Pacific Palisades, área nobre de Los Angeles, é devastada por incêndios; veja fotos e histórias

Dias depois de destruição pelo fogo, moradores começam a voltar à região para vasculhar ruínas e memórias

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Por Billy Witz (The New York Times)
Atualização:

Este fim de semana era para ser um fim de semana comum em Pacific Palisades, área nobre de Los Angeles. A Tropa de Escoteiros 223 estava planejando um acampamento de fim de semana em Malibu Creek. Os testes de beisebol dos jovens locais estavam programados no Campo dos Sonhos do Centro de Recreação de Palisades. Domingo de manhã seria a hora de ir à feira na Sunset Boulevard, para escolher produtos e carne proveniente de animais alimentados com capim, enquanto conversava com os vizinhos.

A região de Pacific Palisades foi atingida pelos incêndios. Foto: Kyle Grillot/The New York Times

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Palisades tem sido um canto bucólico de Los Angeles, com suas casas pontilhando as ruas estreitas que serpenteiam pelos cânions entre as montanhas de Santa Monica e o Oceano Pacífico. Aqueles que podiam se dar ao luxo de morar nessas casas eram atraídos por seu ritmo mais lento, longe o suficiente da roda “hamster” da estrada para se perderem nos pores-do-sol “technicolor” sobre o mar.

Agora, esses bairros são quase irreconhecíveis, depois que o fogo, provocado pelo vento, passou por um enclave após o outro, deixando em seu rastro casas totalmente queimadas, carros incinerados e vidas destruídas.

A vista de um trecho dizimado da Galloway Street em Pacific Palisades. Foto: Kyle Grillot/The New York Times

“Não sobrou nada”, disse Darby Woods, uma corretora de imóveis local que perdeu sua casa no incêndio. “Parece literalmente o que você vê na TV na Ucrânia. Parece que estamos em uma zona de guerra e não há reforços chegando. Está tudo dizimado.”

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Muitas casas em Palisades, antes conhecidas por suas vistas deslumbrantes, agora estão irreconhecíveis. Foto: Kyle Grillot/The New York Times

Quando o vento se acalmou na quinta-feira, 9, e as atenções começaram a se voltar para outras áreas de Los Angeles onde havia incêndios, os moradores se dirigiram a bolsões de Pacific Palisades para ver o que restava de suas casas - e das vidas que haviam construído ali.

Pacific Palisades era conhecida por ser uma área tranquila de Los Angeles. Foto: Philip Cheung/The New York Times Image

O cheiro de fumaça pairava sobre o bairro de Castellammare, em Palisades, em um penhasco com vista para o Pacífico. Um homem em uma motocicleta oferecia burritos aos famintos, e outros dois em veículos entregavam água aos sedentos, enquanto os bombeiros vasculhavam os lotes em chamas em busca de sinais de incêndios ainda não extintos.

Bombeiros combatem as chamas em uma casa no Sunset Boulevard. Foto: Mark Abramson/The New York Times

Um homem com uma pá na mão subiu uma colina até a casa de sua mãe, com a intenção de recuperar seus medicamentos, fotos de família e desligar todas as válvulas de água e gás que permaneciam abertas.

Os sinais da imprevisibilidade do incêndio eram inevitáveis.

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Incêndios atingiram a maior parte do bairro. Foto: Loren Elliott/The New York Times

Duas portas abaixo, na Tranquillo Road, uma casa à venda por US$ 5,35 milhões havia se transformado em uma pilha fumegante de madeira, metal e pedra - a placa do agente era a única coisa intocada. Perto dali, as árvores do lado de fora de uma casa não passavam de galhos carbonizados, enquanto do outro lado da rua, um limoeiro com frutas maduras estava de sentinela na porta da frente.

Vagando pela vizinhança em busca de ajuda estava Randy Stoklos. Ele nasceu em Tranquillo, viajou pelo mundo como astro do vôlei de praia e comprou a casa vizinha à dos pais em 1989 por US$ 630 mil.

