Pelo menos dezoito palestinos foram mortos e mais de 40 ficaram feridos nesta quinta-feira, numa ampla ofensiva do Exército de Israel em dois campos de refugiados na região de Tulkarem, na Cisjordânia, e em bombardeios e confrontos na Faixa de Gaza. Com essas vítimas, eleva-se para 108 (77 palestinos e 31 israelenses) o número de pessoas que perdaram a vida nesta semana - a mais sangrenta desde o início da intifada, há mais de 17 meses. Em Israel, dois atentados foram evitados por populares, e, num assentamento judaico da Cisjordânia um atacante suicida feriu quatro pessoas. Na Faixa de Gaza, um palestino infiltrou-se no assentamento judaico de Atzmona e abriu fogo, ferindo pelo menos 18 pessoas, três delas em estado grave, antes de ser assassinado por soldados, informaram o Exército e serviços de resgate. Entre os mortos em Tulkarem estão um motorista de ambulância e um enfermeiro do Crescente Vermelho (entidade correspondente à Cruz Vermelha nos países islâmicos) que iriam tratar dos feridos. A Organização das Nações Unidas (ONU) informou em Nova York que um dos mortos a tiros era um trabalhador humanitário da entidade, que estava numa ambulância com um claro logotipo das Nações Unidas, mesmo assim atacada por soldados israelenses. Um dirigente do grupo extremista Jihad Islâmica, Mohammed Annani, foi morto por soldados que invadiram sua casa no vilarejo cisjordaniano de Siris. Tropas e cerca de 80 tanques israelenses, apoiados pela aviação, atacaram os acampamentos na área de Tulkarem. A população ficou confinada em suas casas, revistadas uma a uma em busca de explosivos e ativistas acusados de participar de atentados. Houve fortes combates com militantes que resistiram à invasão. Mísseis foram lançados contra uma delegacia de polícia da Autoridade Palestina (AP) no centro de Beit Hanoun, um dos maiores campos de refugiados da Faixa de Gaza. Houve ataques também contra alvos da AP em Gaza, Hebron e Belém. Pelo segundo dia consecutivo, a aviação lançou mísseis contra os escritórios da AP em Ramallah, momentos depois que seu presidente, Yasser Arafat, se reuniu com o enviado especial da União Européia (UE), Miguel Moratinos. No dia anterior, um míssil caiu a cerca de 20 metros de onde os dois estavam. A imprensa israelense reportou que, nesta quarta-feira, durante o ataque, Arafat estava falando por telefone com o chanceler do país, Shimon Peres. "Shimon, estão me bombardeando", ele teria dito. "Sinto muito, farei tudo o que puder para parar o bombardeio imediatamente", teria respondido o chanceler. "Se eles acreditam que há alguém nestes territórios que teme seus tanques e aviões, estão enganados", declarou hoje Arafat, dizendo "não entender porque Peres continua no governo do primeiro-ministro Ariel Sharon". Um atacante suicida palestino detonou nesta quinta-feira explosivos que trazia consigo no lobby de um hotel, no assentamento judaico de Ariel, na Cisjordânia, ferindo quatro pessoas - uma delas em estado grave - e morrendo na hora. A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) reivindicou a autoria do atentado. Outro israelense, que trafegava de carro perto da cidade cisjordaniana de Nablus, foi gravemente ferido num ataque a tiros. Dois atentados foram evitados nesta quinta em Israel. Um guarda de segurança e um garçom detiveram um palestino que tentava entrar com uma bomba num café de uma zona comercial de Jerusalém. Em Pardes-Hanna, no norte, um morador suspeitou de uma gaiola com pombos abandonada na rua e chamou as forças de segurança. Quando policiais iam aproximar-se, explodiu uma potente bomba que estava num fundo falso - ninguém se feriu. Grupos palestinos dispararam contra o assentamento judaico de Guilo, em Jerusalém Oriental. Também não houve feridos. A ONU emitiu à noite um comunicado assinalando que uma potente bomba lançada por um avião israelense F-16 caiu a 200 metros de três de suas escolas para crianças refugiadas na Faixa de Gaza, provocando pânico generalizado. Não houve feridos. Casas e escolas Os ataques aéreos israelenses desta quinta-feira sobre o complexo de escritórios de Yasser Arafat causaram um incêndio na casa de Kathy Canavati, cuja cama ficou calcinada