Ataque dos Estados Unidos mata chefe da Guarda Revolucionária do Irã no Iraque

Pentágono confirmou que o General Qassim Suleimani, considerado terrorista no país e em Israel, foi morto pela força aérea americana; ação ocorre em meio a uma elevação na tensão entre EUA e Irã

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Por Redação

BAGDÁ - O Pentágono confirmou nesta quinta-feira, 02, que um soldado da força aérea americana matou o general iraniano Qassim Suleimani, responsável pelos assuntos iraquianos na Guarda Revolucionária do Irã. Ele foi morto em um bombardeio no aeroporto de Bagdá, conforme anunciou ontem a televisão pública iraquiana. Um dos militares mais poderosos do grupo, ele era considerado terrorista pelos Estados Unidos e Israel.

Na manhã desta sexta, 3, o Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei, anunciou que seu posto será ocupado pelo brigadeiro-general Esmail Ghaan e que a Guarda irá permanecer "inalterada". Até o momento, ele era vice-comandante da força Al-Qods, responsável pelas operações estrangeiras do Irã.  Em comunicado, Khamenei prometeu vingança. "Sua partida (de Suleimani) não acaba com a sua missão e uma forte vingança aguarda os criminosos que têm seu sangue e o sangue dos outros mártires em suas mãos", disse o líder supremo em comunicado.

General da Guarda Revolucionária do Irã Qasem Soleimani emmarcha decelebração ao aniversário da Revolução Islâmica. Foto: Ebrahim Noroozi/ AP

"Esta ação teve como objetivo impedir futuros planos de ataque iranianos", afirmou o Pentágono em comunicado. "Por ordem do presidente, os militares dos Estados Unidos tomaram medidas defensivas decisivas para proteger os americanos que estão no exterior, matando Qassim Suleimani", conclui. Após a nota americana, a Guarda Revolucionária do Irã foi a público confirmar a morte de SuleimaniO anúncio foi feito em uma rede de televisão estatal e, de acordo com as forças de segurança iraquianas, pelo menos nove pessoas foram mortas durante o ataque.

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Um oficial da Casa Branca que não quis se identificar disse que o ataque teria sido realizado por meio de drones. Já a rede de televisão do Irã afirma que a ação foi feita por meio de helicópteros. O governo dos Estados Unidos ainda não deu detalhes oficiais de como o ataque foi realizado.

Depois da ação, a embaixada do país em Bagdá pediu a todos os cidadãos americanos que estão no Iraque para que saiam imediatamente do país.

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Logo após o comunicado, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump postou em seu perfil oficial no Twitter, uma imagem da bandeira norte americana, sem nenhum texto.

Minutos após o post de Trump, Mohsen Rezaei, um ex-comandante da Guarda Revolucionária do Irã prometeu vingar o ataque. "O General Qassim Suleimani, nosso mártir, se juntou aos seus outros irmãos mártires. Mas nós ainda iremos ter uma vingança vigorosa contra a América". Atualmente, Rezaei ocupa o cargo de secretário em um importante órgão do país. 

O ataque matou ainda outras cinco pessoas. Fontes das Forças de Mobilização Popular, uma coalizão de paramilitares identificados com o Irã, agora integrados ao Estado iraquiano, informaram à televisão estatal iraquiana que no ataque também morreu Abu Mehdi Al-Muhandis, número 2 da milícia. O chefe de relações públicas do grupo, Mohammed Ridha Jabri, também foi morto. Informações preliminares apontavam para um bombardeio localizado sobre dois veículos.

Em um vídeo publicado pelo secretário do Departamento de Estado Mike Pompeo em sua conta oficial no Twitter, é possível ver os soldados comemorando após a realização do ataque. No post, ele disse que eles estão "gratos que o general Suleimani não está mais aqui".

O bombardeio ocorre em meio a uma elevação na tensão entre Irã e EUA. No início da semana, a Embaixada americana em Bagdá foi alvo de milícias iraquianas pró-Irã, que chegaram a invadir parte do complexo e colocar fogo na recepção. O grupo recuou na quarta-feira, diante das ameaças do presidente americano, Donald Trump, de atacar o Irã, depois de a multidão atear fogo e quebrar câmeras de vigilância. Durante a ação, eles gritavam 'Morte à América'.

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Irã classifica bombardeio como 'ato terrorista'

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Em declaração oficial, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, classificou o bombardeio como "um ato de terrorismo de Estado" e uma "violação à soberania" do país. "Talvez a ação dos Estados Unidos tenha sido uma reposta à dor que esse grande homem lhes infligiu", disse, em referência a um relatório feito anos atrás pelo FBI e que credita a Suleimani a morte de ao menos 600 soldados norte-americanos.

O presidente iraniano Hassan Rohani também condenou o ataque coordenado por Trump, afirmando que "o martírio de Suleimani deixará o Irã mais decisivo para resistir ao expansionismo americano e defender nossos valores islâmicos. Sem dúvida, o Irã e outros países que buscam a liberdade na região, se vingarão". 

Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã, comentou na rede de televisão estatal do país que o assassinato do general não irá desmotivar a resistência jihad. "Todos os inimigos devem saber que a resistência jihad continuará com uma motivação dobrada, e uma vitória definitiva dos combatentes na guerra santa ainda é esperada". Ele também pediu três dias de luto oficial.  

Escalada da tensão

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Autoridades dos EUA afirmaram na sexta-feira passada que mais de 30 foguetes foram lançados contra uma base militar iraquiana perto de Kirkuk, ao norte do Iraque, matando um empreiteiro a serviço dos EUA e ferindo quatro americanos e dois soldados iraquianos.

Os EUA acusaram a milícia Kataib Hezbollah, financiada pelo Irã, de perpetrar o ataque. Um porta-voz da milícia negou envolvimento do grupo. Trump responsabilizou o Irã pelo ataque, e no Twitter disse que “o Irã matou um empreiteiro americano e feriu muitos”. Depois das primeiras ameaças, Trump afirmou que não queria guerra com Irã.

O Exército americano lançou ataques aéreos contra a milícia durante o fim de semana, matando 25 membros do grupo, no que o secretário de Estado Mike Pompeo qualificou como “uma resposta decisiva”. Ele disse que os EUA “não vão tolerar que a República Islâmica do Irã perpetre ações que colocam homens e mulheres americanos em risco”.

EUA e Irã estão em rota de colisão há anos - por causa da influência iraniana no Iraque, o programa nuclear do país e outros assuntos - e as tensões se intensificaram durante o governo de Donald Trump, que se retirou do acordo nuclear firmado em 2015 e impôs sanções devastadoras contra Teerã.

Mas os ataques aéreos ocorrem num momento particularmente explosivo no Iraque, onde a ira contra a intromissão estrangeira já era intensa. O principal clérigo xiita do país, o Grande Aiatolá al-Husseini al-Sistani, advertiu que o Iraque não deve se tornar “um campo para acertos de contas internacionais”, e o primeiro ministro Adel Abdul-Mahdi qualificou os ataques aéreos de violação da soberania iraquiana.

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Muitos dos manifestantes que invadiram a área da embaixada são membros do Kataib Hezbollah e outras milícias apoiadas pelo Irã. Embora o Irã tenha uma forte influência no Iraque, ele também tem sido alvo da ira popular e por vezes da violência por parte dos manifestantes iraquianos. / AFP, AP e NYT