Mohammed bin Salman, segundo homem na sucessão do Reino Saudita e ministro da Defesa do país, concedeu no dia 4 a The Economist sua primeira entrevista oficial. Numa conversa que avançou noite adentro, o jovem príncipe falou sobre o intervencionismo da política externa saudita e sobre as reformas econômicas que o governo de seu pai pretende implementar para modernizar a economia do país.
Vamos começar pelas execuções do fim de semana passado. Por que elas aconteceram agora, tantos anos após os atentados terroristas na Arábia Saudita? E por que a inclusão de um clérigo xiita entre os executados? Em primeiro lugar, a condenação desses indivíduos ocorreu no âmbito de processos criminais em que eles foram indiciados por envolvimento com terrorismo. Esses processos passaram por três instâncias judiciais. Os acusados tiveram o direito de contratar advogados e seus defensores estiveram presentes em todas as etapas dos julgamentos. A imprensa teve acesso às audiências. E os juízes não fizeram absolutamente nenhum tipo de distinção, pouco importando se os acusados eram xiitas ou sunitas. O que fizeram foi examinar os crimes e os procedimentos de investigação e em seguida julgar e proferir sentenças. O que houve foi a execução dessas sentenças.
Mas as execuções causaram reações violentas no Irã. A embaixada saudita foi atacada, seu governo cortou relações com o Irã, e foi seguido por Bahrein e Sudão. Quais serão as consequências da escalada nas tensões regionais? Para nós é estranho que ocorram manifestações contrárias à Arábia Saudita no Irã. Que relação há entre um cidadão saudita, que cometeu um crime dentro de nossas fronteiras, o que isso tem a ver com o Irã? A única coisa que isso mostra é que o Irã ambiciona estender sua influência sobre os outros países da região.
O senhor não receia que o rompimento das relações diplomáticas agrave ainda mais as tensões? Pelo contrário, agimos assim porque temíamos que elas se agravassem. Imagine se um diplomata saudita ou algum de seus parentes fosse atacado em território iraniano. O Irã ficaria em posição muito mais difícil. O que nós fizemos foi evitar uma situação embaraçosa para os iranianos. Nossa embaixada foi incendiada e o governo do Irã assistiu a tudo de braços cruzados. Se uma criança, ou um diplomata, ou seus parentes fossem atacados, o que aconteceria? Aí, sim, estaríamos diante de um conflito sério e de um verdadeiro agravamento das tensões.
O sr. está sugerindo que um conflito entre Irã e Arábia Saudita é uma possibilidade? Por termos cortado nossas relações diplomáticas? Não acredito que isso possa levar a algum tipo de escalada entre Arábia Saudita e Irã. Porque o fato é que a escalada iraniana já atingiu níveis excessivamente elevados, estamos fazendo o possível para que a situação não fique ainda mais delicada. Só reagimos a ações tomadas contra nós.
Um conflito direto entre os dois países é possível? Esse é um desdobramento que descartamos por completo. Só alguém que não esteja em seu juízo perfeito poderia agir para que as coisas caminhassem nessa direção. Porque uma guerra entre Arábia Saudita e Irã seria o princípio de uma catástrofe sem igual para a região, com impactos muito graves para o mundo. Não permitiremos que isso aconteça.
O sr. acha que o Irã é o maior inimigo da Arábia Saudita? Espero que não.
Atualmente, o Iêmen é palco de algo que pode ser visto como um conflito indireto entre os dois países. O sr. é o arquiteto da intervenção saudita no Iêmen. Quando ela vai acabar? Em primeiro lugar, não sou o arquiteto da ação no Iêmen. Na Arábia Saudita há instituições em funcionamento. A decisão de executar a operação no Iêmen envolveu o Ministério das Relações Exteriores, o da Defesa, além dos serviços de inteligência, do conselho de ministros e do conselho de segurança. Em seguida, todas as recomendações foram submetidas ao rei, e a decisão de ir em frente foi dele. Minha responsabilidade, como ministro da Defesa, é executar as determinações do rei. E deixá-lo a par de eventuais ameaças e estar preparado para lidar com essas ameaças.
