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Oposição acusa Justiça da Venezuela de protelar inscrição de candidatura; países vizinhos criticam

Enquanto Nicolás Maduro se inscreve para reeleição, opositora denuncia que sistema está bloqueado

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - O ditador Nicolás Maduro se registrou na tarde desta segunda-feira, 25, para disputar a reeleição na Venezuela. A opositora Corina Yoris, por outro lado, afirma que está sem acesso ao sistema de inscrição e pede a prorrogação do prazo, que encerra a meia-noite. O bloqueio acendeu o alerta entre vizinhos latino-americanos, que expressaram preocupação com a integridade das eleições venezuelanas. O Brasil se mantém em silêncio.

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Corina Yoris foi apontada na sexta-feira para substituir a homônima María Corina Machado, a líder opositora que teve a inelegibilidade confirmada pela Justiça depois da vitória nas primárias. Yoris, no entanto, denunciou que o sistema do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) está bloqueado, o que tem impedido o registro da sua candidatura.

“Meus direitos como cidadã venezuelana estão sendo infringidos ao não me permitirem acessar o sistema e inscrever minha candidatura”, denunciou Yoris, destacando que tentou de todas as formas inserir os dados, mas que o site do Conselho Nacional Eleitoral está “completamente fechado”.

A professora universitária e pré-candidata à presidência disse ainda que tentou ir pessoalmente ao Conselho Nacional Eleitoral com uma carta em que pedia pela prorrogação do prazo, esforço também sem sucesso. Segundo ela, um bloqueio militar impediu o acesso ao CNE. “Não é o nome de Corina Yoris que está sendo negado, é o nome de qualquer cidadão que queira concorrer porque os acessos estão bloqueados”, enfatizou.

A votação está marcada para 28 de julho, data do aniversário de Hugo Chávez, e o cronograma é apertado.

A inscrição de candidaturas teve início na quinta-feira, ou seja, o prazo é de apenas cinco dias com um fim de semana no meio. Na semana passada, antes de apontar a homônima como representante na disputa, María Corina Machado já havia denunciado que Un Nuevo Tiempo (UNT) e Mesa de la Unidad (MUD), símbolos eleitorais da coalizão de oposição, estavam sem acesso ao sistema.

Para o cientista político Jorge Morán, o objetivo do chavismo é repetir o cenário das eleições de 2028, quando a oposição boicotou a contestada eleição presidencial vencida por Nicolás Maduro sob suspeita de fraude. “(O objetivo é) que decida se abster e dividir o voto opositor”, disse o analista à AFP.

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Desde a quinta-feira, se inscreveram nove candidatos que se apresentam como opositores, mas são apontados como parte da estratégia do regime para dividir o voto dos críticos, sem alternativas reais para à Nicolás Maduro.

Nicolás Maduro registra candidatura e discursa para apoiadores enquanto oposição denuncia estar sem acesso ao sistema. Foto: Leonardo Fernandez Viloria/ Reuters

Enquanto os opositores relatam mais um duro golpe às suas aspirações eleitorais, Maduro chegou à CNE para se registrar como candidato à reeleição cercado por milhares de militantes convocados pelo Partido Socialista de Venezuela (PSUV). “No dia 28 de julho, aniversário de 70 anos do comandante Chávez, vamos vencer mais uma vez os sobrenomes, a oligarquia e todos os fantoches que eles lançam”, disse Maduro.

Em acordo celebrado sob a batuta dos Estados Unidos, o ditador chegou a se comprometer com eleições livres e justas em contrapartida pelo relaxamento de sanções e troca de prisioneiros. Mesmo antes da oposição relatar o bloqueio no sistema, contudo, o regime vinha fechando o cerco com a inabilitação de candidatos como Corina Machado e a prisão dos seus principais assessores.

Em nota conjunta, os governos da Argentina, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai expressaram “séria preocupação” com o impedimento do registro e afirmaram que isso “acrescenta questões sobre a integridade e transparência do processo eleitoral como um todo”. A nota afirma ainda que essas restrições impedem o progresso em direção a eleições que permitam a democratização da Venezuela e pede que Caracas reconsidere.

O ex-presidente uruguaio José Mujica, ícone da esquerda na região, voltou a criticar o governo Maduro. O líder, que governou entre 2010 e 2015, disse, em entrevista à rádio Rincón, que a Venezuela vive num “regime teimoso” que não respeita as “leis elementares da democracia”. Há pouco mais de um mês, ele definiu o governo venezuelano como autoritário, e que estava “indo para o outro lado”.

O Itamaraty, por sua vez, não se pronunciou publicamente. O Estadão procurou o Ministério das Relações Exteriores, mas também não obteve resposta.

Corina Yoris fala com a imprensa em Caracas e diz ter tentado de todas as formas registrar sua candidatura. Foto: Matias Delacroix/ Associeted Press

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já entrou em atrito com presidentes sul-americanos ao tentar reabilitar Nicolás Maduro e relativizou o conceito de democracia ao defendê-lo. Mais recentemente, o petista colocou em dúvida o comportamento da oposição na venezuelana ao dizer que estava feliz com a convocação do pleito.

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“Espero que pessoas que estão disputando eleições na Venezuela não tenham o hábito do ex-presidente desse País de negar durante todo o processo eleitoral a lisura”, disse Lula em referência a Jair Bolsonaro. Em mais um paralelo com a política brasileira, lembrou da eleição de 2018, quando estava inelegível e preso por processos da Operação Lava Jato. “Ao invés de ficar chorando, eu indiquei outro candidato que disputou as eleições”, no caso, o agora ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A declaração foi duramente rebatida por María Corina Machado. “Eu chorando, presidente Lula? Você está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Luto para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas primárias e dos milhões que têm o direito de fazê-lo numa eleição presidencial livre”, escreveu no X (antigo Twitter).

“Você está validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados que afirma apoiar”, acrescentou referindo-se à promessa de eleições livres e justas./Com AFP


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