Oposição obtém maioria que lhe dá poder para fazer reformas na Venezuela

Conselho Nacional Eleitoral divulga resultado final das eleições legislativas de domingo e bloco antichavista elege 112 deputados

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O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgou nesta terça-feira, 8, o resultado oficial das eleições legislativas de domingo na Venezuela. A oposição ao governo chavista obteve 112 deputados, número suficiente para o bloco reorganizar o Estado, aprovar leis importantes e, se quiser, realizar uma reforma constitucional ou até mesmo convocar uma nova Assembleia Constituinte.

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De acordo com os dados do CNE, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), que derrotou o chavismo na votação para a composição do Legislativo, obteve 112 assentos – 109 por votação nominal ou listas e 3 pela representação indígena. A coalizão chavista Grande Polo Patriótico (GPP) conquistou 55 lugares.

Desde cedo, antes mesmo da totalização dos votos, a MUD afirmava que sua candidata Karin Salanova, que disputava uma cadeira pelo circuito número 3 do Estado de Aragua, havia sido eleita com uma diferença de 82 votos sobre a concorrente chavista. Ainda segundo os opositores, com Karin e a eleição de Dinorah Figuera pelo voto em lista no mesmo Estado, estaria consolidada a maioria de 112 deputados.

O número era crucial por representar que a MUD superara a barreira da maioria de dois terços, a qualificada que dá maior poder ao bloco que domina a Casa. A primeira qualificada, de 101 cadeiras, já estava garantida para a oposição.

Com o primeiro número, os deputados têm poderes de destituir o vice-presidente e ministros em votação no plenário. Além disso, eles podem aprovar ou vetar leis habilitantes, que dão ao Executivo autorização para governar por decreto.

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Com os 112 deputados, as possibilidades se ampliaram. A MUD pode agora criar ou modificar leis orgânicas – que tratam da organização dos poderes públicos –, convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, nomear os integrantes do CNE (hoje, visto como um colegiado favorável ao chavismo) e aprovar reformas constitucionais. A posse dos novos 167 deputados será no dia 5.

Ameaças. Nesta terça-feira, os chavistas começaram a reagir com mais eloquência à derrota sofrida nas urnas no domingo. O atual presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, disse que o projeto dos opositores “já está mostrando seu rosto”.

Cabello, que se reelegeu deputado, mas perderá a cadeira da presidência quando voltar ao trabalho como parte da minoria, disse que a MUD quer “congelar as aposentadorias”.

Canais de TV governistas repetiram na terça-feira que o bloco vencedor desmontará os programas sociais do governo chavista.

Deputados eleitos pelo partido opositor Primeiro Justiça (PJ), integrante da MUD, falaram à imprensa nesta terça em um encontro na Praça San Martín, em Caracas. A candidata Marialbert Barros negou qualquer intenção de atacar os benefícios dados pelo governo. “Estamos discutindo uma agenda legislativa com um grande conteúdo social.”

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O deputado Tomás Guanipa, também eleito pelo PJ, destacou que o governo foi derrotado em bairros tradicionalmente ligados ao chavismo e povoados por muitos beneficiários dos programas sociais. “Ganhamos em Antímano, Catia e no 23 de Enero, é um reflexo de que o povo quer mudanças”, afirmou.

Mal-estar. A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, criticou nesta terça a conduta dos ex-presidentes da Colômbia, Andrés Pastrana, da Bolívia, Jorge Quiroga, e do Uruguai, Luís Lacalle, durante a jornada eleitoral de domingo. O CNE cassou as credenciais dos três, que haviam sido convidados pela oposição para observar o processo, após Pastrana e Quiroga darem declarações consideradas “descabidas” enquanto as urnas ainda estavam abertas.

“Violaram as leis da república. Violaram as leis eleitorais da Venezuela”, acusou Delcy.

Segundo a chanceler, o relatório que será elaborado pela missão de acompanhamento da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), comandada pelo ex-presidente da República Dominicana Leonel Fernández, registrará tais violações por parte dos ex-mandatários. No domingo, Cabello prometeu expulsá-los da Venezuela.