A decisão foi tomada logo depois de o sr. ter sido nomeado ministro da Defesa. Quando espera que a operação acabe? Quando você diz que a decisão foi tomada depois da minha nomeação parece esquecer que os houthis usurparam o poder em Sanaa, capital do Iêmen, logo após o rei chegar ao trono. A operação não tem nada a ver com o fato de eu ter me tornado ministro. Tem a ver é com o que os houthis fizeram. Agora me vejo às voltas com mísseis terra-terra nas minhas fronteiras, a não mais de 30 ou 50 quilômetros de distância das minhas fronteiras, sendo que esses mísseis têm alcance de 550 quilômetros, e estão nas mãos de uma milícia, e há milicianos realizando exercícios nas minhas fronteiras, e é uma milícia que, pela primeira vez na história, tem aviões de combate nas mãos, bem ali, nas minhas fronteiras, e esses aviões de combate são usados pelos milicianos em ações conduzidas em Áden, contra o próprio povo. Que país toleraria a presença, junto a suas fronteiras, de uma milícia com esse tipo de armamento? Ainda mais considerando que os houthis agem em total desrespeito a resoluções do Conselho de Segurança da ONU e representam uma ameaça direta a nossos interesses nacionais. Isso para não mencionar que já tivemos uma experiência ruim com eles antes, em 2009. As operações foram realizadas com apoio e autorização do Conselho de Segurança da ONU, foram aprovadas sem nenhuma oposição.
Quando as operações tiveram início, muitos imaginaram que seriam uma coisa rápida. Passados dez meses, o sr. não estaria, militarmente, num beco sem saída? Não. Acontece que havia diferentes objetivos. O primeiro objetivo da operação “Tempestade Decisiva” era desativar os principais recursos da milícia houthi. Os recursos aéreos, os recursos de defesa aérea – nossa meta era destruir 90% do arsenal de mísseis deles. E então demos início ao processo que busca uma solução política para o Iêmen, e essa é uma etapa completamente diferente. Todos os nossos esforços são feitos com a intenção de pressionar por uma solução política. Mas isso não significa que permitiremos que os houthis se expandam territorialmente. Eles precisam entender que, deixando de caminhar na direção de uma solução política, só fazem perder terreno.
Quanto tempo durará a operação? Ninguém tem como prever isso numa guerra. É algo que nem os comandantes mais geniais podem dizer. É como acontece atualmente com o Daesh (acrônimo em árabe para o Estado Islâmico): ninguém consegue prever quando eles serão derrotados. O que eu posso dizer é que, há dez meses, o governo iemenita não controlava nem metade de Áden, e agora 80% do território do Iêmen está sob controle do governo legítimo do país. E eu gostaria de chamar a atenção para o fato de que o mundo já se deu conta do jogo dos houthis, em especial do jogo que eles vêm fazendo com relação à ajuda humanitária.
O sr. também é responsável pela economia saudita. Vamos falar do orçamento. O petróleo está cotado a US$ 35 o barril, e em 2015 o déficit fiscal do país ficou em 15% do PIB. O sr. acha que a Arábia Saudita corre o risco de passar por uma crise econômica? Estamos muito longe disso. A possibilidade é menor do que nos anos 1980 e 1990. Temos a terceira maior reserva de petróleo do mundo. Só no ano passado conseguimos aumentar em 29% as receitas geradas por outros setores da economia. Conseguimos realizar mais coisas positivas na economia da Arábia Saudita do que a maioria das pessoas achava que seríamos capazes de fazer, tanto no que diz respeito ao déficit, quanto no que se refere aos gastos públicos. E temos projetos bastante claros para os próximos cinco anos. Já anunciamos alguns, e o restante deve ser anunciado em breve. Além disso, a relação dívida/PIB é de apenas 5%. De modo que tenho todos os recursos de que preciso e as oportunidades para aumentar as receitas em vários setores que não o do petróleo, e ainda disponho de uma rede econômica global.
Como o sr. pretende aumentar as receitas provenientes de atividades não petrolíferas? O governo vai criar um imposto sobre valor agregado? Há planos para a introdução de algum tipo de imposto de renda? Não vamos taxar a renda nem o patrimônio das pessoas. Estamos falando de impostos ou taxas que a sociedade saudita apoia, incluindo o imposto sobre valor agregado e impostos sobre itens como cigarros e bebidas. Esses tributos gerarão boas receitas, mas não serão as únicas fontes de receita. Temos diversas oportunidades em mineração, temos mais de 6% das reservas mundiais de urânio, temos muitos ativos que permanecem inexplorados. Só em Meca, temos quatro milhões de metros quadrados em áreas não exploradas que pertencem ao Estado. O valor de mercado desses terrenos é extremamente elevado; temos muitos ativos que poderiam ser transformados em investimentos. Acreditamos que nos próximos cinco anos conseguiremos elevar a US$ 100 bilhões as receitas provenientes de atividades não petrolíferas.
