A aparição de objetos voadores não identificáveis (óvnis) se transformou para muita gente ao longo das décadas em sinônimo e confirmação de contato extraterrestre com a Terra. Nos últimos dias, coma derrubada em sequência de três objetos nos Estados Unidos e no Canadá, a confusão tomou as redes sociais. Mas, por enquanto, segundo a Casa Branca, ainda estamos longe de uma guerra dos mundos, ou de fazer contato com aliens, como nos filmes de Hollywood.
Captado em radares de aviões ou visto por pilotos e civis, o objeto desconhecido, para assim ser considerado, costuma ter formato estranho, se mover de forma estranha, sumir rapidamente. Mas não é necessariamente algo de outro planeta. Ou galáxia.
Ao contrário, os óvnis podem ser equipamentos feitos por nós, terráqueos, que voam por aí e surgem em radares de maneira inesperada por quem os vê. São casos de equipamentos como balões meteorológicos, drones e satélites, de acordo com o relatório do Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre óvnis entregue no ano passado ao Congresso americano. Foi o primeiro do tipo a ser apresentado aos deputados americanos pelo governo.
Esses objetos não têm o formato e não fazem uma rota semelhante à de aeronaves no ar. Por isso, costumam ser registrados como não identificáveis por militares responsáveis pela vigilância aérea que esperam detectar aviões.
O relatório americano apresenta a investigação minuciosa sobre 144 episódios de óvnis vistos por militares do país durante 2004 e 2021 e registrados por agências de inteligência. A conclusão sobre muitos, incluindo casos mais conhecidos nos EUA, segue, no entanto, sigilosa – o que mantém viva a ideia de que alguns deles podem ser extraterrestres. Esse desconhecimento estimula teorias e ajuda a sigla – óvni ou UFO, em inglês – a ser associada cada vez mais a visitantes estrangeiros.
Segundo uma reportagem do The New York Times, a inconclusão de muitos casos do relatório foi pela falta de informações confiáveis para o Pentágono ou para as agências de inteligência. A maioria destes são casos mais antigos.
“Em muitos casos, os fenômenos observados são classificados como ‘não identificados’ simplesmente porque os sensores não foram capazes de coletar informações suficientes para fazer uma atribuição positiva”, disse a porta-voz do Pentágono, Sue Gough, ao NYT. Ela se refere a câmeras, radares e outros aparelhos que coletam informações. “Estamos trabalhando para mitigar essas deficiências para o futuro e garantir que tenhamos dados suficientes para nossa análise.”
Mais sobre a derrubada de dois Óvnis
Sigilo e segredo
A razão de óvnis serem investigados sob sigilo, como qualquer investigação, é por existir o risco de ameaça à segurança nacional de um país caso se tratem de equipamentos de espionagem, por exemplo. A notícia da derrubada de um balão chinês pela Força Aérea dos EUA na semana passada e a devida repercussão nas relações entre os dois países – com o cancelamento da viagem do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à Pequim – é um caso exemplar sobre a importância de identificar um “Ovni”.
Segundo o líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, o governo americano acredita que os novos óvnis abatidos no Alasca e no Canadá também eram balões. A informação foi dada a ele pelo conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan.
Ilusões de óptica
Em alguns casos, os objetos não identificáveis são equipamentos conhecidos por quem os vê ou detecta, mas acabam por se tornarem estranhos por efeitos como a ilusão de ótica. Em maio do ano passado, o Pentágono afirmou que os óvnis em formato de triângulo e cor verde que apareceram em imagens disseminadas entre os americanos eram, na verdade, apenas drones fotografados por lentes de visão noturna.
Céticos e especialistas em óptica defendem há anos que muitas imagens divulgadas e aparições relatadas por aviadores navais são ilusões de ótica que fazem objetos comuns – balões meteorológicos, drones comerciais – parecerem se mover mais rápido do que o possível. Oficiais militares chegaram em grande parte à mesma conclusão.
Apesar das conclusões oficiais, muitas pessoas desacreditam no governo e reafirmam que algumas aparições no céu são extraterrestres. Essas crenças se proliferaram sobretudo nos EUA após a corrida espacial durante a Guerra Fria, que levou o homem à Lua pela primeira vez e teve um impacto cultural que fez proliferar filmes, livros e séries sobre esse tema. Objetos estranhos no céu vistos pelas pessoas ao redor do mundo também são outro fator que causa o descrédito.
Segundo o NYT, há um longo histórico do governo americano utilizando essas teorias para evitar a atenção sobre segredos. Durante o desenvolvimento de aviões espiões americanos como o U-2 e o SR-71 Blackbird, o governo permitiu que rumores óvnis continuassem a esconder o desenvolvimento desses programas.
Entretanto, as autoridades de inteligência concluíram há muito tempo que o uso de teorias da conspiração com a intenção de esconder programas secretos semeia a desconfiança e a paranoia.
Estimulado ou não, o mistério em torno do que não é identificável e da vida extraterreste continua e alimenta a curiosidade humana. Com o anúncio de derrubada dos óvnis neste fim de semana, milhares de pessoas se perguntaram se finalmente teriam uma resposta final sobre o contato com alienígenas. Não é o que parece. A resposta segue no ar e, a depender de qual seja, pode provocar crises menos existenciais e mais geopolíticas. /Com informações do NYT
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