Esta foi a semana em que os chineses tiveram ganhos incríveis em inteligência artificial e os americanos tiveram ganhos incríveis em estupidez humana. Sinto muito, mas olho para o comportamento do governo Trump na semana passada e a única palavra que o descreve com precisão é: estúpido.
Não estou dizendo que os membros do governo Trump não são inteligentes. Todos nós conhecemos pessoas com alto QI que se comportam de uma forma tão burra quanto uma porta. Não acredito que existam pessoas estúpidas, apenas comportamentos estúpidos. Como o historiador italiano Carlo Cipolla disse uma vez, “A probabilidade de uma determinada pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa pessoa”.
E certamente não estou dizendo que os apoiadores de Donald Trump são menos inteligentes do que outros. Aprendi ao longo dos anos que muitos democratas de alto escalão detestam a diversidade intelectual. Quando eles têm poder em um sistema — seja a academia, a grande mídia, as organizações sem fins lucrativos ou o serviço público — eles tendem a impor uma ortodoxia sufocante que torna todos dentro dele mais maçantes, mais conformistas e insulares. Se os republicanos querem derrubar isso, eu digo: vão em frente.
Eu defino estupidez como comportar-se de uma forma que ignora a pergunta: O que aconteceria a seguir? Se alguém chega até você e diz: “Acho que vou fazer uma caminhada em uma tempestade de raios com uma antena de cobre na cabeça”, a estupidez responde: “Parece uma ótima ideia!” Estupidez é a tendência de tomar ações que prejudicam você e as pessoas ao seu redor.
O governo produziu rajadas de estupidez esta semana. Impôs tarifas ruinosas ao Canadá e ao México que aumentariam a inflação nos Estados Unidos. Tentou um expurgo amplo e geral da força de trabalho federal, aparentemente sem perguntar como esse expurgo afetaria as operações do governo. Mas eu gostaria de me concentrar em outro episódio: a tentativa de congelar os gastos federais em programas de assistência e a decisão subsequente de Trump de reverter o curso e desfazer o congelamento.
Ao anunciar o congelamento, o governo afirmou seu objetivo claro — cortar o financiamento de coisas como os programas de diversidade, equidade e inclusão que Trump desaprova. Um governo prudente teria escolhido os programas aos quais se opunha e se concentrado em cortá-los, por meio de um processo bem estabelecido conhecido como autoridade de rescisão. Mas o governo Trump decidiu impor um congelamento vago e mal feito envolvendo o que alegou ser mais de US$ 3 trilhões em gastos federais.
De repente, os pacientes em testes de tratamento contra o câncer nos National Institutes of Health não sabiam se poderiam continuar seus tratamentos, os administradores do Head Start não sabiam se poderiam obter fundos federais, cidades e estados em todo o território dos EUA ficaram sem saber se teriam dinheiro para forças policiais, escolas, programas de nutrição, reparos de rodovias e outros serviços básicos.

Essa política de Trump era como tentar curar a acne com uma decapitação. Ninguém parece ter feito a pergunta: se congelarmos todos os gastos com subsídios, o que acontecerá a seguir? Uma vez que as ramificações dessa estupidez se tornaram óbvias, Trump reverteu o curso. E esta é minha grande previsão para esta administração: ela produzirá um fluxo constante de políticas estúpidas e, quando as consequências dessas políticas começarem a atingir o índice de aprovação de Trump, ele mudará de ideia, diminuirá ou abandonará essas políticas. Ele ama a popularidade mais do que qualquer ideia.
Mas ainda é verdade que teremos que aprender muito a respeito da estupidez nos próximos quatro anos. Eu destilei o que aprendi até agora em seis princípios centrais:
Princípio 1: A ideologia produz desacordo, mas a estupidez produz confusão. Esta semana, pessoas em instituições por todos os EUA passaram alguns dias tentando descobrir o que diabos estava acontecendo. É isso que acontece quando um governo congela cerca de US$ 3 trilhões em gastos com um memorando de duas páginas que parece ter sido escrito por um estagiário. Quando a estupidez está no controle, argumenta o professor de literatura Patrick Moreau, as palavras se descolam “de sua relação com a realidade”.
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Princípio 2: A estupidez geralmente é inerente às organizações, não aos indivíduos. Quando você cria uma organização na qual um homem tem todo o poder e todos os outros têm que bajular seus preconceitos, então a estupidez certamente será o resultado. Como disse o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer: “Esta é virtualmente uma lei sociológico-psicológica. O poder de um precisa da estupidez do outro”.
Princípio 3: Pessoas que se comportam estupidamente são mais perigosas do que pessoas que se comportam maliciosamente. Pessoas más ao menos têm alguma ideia precisa de seus próprios interesses, o que pode restringir o comportamento delas. A burrice é atrevida! A estupidez já tem todas as respostas!
Princípio 4: Pessoas que se comportam estupidamente não têm consciência da estupidez de suas ações.
Talvez você tenha ouvido falar do efeito Dunning-Kruger, segundo o qual pessoas incompetentes carecem das habilidades para reconhecer a própria incompetência. Vamos apresentar o corolário de Hegseth-Gabbard: o governo Trump está tentando remover funcionários públicos que podem ou não ser progressistas, mas que têm um tremendo conhecimento em sua área de especialização, e contratar fanáticos do MAGA que muitas vezes carecem do conhecimento do seu domínio ou experiência. Os resultados podem ser diferentes do esperado pelo pessoal do MAGA.
Princípio 5: É quase impossível se opor à estupidez. Bonhoeffer observa: “Contra a estupidez, somos indefesos”. Como ações estúpidas não fazem sentido, elas invariavelmente chegam como uma surpresa. Argumentos razoáveis caem em ouvidos moucos. Evidências contrárias são deixadas de lado. Fatos são considerados irrelevantes. Bonhoeffer continua: “Em tudo isso, a pessoa estúpida, em contraste com a maliciosa, fica totalmente satisfeita consigo e, sendo facilmente irritada, torna-se perigosa ao partir para o ataque”.
Princípio 6: O oposto da estupidez não é inteligência, é racionalidade. O psicólogo Keith Stanovich define racionalidade como a capacidade de tomar decisões que ajudam as pessoas a atingir seus objetivos. Pessoas sob o domínio da mentalidade populista tendem a desprezar a experiência, a prudência e a especialização, componentes úteis da racionalidade. Acontece que isso pode fazer com que alguns populistas estejam dispostos a acreditar em qualquer coisa: teorias da conspiração, contos populares e lendas da internet; ou que vacinas são prejudiciais às crianças. Eles não vivem dentro de um corpo estruturado de pensamento, mas dentro de uma caótica rave de preconceitos.
Com o passar do tempo, desenvolvi cada vez mais compaixão pelos objetivos que os populistas estão tentando alcançar. A classe de liderança dos EUA passou as gerações mais recentes excluindo, ignorando, rejeitando e insultando uma grande parte deste país. É terrível ser atacado dessa forma. É pior quando você finalmente toma o poder e começa a atacar a si mesmo — e a todos ao seu redor. Na verdade, é uma estupidez./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL