ONU detecta no Irã urânio enriquecido próximo do necessário para uma bomba atômica

Relatório indica partículas de urânio enriquecido a 83,7%, pouco abaixo dos 90% necessários para fabricar uma bomba atômica; ONU pede esclarecimento

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou a detecção no Irã de partículas de urânio enriquecido a 83,7%, pouco abaixo dos 90% necessários para a fabricação de uma bomba atômica, segundo um relatório oficial o qual a agência France-Presse (AFP) teve acesso nesta terça-feira, 28.

PUBLICIDADE

As partículas foram detectadas em amostras coletadas em janeiro deste ano na usina de Fordo, especificou a AIEA, a agência nuclear da ONU. O resultado confirma relatos de fontes diplomáticas.

A AIEA pediu esclarecimentos ao Irã e continuidade dos diálogos para determinar a origem dessas partículas, acrescenta o relatório. O documento será apresentado na próxima semana na reunião do Conselho de Governadores da agência nuclear da ONU.

Estudante observa máquinas do Irã em exposição de Teerã sobre desenvolvimento nuclear do país, em imagem de 8 de fevereiro Foto: Vahid Salemi/AP

O relatório foi distribuído aos Estados-membros e provavelmente aumentará ainda mais as tensões entre o Irã e o Ocidente sobre o programa nuclear. Isso acontece quando Teerã enfrenta agitação interna após meses de protestos e uma crise com o Ocidente sobre o envio de drones portadores de bombas para serem utilizados pela Rússia na guerra contra a Ucrânia.

Publicidade

O Irã, que nega qualquer intenção de adquirir uma arma nuclear, indicou em carta à AIEA que a eventual presença desse tipo de partícula pode ser devida a “flutuações involuntárias” durante o processo de enriquecimento. O país desmentiu na semana passada ter enriquecido urânio a mais de 60% (nível máximo negociado no Acordo Nuclear com o Irã de 2015) e garantiu que afirmar o contrário representa “uma distorção dos fatos”.

As negociações para reativar o acordo de 2015 para limitar as atividades atômicas do Irã em troca do levantamento das sanções internacionais estão atualmente paralisadas. Elas começaram em abril de 2021 em Viena, sede da AIEA, mas foram interrompidas em agosto de 2022 em um contexto de tensões crescentes.

O acordo é considerado inútil desde que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018, sob a presidência de Donald Trump. Desde então, a República Islâmica do Irã ignora vários compromissos acordados.

Em janeiro, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, alertou que o Irã tem urânio suficiente para produzir “várias” bombas nucleares, se quiser, mas provavelmente são necessários mais meses para construir uma bomba e depois diminuí-la para colocá-la em um míssil.

Publicidade

A comunidade de inteligência dos EUA avaliou no último fim de semana que o Irã não está construindo uma bomba atômica. “Até onde sabemos, não acreditamos que o líder supremo no Irã ainda tenha tomado a decisão de retomar o programa de armamento que julgamos ter suspendido ou parado no final de 2003″, disse o diretor da CIA, Williams Burns, ao programa “Face the Nation” da CBS.

O relatório consultado pela AFP indica que as reservas de urânio enriquecido do Irã somavam 3.760,8 kg em 12 de fevereiro, 18 vezes mais que os 202,8 kg autorizados pelo acordo de 2015. O processo de enriquecimento atinge patamares cada vez mais elevados em relação ao teto de 3,67% estabelecido pelo acordo. Atualmente, Teerã tem 434,7 kg enriquecidos a 20% e 87,5 kg a 60%.

A descoberta foi feita após inspetores descobrirem que duas cascatas de centrífugas IR-6 nas instalações de Fordo do Irã haviam sido configuradas de uma maneira “substancialmente diferente” do que havia sido declarado anteriormente. A AIEA coletou amostras no dia seguinte, que mostraram partículas de até 83,7% de pureza. A AIEA disse que “aumentaria ainda mais a frequência e a intensidade das atividades de verificação da agência” em Fordo após a descoberta. /AFP, AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.