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Jihadistas são recrutados diariamente, afirma prefeito francês

Jean Pierre Gorges diz que país falhou de 'forma profunda' e critica a estratégia do presidente François Hollande contra o terrorismo

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Por Jamil Chade

CHARTRE, França - "O estado falhou de forma profunda ". Quem faz o alerta é Jean Pierre Gorges, prefeito de Chartre e deputado pelos Republicanos, partido de direita. Neste domingo, 15, a autoridade da cidade transferiu seu escritório para as mesas do " Generale ", um tradicional restaurante da cidade. Ali, recebeu jornalistas, políticos locais e mesmo religiosos. O motivo: a cidade, considerada como um dos berços do cristianismo na França e com uma das catedrais mais impressionantes da Europa, foi identificada como local de radicalização islâmica. Num dos apartamentos sociais da cidade vivia Ismael Omar Mostefai, um dos terroristas que atacou a casa de show Bataclan em Paris na sexta-feira pela noite. 

Entre uma reunião e outra, Gorges falou ao Estado e explicou que a "guerra" que o presidente François Hollande propõe não tem chance de funcionar se as instituições francesas de inteligência e de polícia não modificarem seus comportamentos. "O recrutamento de jihadistas está ocorrendo diariamente", diz prefeito.

Leia os principais trechos da entrevista :

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O que se sabe do suspeito que vivia na cidade do senhor?

Sabemos que ele foi condenado em oito ocasiões a partir de 2004 por pequenas deliquências. Mas nunca foi preso. Em 2010, porém, ele foi fichado por suspeita de fazer parte de um grupo radical. Mas, desde que isso ocorreu, ele optou por desaparecer do radar. 

Pelas informações do Ministério Público, ele deixou a região em 2012. Para onde ele foi?

Foi a partir de 2012 que ele deixou de colocar rastros sobre onde estaria. Nossas investigações apontam que ele teria passado para uma fase operacional da radicalização. Viajou supostamente para a Turquia e, de lá, para a Síria. Ali, ele foi amplamente treinado a matar, como um profissional. 

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Como morador de Chartre, como era a vida do suspeito?

O que podemos dizer é que era uma pessoa que recebia certos benefícios sociais, vivia em uma casa com aluguel mais baixo. Mas sua radicalização é que foi registrada. Ele ainda jogava futebol e as pessoas que o conheciam diziam que era uma pessoa muito tranquila. 

Mas como é que alguém fichado pode ter tanta liberdade para viajar?

O que temos de nos perguntar hoje é como alguém fichado conseguiu fazer tudo isso sem jamais ser questionado antes. O recrutamento está ocorrendo de baixo de nosso nariz. Só não ve quem não quer. O estado falhou de forma profunda. 

O presidente Hollande falou de guerra. Como o senhor vê isso em uma cidade?

O estado precisa ter a autorização de agir para antecipar um ato como esse. Não adianta 10 mil soldados na rua se eles não podem fazer nada. Não podemos continuar só fazendo discursos. O estado tem de agir. Essa guerra é muito mais ampla e complexa que uma batalha tradicional. Ela ocorre todos os dias de forma sutil. 

Mas por que a França passou a ser alvo?

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Porque decidimos que vamos abrir guerras e fronts no Iraque e na Síria. Os atentados foram uma resposta a nossa política externa e isso está claro. O governo precisa decidir se quer fazer uma política externa populista ou se quer proteger sua população. 

O senhor teme uma maior radicalização dos jovens franceses?

O proselitismo está ocorrendo. O recrutamento de jihadistas está ocorrendo diariamente. Mas isso não acontece da noite para o dia. A radicalização é homeopática. Eu mesmo já sinalizei para a inteligência nomes de pessoas radicais em outras mesquitas, houve uma investigação e o problema foi solucionado. Mas temos de agir mais. A mesquita em si não é uma fábrica de terroristas. Muito pelo contrário. Ela pode ser muito útil para trazer a paz.

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