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O que realmente aconteceu com iate real Britannia da 5° temporada de The Crown?

Série trouxe à tona a relação da monarquia com o governo britânico e sugere que iate era o ‘lugar favorito’ da rainha

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Por Karla Adam

LONDRES - A muito aguardada 5° temporada da série britânica The Crown chegou ao Netflix com uma metáfora de peso - aproximadamente 4 mil toneladas. Trata-se do iate real Britannia, apresentado ao público em 1953 pela então jovem rainha Elizabeth II, na Escócia, um mês antes de sua coroação.

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“Espero que este novo navio, como sua nova rainha, prove ser confiável e constante, capaz de resistir a qualquer tempestade”, declara ela na série sob muitos aplausos. O drama constrói um elo narrativo entre o navio e a rainha, que segue até 1991, quando a discussão sobre reparos do iate acontece em paralelo ao debate sobre a monarca, de 65 anos, estar muito velha para desempenhar o seu papel. A rainha morreu em setembro, aos 96 anos, após 70 de reinado.

A série sugere que a rainha teria pressionado o primeiro-ministro da época, John Major, para que o governo custeasse os reparos do iate, o que poderia ter sido uma interferência inadequada na política por um monarca constitucional. Devido a isso, vieram à tona questões envolvendo o lobby entre o governo e a monarquia britânica.

Em imagem de 1985, a rainha Elizabeth II (C) posa para foto oficial com delegações de 45 países da Commonwealth a bordo do iate Britannia em Nassau, nas Bahamas Foto: Dave Caulkin/AP - 16/10/1985

Agora, o atual primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, recentemente, cancelou os planos para a construção de um iate real substituto, ideia que ressurgiu no governo de Boris Johnson. O empreendimento custaria cerca de 250 milhões de libras (cerca de R$ 1,5 bilhão) e 30 milhões de libras (cerca de R$ 189 milhões) por ano para funcionar.

O que se sabe sobre o Britannia, o ‘palácio flutuante´?

Há realmente um iate real e ele foi batizado pela jovem rainha com uma garrafa de vinho Empire, mas sem o discurso autorreferencial. A série sugere que o iate seria o “lugar” favorito da monarca, uma possibilidade que não é afastada pelos biógrafos. Embora servido por uma tripulação de 220 pessoas, o navio era um lugar onde a família real podia relaxar e escapar do olhar atento do público.

O Britannia foi o último de uma série de iates reais que remontam a 1660 e ao rei Carlos II. Em 44 anos de serviço, o iate navegou mais de 1 milhão de milhas náuticas, o equivalente a mais de 40 voltas ao redor da Terra, atracando em mais de 600 portos, em135 países.

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Rainha Elizabeth se emociona com a desativação do iate real Britannia Foto: Reuters/Stringer/Files - 11/12/1997

Ao longo de sua história, personalidades influentes estiveram a bordo do iate, como Dwight D. Eisenhower, Gerald Ford, Ronald Reagan, Bill Clinton, Boris Yeltsin e Nelson Mandela. Quando a guerra civil eclodiu no sul do Iêmen, em 1986, o Britannia ajudou a evacuar civis.

A rainha realmente fez lobby?

O Major da vida real, primeiro-ministro da época, chamou as conversas da série que sugerem o lobby de “um barril de bobagens”. Já Robert Lacey, consultor histórico de The Crown, disse ao jornal The Washington Post que o tema do iate teria inevitavelmente surgido entre a rainha e o primeiro-ministro, que se reuniam uma vez por semana para discutir assuntos de Estado. Para Hardman, o biógrafo real, embora a rainha sem dúvida estivesse interessada em reparos ou substituição, ela não teria “apoiado seus primeiros-ministros em troca de dinheiro”.

Um rebocador puxa o iate Britannia em seu cais no Ocean Terminal em Edimburgo, Escócia, onde hoje ele pode ser visitado  Foto: David Moir/Reuters - 06/01/2012

Em uma carta escrita em 1994, posteriormente guardada nos Arquivos Nacionais, o vice-secretário particular da rainha, Kenneth Scott, escreveu ao gabinete que “a rainha naturalmente daria as boas-vindas se fosse possível encontrar uma maneira de disponibilizar para a nação no século 21 o tipo de serviço que o Britannia prestou nos últimos 43 anos”.

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Vale destacar que, na época, o governo de Major decidiu não reparar ou renovar o navio.

O que aconteceu com o Britannia?

A última viagem do iate ao exterior foi para Hong Kong, em 1997, quando o território foi devolvido à China. Alguns meses depois, o Britannia empreendeu sua turnê de despedida pelo Reino Unido, escalando seis portos principais e tocando suas sirenes ao passar pelo estaleiro que o construiu, antes de retornar para uma cerimônia de descomissionamento em Portsmouth, Inglaterra, em 11 de dezembro de 1997. Lacey observou: “A única vez que a rainha foi vista chorando foi quando o iate real foi desativado”.

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Flautista solitário toca um lamento no convés do Britannia durante o funeral de Estado da rainha Elizabeth II Foto: Lesley Martin/PA via AP - 19/09/2022

Hoje, o navio é uma atração para visitantes em Edimburgo, na Escócia. Durante o funeral de Estado da rainha, em setembro, um flautista solitário tocou um lamento em seu convés.

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