e reduzida aos restos retorcidos de sua base metálica. A família havia partido antes que os mísseis atingissem a casa vizinha, e escapou ilesa. Mas Charlie Canavati, um menino de oito anos, disse que agora tem medo de brincar fora de casa. "Não sei quando os aviões nos atacarão de novo", explicou. Israel assegura que não está visando os civis palestinos em seus ataques, mas sua ofensiva militar, muito intensa esta semana, danificou moradias, escolas e casas de comércio, alterando a vida de muitas pessoas. Por sua vez, os civis israelenses têm sido constantemente atacados pelos extremistas palestinos em atentados com armas de fogo, explosivos e até mesmo com mísseis. A explosão da madrugada desta quinta-feira (hora local) destruiu os escritórios gerais da Autoridade Palestina em Belém, mas também destruiu janelas e derrubou portas de dezenas de casas. As luzes iluminaram a cidade enquanto os residentes despertavam sobressaltados com a explosão que foi ouvida em Jerusalém, nas proximidades. O edifício atacado, que já serviu um dia de quartel-general dos militares israelenses e também de prisão, abrigava os escritórios dos sesrviços de inteligência, a polícia e a guarda de Arafat. O ataque derrubou o telhado, deixando apenas escombros entre as paredes. As janelas da sala de Arafat, no bloco de trás, estavam fechadas. Um bloco de cimento caiu sobre o teto de seu Mercedes à prova de balas. Foi o quarto ataque desde domingo ao complexo em Belém. Ao amanhecer, um grupo de pessoas içou uma bandeira palestina sobre uma construção destruída. Um homem buscava vários documentos que estavam espalhados por ali e os queimou. Do outro lado da rua, Mauti Ali Mauti, de 45 anos, permanecia de pé diante dos restos de seu restaurante, o "Mr. Baker Restaurant", que serve frango frito ao estilo americano. "No primeiro ataque, a vitrine foi destruída; o segundo provocou alguns danos. Mas hoje, acabou-se o restaurante", disse ele. Os ataques militares na Faixa de Gaza, em sua maioria tendo como alvo instalações da Autoridade Palestina, também danificaram casas, escolas e negócios. Um ataque israelense com mísseis no mês passado ao campo de refugiados de Jebalyia, em Gaza, atingiu três fábricas em seu percurso para o alvo - uma fábrica de tintas e metais que, segundo o Exército israelense, estava produzindo morteiros. Uma das indústrias era têxtil, outra de móveis e a outra fazia o acabamento de calças jeans Levi´s. Um ataque com um avião F-16 a um complexo da polícia palestina na Cidade de Gaza na terça-feira à noite espalhou estilhaços de bombas numa escola para cegos e rompeu as janelas do edifício. Um playground ficou inutilizado com os estilhaços de metal e borracha. Metade das classes da escola onde estudam 350 crianças e adolescentes cegos foram danificadas. A escola foi fechada na hora do ataque. As Nações Unidas disseram que oito escolas e as instalações da ONU na Cidade de Gaza, sobre as quais tremulava uma bandeira da organização, foram atingidas pelos ataques aéreos: janelas quebradas, paredes e portas derrubadas ? um ataque que Peter Hansen, chefe de uma das agências da ONU, qualificou de "inaceitável". Os militares israelenses disseram que seu objetivo era atingir apenas os envolvidos em ataques a civis israelenses e que estão fazendo o máximo esforço para evitar danos aos civis. O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, disse que a guerra foi imposta a Israel pelos palestinos. Funcionários de saúde palestinos estimam que cerca de 85% dos palestinos mortos ou feridos nos últimos 17 meses de conflitos eram civis - qualificados pelos militares israelenses como combatentes em sua maioria. Voltando a Belém, as pessoas tentam preservar suas vidas. Um concerto de música de câmara - adiado várias vezes devido à intifada - estava marcado para esta quinta-feira. Assim como a vida, prosseguem os funerais. Uma procissão fúnebre de um garoto de 15 anos passou diante do complexo governamental destruído em Belém. Saed Sibeh morreu devido aos ferimentos em sua cabeça causados por um projétil durante um tiroteio numa vila das imediações na semana passada.
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