O presidente Donald Trump não entende o poder brando ou seu papel na política externa. Coagir aliados democráticos como Dinamarca e Canadá enfraquece a confiança em nossas alianças; ameaçar o Panamá reacende temores de imperialismo em toda a América Latina; prejudicar a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional prejudica nossa reputação de benevolência; e destruir a Voice of America, Radio Free Europe/Radio Liberty, Radio Free Asia e outras emissoras financiadas pelo governo sinaliza um declínio no compromisso com valores liberais universais.
Os céticos dizem: “E daí?” A política internacional é um jogo duro. A abordagem coercitiva e transacional de Trump já está produzindo concessões, com a promessa de mais por vir. E como Maquiavel observou uma vez, é melhor para um príncipe ser temido do que amado.
Talvez. Mas é melhor ainda se os dois forem combinados.
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Poder é a capacidade de fazer com que os outros façam o que você quer. Isso pode ser realizado por coerção (“porretes”), pagamento (“cenouras”) e atração (“mel”). Os dois primeiros são poder bruto; atração é poder brando. No curto prazo, o poder bruto geralmente supera o poder brando. Mas, no longo prazo, o poder brando geralmente prevalece. Dizem que Iossif Stalin perguntou uma vez, zombeteiramente: “Quantas divisões o Papa tem?” Mas o papado continua de pé até hoje, enquanto a União Soviética de Stalin já se foi há muito tempo.
Mesmo no curto prazo, o poder brando importa. Se você for atraente para os outros, pode economizar em cenouras e porretes. Se um aliado o vê como benigno e confiável, ele é mais fácil de persuadir e mais propenso a seguir sua liderança. Se ele o vê como um valentão digno de desconfiança, é mais propenso a hesitar e reduzir sua interdependência quando puder.
Um analista norueguês certa vez descreveu a Europa da Guerra Fria como dividida em impérios soviético e americano. A diferença era que o lado americano era “um império por convite”. Isso ficou claro quando os soviéticos tiveram que enviar tropas para Budapeste em 1956 e para Praga em 1968. Em contraste, a Otan não apenas sobreviveu, mas teve antigos países do Pacto de Varsóvia clamando para se juntar a ela.
Trump estabeleceu a China como o maior desafiante dos Estados Unidos, e Pequim tem de fato aumentado seu poder duro ao desenvolver suas forças armadas e investir no exterior. Mas, em 2007, o presidente Hu Jintao disse ao 17º Congresso do Partido Comunista Chinês que a China precisava aumentar seu poder brando. Seu governo gastou dezenas de bilhões de dólares para esse fim — reconhecidamente com resultados ambíguos, por causa de dois grandes obstáculos. Primeiro, enfrenta disputas territoriais com vários de seus vizinhos. Segundo, sua insistência no controle partidário rígido de todas as organizações e opiniões em sua sociedade civil leva à repressão visível em toda a sociedade.

Os obstáculos da China são confirmados por recentes pesquisas de opinião pública. O Pew Research Center pesquisou 24 países em 2023 e relatou que a maioria da população na maioria dos países considerou os EUA mais atraentes do que a China, com a África sendo o único continente onde os resultados foram ainda mais próximos. Mais recentemente, a Gallup descobriu que os EUA tinham vantagem em 81 dos 133 países pesquisados, enquanto a China tinha vantagem em 52. É de se perguntar como serão esses números nos próximos anos se Trump continuar minando o poder brando dos EUA.
Ao longo dos anos, o poder brando dos EUA teve seus altos e baixos. Os Estados Unidos foram impopulares em muitos países durante as guerras do Vietnã e do Iraque. Mas o poder brando deriva da sociedade e da cultura de uma nação, bem como de suas ações governamentais. Mesmo durante a Guerra do Vietnã, quando multidões marcharam pelas ruas ao redor do mundo para protestar contra as políticas dos EUA, eles não entoaram a “International” comunista, mas sim “We Shall Overcome” do pastor Martin Luther King Jr.
Após sua invasão em grande escala da Ucrânia, a Rússia perdeu a maior parte do poder brando que tinha, mas a China está se esforçando para preencher qualquer lacunas criada por Trump. A China se vê como líder do chamado Sul Global, do que costumava ser chamado de países “não alinhados”. Ela usa seus votos e pessoal da ONU e suas alegações de ter um modelo de desenvolvimento igualitário mais bem-sucedido. Seu programa de desenvolvimento da Iniciativa Cinturão e Rota é projetado para atrair países na Ásia, África e América Latina.
Se Trump acha que derrotará facilmente a China renunciando completamente ao poder brando, ele provavelmente ficará desapontado. E nós também./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL