PARIS - A organização Human Rights Watch (HRW) saudou nesta quinta-feira, 18, a resistência em todo mundo aos populismos ao estilo do presidente americano, Donald Trump, e pediu para que não se baixe a guarda diante da ameaça que eles representam para as instituições democráticas.
+ Gilles Lapouge: Extrema direita no poder
Em seu relatório anual, a organização internacional analisa a situação dos direitos humanos em 90 países, destacando os esforços para combater a demagogia, a demonização das minorias e as mensagens de exclusão.
+ No feriado em homenagem a Martin Luther King, Trump é alvo de críticas
"O grande problema deste ano é realmente o quanto o mundo mudou", declarou o diretor-executivo da organização internacional, Ken Roth. Em entrevista, ele destacou o "momento de desespero" que representou a chegada de Trump à Casa Branca há um ano, quando "parecia que os populistas autoritários estavam em ascensão e não havia nada que pudéssemos fazer para detê-los".
"O que tem sido encorajador no último ano é a resistência que vimos em muitos países a esse aumento de populismo", afirmou.
Segundo Roth, mesmo nos EUA, Trump se deparou com uma oposição generalizada, embora nem sempre bem-sucedida, de juízes, ativistas, jornalistas e até mesmo políticos do mesmo partido, que rejeitam suas políticas e suas mensagens de divisão racial.
Na Europa, a França foi vista de forma positiva, de acordo com HRW, com um líder como Emmanuel Macron, que se opôs à campanha de ódio do partido de extrema-direita Frente Nacional contra muçulmanos e imigrantes. A organização também mencionou o freio que a União Europeia (UE) impôs à Polônia e à Hungria por suas tentativas de prejudicar o Estado de direito.
Na América Latina, a HRW destacou, em particular, que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tenha sido confrontado com protestos por continuar a "destruir a democracia". Além disso, a organização citou indícios de que o filipino Rodrigo Duterte finalmente encontrou resistência interna à sua brutal repressão antidrogas.
Roth destacou ainda os esforços de muitos países pequenos, como a Islândia, que forçou Duterte a controlar sua "polícia assassina", ou a Holanda, que liderou os apelos pelo fim do bloqueio saudita no Iêmen.
Ele também recordou que, quando a Rússia vetou as propostas para responsabilizar a Síria, foi "Lichtenstein quem liderou os esforços na Assembleia-Geral da ONU para nomear um procurador especial."
Incertezas
Mesmo com os pontos positivos apresentados por esses países, o panorama é sombrio. "Alguns dos poderes mais importantes, nos quais tendíamos a confiar para promover os direitos humanos, de fato, desapareceram", disse Roth.
Esta é uma das principais consequências negativas da administração Trump, pronta para atacar o Irã, ou a Venezuela, mas geralmente ausente na frente internacional.
"Muito preocupado com o Brexit", o Reino Unido não desempenha o papel que já teve um dia. Para a HRW, a "indecisão" dessas potências "deixou um vazio em que atrocidades em massa têm ocorrido, muitas vezes descontroladas, em países como Iêmen, Síria, Mianmar e Sudão do Sul".
O custo foi especialmente alto em Mianmar, onde a retórica dos nacionalistas radicais, comandantes militares e membros do governo civil contribuíram para uma campanha de limpeza étnica contra os muçulmanos rohingyas.
De acordo com a HRW, mais de 640 mil membros desta minoria fugiram de "massacres, violência sexual e outros abusos pelas forças de segurança".
Para Roth, o fracasso do mundo em lidar com a líder civil, a ganhadora do prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, foi um erro. "Ninguém quer acreditar que ela tem liderado a limpeza étnica contra os rohingyas, mas, na essência, ela a defendeu e se recusou a criticá-la publicamente", frisou.
A conclusão é clara para a HRW: onde não há resistência, os populismos florescem. "A lição que aprendemos em 2017 é que há uma batalha e é uma batalha na qual vale a pena lutar", insistiu Roth. / AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.