Oposição da Venezuela denuncia sequestro de seu fiscal eleitoral e porta-voz Perkins Rocha

A líder María Corina Machado acusou o regime do ditador Nicolás Maduro de levar o advogado; organizações contabilizam mais de 1.600 presos políticos desde as eleições de 28 de julho

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Por Redação

CARACAS - A oposição da Venezuela denunciou nesta terça-feira, 27, o desaparecimento de seu principal fiscal eleitoral e porta-voz do Comando con Venezuela, Perkins Rocha, e acusa o regime do ditador Nicolás Maduro de sequestrá-lo. Mais de 1.600 pessoas já foram presas no país desde as eleições de 28 de julho em uma escalada repressiva sem precedentes.

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“O regime de Nicolás Maduro sequestrou meu amigo e companheiro de causa, Perkins Rocha”, escreveu a líder opositora María Corina Machado no X (antigo Twitter). Perkins é nosso advogado pessoal, nosso Coordenador Jurídico e representante do @ConVzlaComando perante o CNE.”

O Comando com Venezuela é a agrupação de campanha que reúne diversos partidos da oposição sob comando de María Corina e em torno da candidatura de Edmundo González Urrutia. Em sua conta oficial, o diretório de direitos humanos do Vente Venezuela, partido de María Corina, disse que “sujeitos não identificados o levaram a força”. “Exigimos informação e sua imediata liberação”.

O representante jurídico do Comando con Venezuela, Perkins Rocha Foto: Reprodução/Vente Venezuela

Rocha é uma figura central dentro da coalizão opositora, sendo um dos fiscais opositores perante o Conselho Nacional Eleitoral. Ele também era responsável pelas pronunciamentos oficiais da coalizão perante a imprensa nacional e internacional.

Outros nomes proeminentes da oposição foram presos nas últimas semanas, entre eles Freddy Superlano, líder do partido Voluntad Popular, e Maria Oropeza, líder regional do Comando con Venezuela no Estado de Portuguesa. Esta última detenção chegou a ser filmada pela opositora que fazia uma transmissão ao vivo nas redes sociais no momento em que homens entraram em sua casa.

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Organizações de direitos humanos denunciam a prisão de mais de 1600 pessoas, segundo dados da ONG Foro Penal, incluindo mais de 100 adolescentes e dezenas de pessoas com deficiência. O chavismo, porém, chega a dar números mais altos: 2400, segundo Nicolás Maduro.

O desaparecimento de Rocha ocorre um dia antes de novas manifestações convocadas pela oposição para amanhã, dia em que as eleições contestadas completarão um mês.

Candidato ignora MP

Também nesta terça, o candidato opositor Edmundo González Urrutia não atendeu à segunda intimação do Ministério Público (MP) para depor no âmbito de uma investigação criminal contra ele, após denunciar fraude nas eleições presidenciais de 28 de julho.

A convocação estava marcada para às 10h locais (11h de Brasília), mas González não compareceu. Não foi surpresa: o rival de Maduro está na clandestinidade e não aparece em público há três semanas, desde que o ditador pediu a sua prisão e de María Corina.

O MP investiga o opositor por suposta usurpação de funções e falsificação de documento público. Os crimes podem resultar, em tese, em uma pena máxima de 30 anos de prisão.

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A coalizão que apoiou sua candidatura, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), denunciou o que chamou de “assédio judicial contra González”, que no domingo chamou o procurador-geral, Tarek William Saab, de ser motivado politicamente ao impulsionar uma intimação sem garantias de independência e do devido processo.

A PUD - formada por 10 partidos de oposição - denunciou que a “reiterada intimação do Ministério Público busca justificar um mandado de execução contra nosso candidato vencedor, para aumentar sua perseguição”.

O MP não se pronuncio sobre uma eventual terceira intimação.

A primeira intimação foi enviada no sábado e, assim como a segunda, não especifica em que qualidade Gonzáles Urrutia foi convocado: acusado, testemunha ou especialista, segundo a legislação venezuelana. O texto menciona “uma entrevista relacionada aos fatos que este gabinete está investigando”.

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“Esta é uma citação totalmente irregular e foi elaborada precisamente para tentar fazer com que cometa um erro”, explicou à AFP Zair Mundaray, ex-procurador venezuelano. “Estamos diante de um ardil de perseguição política evidente, que não tem nenhuma formalidade”.

González apareceu em público pela última vez dois dias após as eleições, durante uma manifestação da oposição em Caracas. Desde então, ele se limita a fazer declarações via internet.

Saab responsabiliza González e María Corina por atos de violência em protestos pós-eleitorais que deixaram 27 mortos – incluindo dois militares – e quase 200 feridos.

“Acabaram-se as desculpas, quem atacar as instituições que assuma sua responsabilidade, porque as instituições vão assumir a própria [responsabilidade]”, afirmou o número dois do chavismo Diosdalo Cabello.

Maduro reforma gabinete

Apesar dos questionamentos sobre a sua declarada vitória nas eleições - feita sem a apresentação das atas de votação - Maduro anunciou uma renovação de metade de seu gabinete executivo.

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Ele justificou as mudanças falando que eram “necessárias para acoplar a força do governo popular, revolucionário e socialista da Venezuela e dar a ordem de que esta etapa foi aberta com a vitória [nas eleições] em 28 de julho”.

O ditador Nicolás Maduro (centro) acompanhado de Disdado Cabello (segundo da direita) Foto: Cristian Hernandez/AP

Entre as mudanças mais proeminentes estão a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, assumindo, paralelamente ao seu cargo atual, o comando do estratégico Ministério do Petróleo. Rodríguez foi ratificada na Vice-Presidência, cargo que assumiu em 2018 e a coloca como primeira na linha de sucessão.

Também há Diosdado Cabello, deputado de linha-dura e número dois do partido de Maduro, que voltará a comandar o Ministério do Interior mais de duas décadas depois de ocupá-lo durante o governo do finado presidente Hugo Chávez (2002-2013).

Delcy Rodríguez entregará o Ministério das Finanças, que também chefiava, para Anabel Pereira Fernández.

A Presidência da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que estava nas mãos do ministro do Petróleo demissionário, Pedro Tellechea, passará a seu hoje vice-presidente, Héctor Obregón. Tellechea, por sua vez, foi nomeado ministro da Indústria.

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Maduro também ratificou seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, no cargo desde 2014. O ditador também anunciou mudanças nas pastas de Agricultura, Turismo, Esporte, Trabalho, Obras Públicas e Educação, que passa ao governador do estado de Miranda (centro-norte), Héctor Rodríguez. A Educação Universitária ficará a cargo de Ricardo Sánchez, dissidente da oposição que agora apoia Maduro./Com AFP

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