BERLIM - Após meses de negociações, Olaf Scholz, dos sociais-democratas (centro-esquerda), conduzirá a Alemanha à era pós-Merkel.
O partido de Scholz lidera uma coalizão junto com duas outras legendas triunfantes nas eleições de setembro: os Verdes e os Democratas Livres. Os democratas-cristão de Merkel ficaram de fora do poder.
Aqui está o que você precisa saber sobre Scholz, de 63 anos, e a nova liderança da Alemanha:
Scholz trabalhou com Merkel
O partido de Scholz foi o parceiro júnior da CDU no último governo Merkel, a terceira vez que os social-democratas se juntaram a seu tradicional rival em uma coalizão. É uma posição que o SPD assumiu com relutância -- mas que permitiu a Scholz aumentar seu capital político.
Como ministro das finanças e vice-chanceler do gabinete de Merkel durante a pandemia, Scholz construiu a reputação de ter mãos firmes durante uma crise. Ele supervisionou a distribuição de bilhões de euros em pacotes de ajuda relacionados à pandemia e às enchentes mortais de verão no oeste da Alemanha.
Ele tem sido chamado de “Scholzomat” por seu estilo político “robótico” e quase chato. Mas isso pode ter funcionado bem com eleitores ainda ligados a Merkel, que não era conhecida por discursos apaixonados. Apesar de ser de outro partido, ele se posicionou durante a campanha eleitoral como seu sucessor natural.
“Obviamente, Merkel deixou um grande impacto na cultura política da Alemanha por meio de seu estilo de governo”, disse Frank Stauss, consultor de comunicação política que já trabalhou com o SPD no passado. Mas Scholz não é um “clone de Merkel”, acrescentou.
Marcado por escândalos
Scholz, um social-democrata de longa data, nasceu em Osnabrück, no noroeste do Estado alemão da Baixa Saxônia, e foi criado na rica cidade-Estado de Hamburgo, na costa norte da Alemanha, onde também atuou como prefeito. Alternando entre política estadual e nacional, ele serviu no parlamento, ou Bundestag, e como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais no primeiro gabinete de Merkel.
Sua carreira política foi fustigada por escândalos. Enquanto prefeito de Hamburgo, ele enfrentou críticas por sua forma de lidar com a cúpula do G-20 em 2017, quando o evento se tornou palco de violência generalizada entre os manifestantes e a polícia.
Uma investigação parlamentar feita por legisladores da oposição no início deste ano o acusou de falta de supervisão no caso que ficou conhecido como Wirecard -- o maior escândalo de fraude pós-guerra na Alemanha. Ele rejeitou as acusações.
Scholz também foi questionado em meio ao escândalo de fraude “cum-ex”. Ele foi acusado de agir para influenciar autoridades fiscais em nome de um banco de Hamburgo. Ele negou qualquer delito e nenhuma evidência concreta surgiu contra ele.
E em setembro, Scholz foi forçado a retornar a Berlim depois de sua campanha eleitoral para responder a perguntas no comitê parlamentar de finanças. O inquérito foi iniciado depois que o promotor público ordenou buscas no Ministério das Finanças como parte de uma investigação sobre alegações de obstrução da justiça em sua unidade de combate à lavagem de dinheiro, mas ele saiu relativamente ileso.
Questões à frente
O novo governo enfrenta desafios imediatos, com a Europa lutando contra as consequências do Brexit, uma crise na fronteira da União Europeia com Belarus e o ressurgimento de casos de covid-19 -- Scholz afirmou que o enfrentamento à pandemia seria sua prioridade.
Mas sua coalizão também tem planos ambiciosos de médio e longo prazo, incluindo uma expansão mais rápida das energias renováveis, uma saída acelerada do carvão poluente e um aumento do salário mínimo, de acordo com seu pacto.
Ressaltando sua tendência socialmente liberal, a coalizão também concordou em permitir a cidadania múltipla, aumentar a imigração regular, reduzir a idade de voto para 16 anos e tornar a Alemanha o primeiro país europeu a legalizar a venda de cannabis para uso recreativo.
A co-líder dos Verdes, Annalena Baerbock, de 40 anos, deve se tornar a primeira mulher ministra das Relações Exteriores da Alemanha e Scholz disse que quer um governo com igualdade de gênero.
Enquanto a campanha eleitoral da Alemanha foi amplamente focada em questões internas, os partidos sinalizaram no pacto de coalizão uma abertura para reformar as regras fiscais da União Europeia. Eles também concordaram que a Alemanha permaneceria parte do acordo de partilha nuclear da Otan, uma medida que evitará um rompimento na aliança militar ocidental em um momento de tensões crescentes com a Rússia.
A nova coalizão terá que equilibrar os apelos dos Verdes por uma linha mais dura com a Rússia e a China em relação aos direitos humanos com a provável preferência de Scholz de evitar confrontos sobre Taiwan e Ucrânia. /WP e REUTERS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.