LONDRES — O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, disse nesta segunda-feira, 5, que um “exército permanente” de policiais especialistas seria criado para lidar com tumultos e que o sistema de justiça seria reforçado para lidar com centenas de prisões após distúrbios violentos, provocados por manifestações anti-imigração, que têm abalado cidades por todo o país nos últimos dias.
Starmer convocou uma reunião urgente após a ilegalidade que ele atribuiu à “bandidagem da extrema direita”, impulsionada em parte pela desinformação nas redes sociais, que despertou a raiva por causa de um ataque a faca em uma aula de dança que matou três meninas e feriu 10 pessoas. Falsos rumores espalhados online de que o suspeito era um muçulmano em busca de asilo levaram a ataques contra imigrantes e mesquitas.
“Seja qual for a motivação aparente, isso não é protesto. É pura violência e não toleraremos ataques a mesquitas ou às nossas comunidades muçulmanas”, disse Starmer. “A força total da lei será aplicada a todos aqueles que forem identificados como tendo participado dessas atividades.”
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No domingo, 4, multidões enfurecidas atacaram dois hotéis usados para abrigar solicitantes de asilo, quebrando janelas e ateando fogo antes que a polícia dispersasse a multidão e os moradores fossem retirados dos hotéis. Dezenas de policiais foram hospitalizados por ferimentos nos últimos seis dias após serem atingidos com tijolos, garrafas e pilares de madeira.
Mais de 375 pessoas foram presas até agora e mais prisões são esperadas, disse o Conselho Nacional de Chefes de Polícia. Muitos compareceram ao tribunal nesta segunda-feira e receberam, pelo menos, várias semanas atrás das frades, aguardando a próxima audiência.
O juiz distrital adjunto Liam McStay, do Tribunal de Magistrados de Belfast, recusou a fiança de dois homens que participaram de uma marcha que destruiu estabelecimentos comerciais e colocou fogo em um supermercado na capital da Irlanda do Norte. Ele disse que não poderia permitir que isso se repetisse e “atingisse outras pessoas”.
“Os eventos no fim de semana foram absolutamente vergonhosos: uma tentativa orquestrada e deliberada de minar a ordem pública e então dominar a comunidade. E havia elementos racistas nisso”, disse McStay. “A mensagem tem que ser se você se permitir se envolver nessas questões por qualquer que seja a razão, então você lidará com as consequências.”
O plano de Starmer para reforçar a segurança e punir os responsáveis enfrenta desafios significativos, já que os tribunais e prisões já estão lotados, disse Cassia Rowland, pesquisadora sênior do think tank Institute for Government.
“Esse não é um problema que pode ser resolvido da noite para o dia e acho que será difícil para o sistema lidar com o fluxo de demanda que provavelmente veremos como resultado dessa desordem”, disse Rowland.
Starmer rejeitou os pedidos para reunir o Parlamento para lidar com a crise ou enviar o Exército. Seu gabinete disse que a polícia pode lidar com a desordem.
Na reunião com ministros e autoridades policiais de alto escalão, Starmer disse que as empresas de mídia social não fizeram o suficiente para impedir a disseminação de desinformação que alimentou a violência da extrema direita e prometeu que qualquer um que atiçasse a desordem — online ou nas ruas — poderia enfrentar a prisão, disse um porta-voz. Algumas dessas informações falsas e enganosas vieram de estados Estrangeiros.
“A desinformação que vimos online atrai a amplificação da atividade de bots conhecidos, que, como eu disse, podem ser vinculados a atividades apoiadas pelo Estado”, disse um porta-voz de Starmer em uma leitura da reunião.
O gabinete de Starmer condenou Elon Musk , dono da rede social X, por responder um post de imagens da violência dizendo: “a guerra civil é inevitável”. “Não há justificativa para comentários como esse”, disse o porta-voz. “Estamos falando de uma minoria de bandidos que não falam pelo Reino Unido.”
Perto de Rotheram, no norte da Inglaterra, onde uma multidão violenta invadiu no domingo um hotel onde migrantes estavam hospedados, atirando cadeiras contra a polícia e ateando fogo, uma multidão de voluntários apareceu nesta segunda-feira para ajudar a limpar a bagunça.
A polícia vigiava o prédio enquanto os vidros das janelas quebradas eram varridos. Uma cerca de madeira atrás do prédio foi destruída por homens que arrancaram as tábuas da cerca e as arremessaram contra a polícia.
“Estou horrorizado. Estou chocado com a violência que vimos ontem”, disse Oliver Coppard, prefeito de South Yorkshire. “Vimos uma multidão violenta de extrema direita descer para atacar 240 das pessoas mais vulneráveis da nossa sociedade e tentar queimá-las no hotel em que estavam morando. Isso não é ok e não há desculpa para isso.”
Em Southport, onde as primeiras manifestações ocorreram dia 30 de julho — um dia após o esfaqueamento — a polícia disse que apenas uma criança permaneceu no hospital. As outras sete crianças e dois adultos que ficaram gravemente feridos receberam alta.
Uma vigília foi realizada na segunda-feira para lembrar as três meninas mortas na aula de dança temática de Taylor Swift: Bebe King, de 6 anos, Elsie Dot Stancombe, 7, e Alice Dasilva Aguiar, 9.
Centenas de pais e crianças se reuniram em volta de buquês de flores e bichos de pelúcia do lado de fora do centro de artes Atkinson em memória das crianças. Enquanto um piano tocava, as crianças sopravam bolhas de sabão que pendiam e giravam no ar antes de desaparecerem.
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