Depois de um início de mandato marcado pelo dinamismo nas reformas, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta a primeira onda de greves contra seu governo. A mais importante paralisação começou na noite desta segunda-feira, quando os ferroviários cruzaram os braços e deixaram milhares de franceses sem transporte no fim do feriado prolongado de Páscoa.
O movimento apoiado por 77% dos maquinistas é uma reação a um projeto de reforma que prevê o fim do estatuto exclusivo de aposentadorias – maquinistas se aposentam aos 52 anos –, o fim da estabilidade no emprego e a extinção de benefícios, como bilhetes grátis de trem para toda a família.
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Trabalhadores dos setores de energia elétrica e gás somaram-se às greves apoiando o estatuto exclusivo dos ferroviários e pedindo sua extensão a todo o funcionalismo público. Os dois setores são estratégicos, porque envolvem também a EDF, companhia que controla as usinas de energia nuclear, responsáveis por mais de 70% da eletricidade da França.
Os movimentos no setor público, que envolvem também a coleta de lixo e universitários contra a criação de um sistema de seleção para ingresso na universidade, serão seguidos por trabalhadores de empresas privadas, como a companhia aérea Air France e os supermercados Carrefour.
Analistas dizem que este será o maior teste de Macron, que enfrenta pela primeira vez sindicatos fortes, que não se mobilizaram em 2017, quando uma reforma trabalhista tramitou nos primeiros meses de governo. Eleito com um programa reformista, que mudaria a cara da estatal ferroviária (SNCF), Macron terá de resistir à pressão das ruas. Nos últimos 20 anos, mobilizações enfraqueceram presidentes, como Jacques Chirac e François Hollande, e derrubaram primeiros-ministros.
Entre abril, maio e junho – início do período de férias na Europa –, os ferroviários deixarão de trabalhar dois dos cinco dias úteis. O resultado prático será uma esperada pane no transporte público francês, essencialmente férreo – 30 mil quilômetros de linhas funcionais e 15 mil trens circulando por dia.
“Com uma greve dos ferroviários, todos os governos se dobraram. E Macron não é Deus na Terra”, afirma Fabien Villedieu, um dos líderes do sindicato Sud-Rail. Para Jérôme Saint-Marie, cientista político e pesquisador no instituto Pollingvox, o presidente chega a uma encruzilhada no segundo ano de seu governo.
Uma pesquisa do instituto Elabe mostrou que 58% dos franceses consideram que o presidente é fiel a seu programa, 42% pensam que ele será eficaz para o desempenho da economia, mas só 25% acreditam que sua política é justa.
“Um greve de transportes é quase uma greve geral na França. É a hora da verdade para o ‘macronismo’”, adverte Saint-Marie. “Há duas possibilidades. Ou há uma agregação, incluindo as greves privadas, com um grande encontro dos que não votaram em Macron. Ou as pessoas pensarão que as greves prejudicarão o crescimento.”
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