HANÓI - O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira, 23, em Hanói, capital do Vietnã, o fim do embargo da venda de armas americanas ao Vietnã, dizendo que isso acabará com o "vestígio remanescente da Guerra Fria", encerrada em 1975, e preparará o caminho para relações "mais normais" entre os dois países.
"EUA encerram a proibição da venda de equipamentos militares ao Vietnã, em vigor há quase 50 anos", afirmou Obama em uma entrevista coletiva ao lado do presidente vietnamita, Tran Dai Quang.
O presidente americano disse que as vendas ainda terão que cumprir determinados requisitos, incluindo os relacionados aos direitos humanos.
"Os EUA estão retirando plenamente a proibição da venda de equipamento militar, com o objetivo de assegurar que o Vietnã tenha a capacidade de se proteger", disse Obama. "Dado todo o trabalho que os dois países fazem juntos é conveniente não ter tal proibição", acrescentou o presidente americano.
Quang disse estar satisfeito com esta mudança significativa na política dos EUA e que o Vietnã respeitará os direitos humanos, acrescentando que os dois países trabalharão em conjunto para minimizar as diferenças sobre a questão.
"Os EUA e o Vietnã têm compartilhado mais e mais interesses em comum e a visita de Obama "contribui ativamente para a paz e a estabilidade regional e global", disse o presidente.
A imagem dos EUA é especialmente boa no Vietnã. Segundo um estudo realizado em 2015 pelo Pew Research Center, 78% dos vietnamitas têm uma opinião favorável a respeito dos americanos, com uma porcentagem maior entre os jovens.
Reação. A China reagiu com cautela à promessa de Obama de suspender o embargo de venda de armas ao Vietnã. A atitude demonstra que Pequim está adiando fazer qualquer julgamento a respeito do que uma relação mais próxima entre Washington e Hanói pode significar para o equilíbrio de poder na região da Ásia-Pacífico.
Em coletiva de imprensa, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, disse que a busca do Vietnã por relações normais e amistosas com outros países é bem-vinda, "inclusive com os EUA". "Nós certamente esperamos que essa relação amistosa possa ser útil para a estabilidade e o desenvolvimento da região", disse Hua Chunying.
A resposta ponderada de Pequim é notável, uma vez que o fim do embargo é visto como uma manobra direcionada à China. Obama disse hoje que Washington e Hanói estão buscando laços mais fortes em razão, parcialmente, de uma "preocupação mútua com questões marítimas", uma referência clara ao Mar do Sul da China.
Com o fim do embargo, Vietnã passará a ter acesso a produtos e tecnologias que a China cobiça há muito tempo, mas não consegue obter em razão de restrições comerciais com os EUA.
Segundo o diretor-executivo do Centro de Estudos Colaborativos do Mar do Sul da China, Zhu Feng, da Universidade Najing, o fim do embargo é um "sinal preocupante" para líderes de Pequim sobre uma potencial mudança de poder na região. Para Feng, porém, é difícil julgar qual será o impacto real se observar quais outros movimentos que os EUA pretendem fazer.
"Por ora, a resposta do Ministério das Relações Exteriores foi razoável. Nós não queremos parecer excessivamente sensíveis ou irritados porque as relações entre EUA e China são muito complicadas e muito importantes", disse. /Dow Jones Newswires e AFP
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