estratégico de Moscou - uma proposta de negociação de paz e “desescalada” nos combates que não exige a saída das tropas russas imediatamente e prevê a realização de uma conferência internacional de paz com a garantia da presença de russos e ucranianos.

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Lula foi convidado a participar do G-7 pela oitava vez, agora pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anfitriã do encontro na Apúlia Foto: Ricardo Stuckert/PR Foto: Ricardo Stuckert

Sem protagonismo à vista

Lula chegou a discutir com seus assessores a conveniência de ir ou não ao G-7 na Itália. Um ministro e diplomatas ponderam se a viagem valeria a pena e se Lula teria algum protagonismo - por causa do contexto político e das divergências com o que o presidente pensa.

No ano passado, ele visitou o país e quase ficou sem ser recebido por Meloni, com quem não possui afinidade política - a reunião foi confirmada de última hora, e depois Lula a elogiou.

Ausentar-se também romperia com uma tradição - o presidente sempre foi às reuniões do G-7 quando convidado - e poderia prejudicar sua postulação por ser uma liderança do Sul Global e servir de ponte com as nações desenvolvidas.

Pesaram ainda o fato de o presidente italiano, Sergio Mattarella, preparar visita ao Brasil em julho, logo na sequência, e de Lula ser o anfitrião do G-20. Ele deve usar o espaço na Itália para dar sua visão sobre os conflitos em curso e como vê caminhos para a paz nas guerras na Ucrânia e em Gaza, em que os países do G-7 têm se manifestado mais em defesa de Israel, ao contrário do petista.

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Lula também vai usar os discursos para falar sobre os planos do Brasil como presidente do G-20. O petista quer aproveitar o G-7 como plataforma para apelar aos líderes - entre eles o papa - que se comprometam com a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada como prioridade do petista no G-20. O objetivo da iniciativa é mobilizar recursos já existentes, experiências e novas doações para promover a segurança alimentar e reduzir desigualdades.

“A aliança prevê e espera a participação de todos os países e de todas as lideranças. Há uma expectativa do governo brasileiro de que todos participem, inclusive o Vaticano e o papa”, disse o embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.

IA na Pauta

O tema principal da reunião em que Lula vai discursar é Inteligência Artificial, Energia, África e Mediterrâneo. O encontro deve durar três horas e meia. O papa será o primeiro orador. Os líderes vão participar ainda de uma foto conjunta e de um banquete oferecido pela anfitriã, em Borgo Egnazia.

Um dia antes, Lula discursa e co-preside o fórum de inauguração da Coalizão para Justiça Social, na OIT, em Genebra. Ele deve falar sobre a iniciativa de promoção do trabalho digno, lançada em conjunto com o presidente dos EUA, Joe Biden, no ano passado. A experiência tem como objetivo estimular empregos de qualidade, a igualdade salarial entre homens e mulheres e promover direitos trabalhistas.

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