GENEBRA - A ONU anunciou nesta sexta-feira, 27, que vai reabrir as investigações contra o brasileiro Luiz Loures, ex-vice-diretor-executivo da Unaids. Ele foi acusado de assédio sexual e, apesar de ter sido inocentado por sua própria organização, acabou deixando seu cargo em março.
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Loures estava no centro de uma investigação de assédio na agência da ONU que levou ativistas a questionarem a capacidade da organização em lidar com casos dessa natureza e a denunciarem a tentativa da cúpula do órgão em abafar o problema.
De acordo com documentos obtidos pelo Estado em janeiro, o diretor-executivo da Unaids, Michel Sidibé, agiu para chegar a um acordo com uma mulher que disse ter sido vítima de assédio sexual por parte de Loures. A investigação concluiu que não havia elementos suficientes contra o brasileiro e recomendou arquivar o caso, o que acabou ocorrendo.
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Loures, inocentado pela investigação, era um dos brasileiros com o cargo mais elevado dentro do sistema internacional, equivalente a secretário-geral-adjunto da ONU.
Mas o arquivamento do processo na UNAids agora será revisto. Em Nova Iorque, o departamento de investigações e auditoria das Nações Unidas decidiu assumir o caso, reabrindo o processo e impedindo a participação de funcionários da agência de Saúde.
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No início de março, ativistas protestaram ao secretário-geral da ONU, António Guterres, diante do arquivamento da denúncia contra o brasileiro. Uma carta foi enviada pela entidade Aids-Free World, que lidera a campanha Code Blue, pedindo o fim da impunidade para a exploração sexual e abusos entre funcionários da ONU. Nos últimos anos, ela revelou uma série de escândalos de abusos sexuais por parte de soldados das tropas das Nações Unidas em missões de paz.
Em janeiro, a Unaids anunciou que encerrou uma investigação contra o brasileiro, apontando que as denúncias “não estavam substanciadas”. Loures era um dos responsáveis pela política de aids no mundo e entrou na entidade ainda nos anos 1990. Médico pela Universidade Federal de Minas Gerais, ele ainda passou pela Universidade de Berkeley, nos EUA. No site oficial da Unaids, ele é descrito como um dos “pioneiros” no tratamento de casos de aids.
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O suposto assédio teria ocorrido em maio de 2015 em um hotel na Tailândia e depois de um encontro da Unaids sobre prevenção do HIV. Na versão da vítima Martina Brostrom, o brasileiro a teria assediado depois de uma conversa sobre trabalho em um elevador. Ela ainda o acusava de fazer comentários sobre sua aparência desde 2011.
Contudo, segundo o processo revelado em fevereiro com exclusividade pelo Estado, os investigadores se disseram “perplexos” diante de uma tentativa de Sidibé de acabar com a polêmica, mesmo sabendo que a investigação ocorria.
Segundo a vítima, o chefe da agência a teria chamado no dia 28 de março de 2017 em Estocolmo para dizer que “Luiz Loures gostaria de pedir desculpas pelo que ele fez”. De acordo com a versão da vítima, ela ficou “muito insultada” e teria informado o ombudsman da Unaids sobre o ocorrido.
Sidibé foi questionado no dia 20 de outubro pelos investigadores e disse que Loures nunca pediu a ele que falasse com a vítima. Mas indicou que sugeriu que os três se reunissem para “esclarecer o caso e não o transformasse em um grande problema”. O objetivo seria evitar uma complicação para “a credibilidade da organização”.
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Ele confirmou que disse à vítima para encontrar uma “solução, informar e ir adiante”. Mas garantiu que se ela não aceitasse esse caminho, ele a apoiaria.
Os investigadores apontaram incoerências no relato do chefe da Unaids e ficaram surpreendidos com sua decisão de declarar que pensou que fosse bom “começar esse tipo de processo para garantir que não fosse algo grande”.
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