O exemplo mais evidente de como uma organização criminosa se fragmenta ocorre em Sinaloa. Durante mais de uma década, o cartel local dominou o crime no México. Diferentemente dos rivais, Sinaloa se organizava de maneira horizontal, tão descentralizado que chegou a ser chamado de “Federação”. Os chefes formavam um trio: Joaquín Guzmán, “El Chapo”, Juan Esparragoza Moreno, “El Azul”, e Ismael Zambada, “El Mayo”.
Esparragoza teria morrido em junho de 2014, de um ataque cardíaco. Chapo foi extraditado para os EUA no apagar das luzes do governo de Barack Obama, em janeiro de 2017. Mayo, o último traficante, desapareceu. O vazio deixado pelos líderes foi ocupado pela nova geração. Entre eles estão três dos nove filhos de El Chapo, carinhosamente chamados pelos mexicanos de “Los Chapitos”, além de um afilhado, Dámaso López Serrano, jovem de 30 anos, conhecido como “El Mini Lic”.
“O problema é que habilidade e inteligência são qualidades que não se herda”, diz Carlos Rodríguez Ulloa, especialista em segurança pública e professor da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). “Chapo, Mayo e Azul cresceram do nada. Nasceram pobres, vieram da zona rural, não sentiam necessidade de luxo e nunca usaram um smartphone.”
Jovens e bilionários criados em um ambiente urbano, os filhos dos chefões de Sinaloa usam as redes sociais para ostentar armas, dinheiro, carros importados e mulheres bonitas. “Eles não se escondem de ninguém”, afirma Ulloa.
O resultado era previsível. Vicente Zambada, filho mais velho de Mayo, foi preso em 2009 e extraditado para os EUA. Serafín Zambada foi capturado ao tentar cruzar a fronteira americana, em 2013, e Ismael Zambada, o “Mayito Gordo”, foi detido em 2014. Discreto, o caçula Ismael Zambada Sicairos, o “Mayito Magro”, ainda vive em liberdade.
+ México captura filho de líder do narcotráfico 'El Mayo' Zambada Hoje, segundo Ulloa, há uma guerra fratricida pelo poder em Sinaloa que aumenta a disputa por rotas de distribuição e faz a organização perder terreno para um novo rival: o cartel Jalisco Nueva Generación (CJNG), que usa táticas militares muito mais violentas, provavelmente aprendida com os Zetas, inimigo de Sinaloa que perdeu força nos últimos anos.
Carlos Flores Pérez, que há anos acompanha a evolução do CJNG, garante que, após a morte e a prisão de vários líderes, o cartel também já dá sinais de cisão, que tende a se agravar. “As divisões internas estão por trás de alguns confrontos que já ocorrem no leste do país”, diz.
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