Quando o governo pretende introduzir o imposto sobre valor agregado? Vamos tentar fazer isso até o fim de 2016 ou 2017. Queremos acelerar o processo.
E o que o governo pretende privatizar a fim de levantar recursos? Os setores de educação e saúde, algumas áreas militares, como fábricas de armamentos, e algumas empresas estatais. Isso diminuirá a pressão sobre o governo e, em alguns casos, pode resultar em companhias bastante lucrativas.
O sr. pensa em vender ações da Saudi Aramco? Isso é algo que está em análise e acreditamos que uma decisão será tomada nos próximos meses. Pessoalmente, estou entusiasmado com esse passo. Acho que atende aos interesses do mercado saudita e também aos interesses da Aramco, além de contribuir para aumentar a transparência da empresa e combater eventuais práticas corruptas que possam envolver a Aramco.
O sr. disse que um dos desafios é diversificar a economia da Arábia Saudita, tornando-a menos dependente do petróleo. Quais seriam os setores prioritários nessa diversificação? A mineração e a reforma dos subsídios sobre energia elétrica, água e habitação. Só 20% das pessoas de média ou baixa renda são beneficiadas por esses subsídios. Vamos mirar os outros 80% e tentar preservar os interesses das classes média e baixa; isso vai gerar boas receitas. E, como eu disse, temos ativos que até agora não foram explorados: vamos expandir o turismo religioso. E o aumento no número de turistas e peregrinos que vão a Meca e Medina deve valorizar os terrenos do Estado nas duas cidades.
O governo promoveu alguns aumentos de preço no orçamento atual – eletricidade, gasolina –, mas ainda há muitos subsídios. A ideia é acabar totalmente com eles? Nosso objetivo é liberalizar o mercado de energia, mas com programas de subsídios para as pessoas de baixa renda. A diferença é que os subsídios não virão mais na forma de redução de preços. Vamos adotar outros tipos de programas. E há também alguns dos ativos mais importantes com que estamos trabalhando: temos uma área espetacular ao norte de Jeddah, entre as cidades de Umluj e Wuj: são quase 100 ilhas em torno de um atol. A temperatura é ideal, entre cinco e sete graus mais baixa que em Jeddah. É terra virgem. Passei minhas últimas oito férias lá. Fiquei pasmo quando descobri que havia um lugar assim na Arábia Saudita, e já adotamos medidas para preservar essa área. Esse é um dos ativos que pretendemos explorar. E achamos que seu valor não se limita à geração de renda para fundos públicos. Temos muitos ativos como esse, inexplorados. Em Meca, em Medina, em áreas rurais e em áreas urbanas. Em Jeddah, por exemplo, há um terreno, com área total de aproximadamente 5 milhões de metros quadrados, de frente para o mar, no coração da cidade. Pertence ao setor de defesa aérea. Vale cerca de US$ 10 bilhões. O custo da transferência de todas as estruturas e prédios para outro local gira em torno de US$ 300 milhões. De modo que é um desperdício enorme. Por isso, nossa ideia é explorar esses ativos, gerando lucros e desenvolvimento. É um projeto gigantesco. Nossa meta é incluir os novos ativos nos fundos estatais nos próximos anos, num valor equivalente a US$ 400 bilhões.
E que ativos o governo pretende privatizar? Esses ativos irão para os fundos. Então serão transformados em projetos e, em seguida, em empresas. E vamos abrir o capital dessas empresas.
Há uma revolução thatcherista em curso na Arábia Saudita? Muito provavelmente. O fato é que dispomos de ativos fantásticos, que até hoje não foram explorados. E há também alguns setores da economia em que é possível promover um crescimento acelerado. Vou dar um exemplo. Quando o assunto é água, somos um dos países mais pobres do mundo. Mas há uma empresa saudita que é simplesmente exemplar, como a Almarai no segmento de laticínios. Essa empresa detém uma fatia de 80% do mercado de água em Omã. No Kuwait, a participação é de mais de 20%. Nos Emirados Árabes, ultrapassa os 40%. No Egito, onde há o Nilo, eles têm 10%. E isso tudo é obra de uma única empresa saudita. Há outras com o mesmo potencial, no segmento de laticínios, de agronegócio. E o mesmo pode ser feito no setor bancário, no setor de mineração e em outras áreas. Não faltam excelentes oportunidades que podem ser expandidas e desenvolvidas.
Isso exigirá investimentos enormes. Há um estudo que fala em US$ 4 trilhões até 2030. De onde virão esses recursos? Esse número está num relatório da McKinsey, não é do governo saudita. Em algumas áreas, tentamos ser ainda mais otimistas. Em outras, procuramos ser mais conservadores. Seja como for, a McKinsey nos ajuda com diversos estudos. Mas as fontes desses investimentos são várias: investidores sauditas, fundos estatais, fundos do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) e fundos internacionais.
Por que um investidor estrangeiro pensaria em investir recursos na Arábia Saudita hoje? A questão é lucratividade. E é isso que estamos tentando oferecer para atrair investimentos. E, no nosso caso, isso vem acompanhado de um sólido arcabouço regulatório, capaz de oferecer segurança ao investidor. Além disso, não somos desconhecidos dos investidores estrangeiros. As maiores empresas globais estão presentes no mercado saudita: Boeing, Airbus, GE, GM, Sony, Siemens; todos os grandes players atuam aqui. E os maiores bancos do mundo agora têm filiais na Arábia Saudita. Portanto, não se trata de dizer que estamos abrindo nossa economia para o mundo: ela já é aberta. O que estamos fazendo é oferecer novas oportunidades.
Um desafio que ainda falta mencionar é a juventude da população saudita: 70% da população do país tem 30 anos ou menos. Como o sr. fará para criar empregos para essas pessoas? Temos imensas oportunidades para criar empregos no setor privado. O segmento de mineração ajudará muito na criação de empregos, o programa voltado para os peregrinos e turistas em geral também deve criar muitos empregos, e os investimentos também resultarão na criação de empregos. Não trabalhamos com a perspectiva de um aumento no desemprego. Pelo contrário, achamos que ele diminuirá significativamente nos próximos anos. Ao mesmo tempo, há reservas que podem ser exploradas: em nosso país, dez milhões de postos de trabalho são ocupados por indivíduos de outras nacionalidades. Posso recorrer a esses empregos, se isso me parecer conveniente. Mas não quero pressionar o setor privado. Só desejo frisar que, num caso extremo, essa é uma possibilidade.
O sr. proibiria a contratação de estrangeiros? Estamos tentando criar empregos. Se não conseguirmos atender todo mundo, seremos obrigados a pressionar o setor privado, como fizemos por ocasião do programa de saudização.
Essas mudanças a que o sr. se refere – criação de impostos sobre receitas não relacionadas com a produção de petróleo, redução dos subsídios, ênfase na criação de empregos no setor privado – sugerem uma reestruturação, em muitos aspectos, da economia e do contrato social sauditas. Isso não levaria a transformações ainda mais abrangentes numa sociedade que ainda é extremamente conservadora? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Cultivamos nossos valores: para nós, é importante a participação dos cidadãos no processo político; a liberdade de expressão; os direitos humanos. Temos nossos próprios valores e princípios enquanto sociedade, e tentamos progredir de acordo com nossas necessidades. Nossa situação hoje não é a mesma de 50 anos atrás. Há 50 anos, não contávamos nem com um Poder Legislativo. Hoje, as mulheres sauditas estão representadas no Parlamento, e as mulheres votam e se candidatam às eleições, e hoje estamos fazendo progressos. De acordo com as nossas necessidades, seguindo o nosso ritmo, e não copiando outros modelos.
Mas o sr. acha possível criar novos impostos sem ampliar a representação política? Não vamos criar impostos. Estamos falando em diferentes tipos de impostos. Estamos falando de um imposto sobre valor agregado, que não incidirá sobre nenhum produto básico. Vai valer apenas para coisas acessórias.
O imposto sobre valor agregado não incidirá sobre produtos básicos? Como água, laticínios, leite... Esses artigos ficarão isentos? Sem dúvida. Do contrário, influenciaria no preço.
Certo. Mas o sr. acha viável criar esse tipo de tributação sem aumentar a representação da sociedade saudita? De novo, uma coisa não tem a ver com outra. Não se trata de uma decisão que o governo está tomando contra o povo. É uma decisão da Arábia Saudita. Tomada por um governo que representa o povo saudita. Antes de qualquer decisão relativa a reformas, realizamos diversos workshops, que representam muitas pessoas.
E quanto a uma reforma social mais ampla? Como será possível criar uma economia moderna, com alta produtividade, com um turismo vibrante, com um setor educacional vibrante, se as mulheres não podem dirigir, se não podem viajar sem autorização? As mulheres podem viajar. Trabalham no setor corporativo...
Mas só com permissão da família. Isso é diferente. Quando você fala em permissão, está se referindo a mulheres que ainda não atingiram determinada idade. Não está falando de mulheres que já são responsáveis por si mesmas. Isso tem a ver com determinados critérios sociais e religiosos. Algumas dessas coisas nós podemos mudar. Outras não, nem se quiséssemos. Apesar disso, garanto que não há qualquer empecilho ao aumento da participação das mulheres...
Então por que a taxa de participação das mulheres na força de trabalho na Arábia Saudita é de apenas 18%, uma das mais baixas do mundo? Isso está relacionado com a cultura feminina na Arábia Saudita, com as próprias mulheres. Não estão acostumadas a trabalhar. Precisam de mais tempo para se familiarizar com a ideia. Grande parte das mulheres sauditas está habituada a ficar em casa. Elas não se veem como mulheres trabalhadoras. Mas isso vai mudar, é só uma questão de tempo.
O sr. acha que o aumento do porcentual de mulheres na força de trabalho seria benéfico para a Arábia Saudita? Sem dúvida. Grande proporção dos meus fatores produtivos são ociosos. E estou enfrentando um crescimento demográfico extremamente preocupante. O trabalho das mulheres ajudará em ambas as questões.
O sr. faz parte dos 70% de sauditas com 30 anos ou menos. É responsável pela Defesa e pela economia do país e, em muitos aspectos, é a cara da nova geração saudita. Que tipo de Arábia Saudita o sr. pretende criar? O país que eu desejo, que também é desejado pelos outros indivíduos que fazem parte desses 70%: uma Arábia Saudita que não dependa do petróleo; que tenha uma economia em crescimento; que tenha leis transparentes; um país que ocupe posição expressiva no cenário mundial; uma Arábia Saudita que cresça com sustentabilidade; que garanta a participação de todos no processo político; que ofereça uma contribuição importante para o mundo e ajude a enfrentar os obstáculos e desafios com que o mundo se depara. Meus sonhos, como jovem saudita, e os sonhos dos outros sauditas, são muitos. Tento colaborar com eles e com seus sonhos, e eles colaboram com os meus, para criar uma Arábia Saudita melhor.
O sr. tem uma visão muito positiva da Arábia Saudita. Por outro lado, o Oriente Médio passa por um dos momentos mais delicados de sua história recente. Como conciliar essas duas coisas? Sou um grande admirador de Winston Churchill. E Churchill dizia que as oportunidades surgem em momentos de crise. Sempre me lembro dessa frase de Churchill quando penso nos obstáculos e nas crises da região.
A crise se agravou depois que os Estados Unidos deixaram de ter uma presença mais forte da região? Compreendemos o trabalho realizado pelos Estados Unidos. Os americanos operam em muitas frentes. Tentamos colaborar com todos os esforços deles. Tentamos exprimir nosso ponto de vista, e posso dizer que a colaboração entre nós e os Estados Unidos é sólida e de altíssimo nível. Mas os Estados Unidos precisam compreender que são a maior potência do mundo, e precisam agir como tal.
O sr. está decepcionado com os Estados Unidos? Nós compreendemos. Percebemos que somos em parte responsáveis por não deixar clara nossa perspectiva para os americanos. Não nos esforçamos o bastante para comunicar nossos pontos de vista. Mas acreditamos que isso mudará no futuro.
A Arábia Saudita está ampliando sua intervenção para exercer um novo tipo de liderança na região? Tratamos em pé de igualdade com os aliados que temos na região. E estamos nos esforçando para enfrentar os desafios. Nós e as outras nações que integram o CCG: Egito, Turquia, Sudão, os países do chamado “Chifre da África”, os países do Norte da África e da África Ocidental, os países do Leste Asiático, Malásia, Indonésia, etc., o Paquistão. Tentamos enfrentar coletivamente esses desafios. Porque eles representam ameaças para todos nós, e precisamos encará-los como uma equipe. E tentamos fazer um trabalho positivo.
Há cinco anos começava a Primavera Árabe. Em muitos aspectos, foram cinco anos extremamente difíceis para a região. O sr. acha que os próximos cinco anos serão melhores ou piores? A Primavera Árabe foi uma experiência que pôs à prova as formas autoritárias e não autoritárias de governo. Os regimes que não representavam o povo foram derrubados.
A Casa de Saud representa o povo saudita? Participamos de um processo de construção nacional; fazemos parte das tribos locais; estamos presentes nas várias regiões do país; é um trabalho conjunto, que já se estende por 300 anos.
:: QUEM É :: MOHAMMED BIN SALMAN, PRÍNCIPE SAUDITA Segundo homem na linha sucessória saudita, é considerado o poder por trás do trono do pai, o rei Salman. Aos 30 anos, formado em direito, é o mais jovem ministro da Defesa do mundo.
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