Randy Stoklos, ex-jogador do vôlei de praia que cresceu e ainda vive em Palisades, caminha pelos escombros da propriedade de seu vizinho. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

“Há lugares lindos em todo o mundo, mas este é Shangri-La”, disse Stoklos, de 64 anos, que não saiu de casa quando os incêndios ocorreram, acordando às 4h30 de quarta-feira, 8, para afastar as brasas com uma mangueira de jardim. “O ar é limpo e fresco - você não precisa de ar condicionado - e o pôr do sol é incrível. Até recentemente, eu nunca trancava a porta.”

Um parque em Pacific Palisades foi destruído pelo incêndio. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

Brendan Armm e sua parceira Sunshine Armstrong estavam tentando processar tudo isso. Armm, um acupunturista, havia estacionado seu Tesla na Pacific Coast Highway e se juntou a Sunshine para salvar sua casa e outras. Eles também resgataram o filhote de cachorro de um vizinho. Mas quando ele retornou ao carro, este havia se incendiado, assim como o condomínio do qual é proprietário.

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“Perdemos um condomínio e um carro e salvamos várias casas e um filhote de cachorro”, disse Armm. “Acho que estamos indo bem.”

No região de Castellammare, em Palisades, as chaminés de tijolos são tudo o que resta de algumas casas. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

Os moradores dessa área há muito tempo cogitavam um desastre como esse. O incêndio Woolsey em Malibu em 2018 foi um aviso, assim como a seca quase perpétua da Califórnia.

E ainda assim...

“Esta é uma cidade rica”, disse Armm. “A suposição é de que isso não acontecerá aqui. Então, fico sabendo pela minha parceira que minha casa está pegando fogo. Haverá um acerto de contas devido a esse trauma compartilhado. As pessoas vão adaptar seus valores. Qual é a importância daqueles sapatos ou relógios caros quando as coisas acontecem dessa forma? A comunidade vai mudar.”

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Brendan Armm, acupunturista, em seu consultório. Ele ajudou a salvar sua casa em Palisades. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

Naquele momento, um veículo parou e Jim McDonnell, chefe de polícia de Los Angeles, saiu para oferecer suas condolências ao casal. Ele e seus policiais estavam percorrendo a área. Eles tinham visto a devastação na televisão, mas agora podiam senti-la.

“Não é possível explicar isso a alguém a menos que ele veja”, disse o chefe, olhando para a vista do oceano de cair o queixo - vista que só era possível porque uma casa que estava lá dois dias antes não estava mais.

Há duas estradas para Castellammare: uma entrada para o leste pela Sunset Boulevard e a outra para o oeste, pela Pacific Coast Highway. Quando a ordem de evacuação foi dada na manhã de terça-feira, 7, Ted Radin, de 77 anos, deixou a casa que havia comprado em 1977 e foi até a rodovia. Ele atravessou a ponte de pedestres até a praia e depois deu meia-volta, e observou a encosta por horas.

Ted Radin foi evacuado de sua casa em Palisades, mas voltou para salvar partes da sua casa. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

Ele viu as brasas caírem em uma casa e, em seguida, observou as chamas se espalharem como dedos em torno de uma caixa de joias até que ela fosse engolida. Depois, outra. E mais outra. Parecia metódico, quase inexorável. Quando o sol se pôs, Radin, um atuário aposentado que não usa e-mail e carrega um celular flip, fez outro cálculo de risco.

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Ele tentaria salvar sua casa.

Assim, atravessou a ponte de pedestres, voltou a subir a colina e se equipou com uma mangueira de jardim. Radin retirou as brasas da casa de seu vizinho do outro lado da rua e depois molhou a palmeira que havia pegado uma faísca em seu jardim da frente antes que os bombeiros chegassem, por volta das 22h.

As árvores carbonizadas no quintal da casa de Radin. Foto: Ariana Drehsler/The New York Times

“Acredito que o fato de eu estar aqui fez a diferença”, disse Radin.

Ele ficou sabendo na manhã de quinta-feira que era improvável que a eletricidade e o gás fossem restabelecidos tão cedo; portanto, talvez tivesse de se acostumar com chuveiros frios. Ele refletiu sobre isso vestindo uma camiseta cinza e calça de moletom, sentado nos degraus da frente de sua casa. A casa que ele havia resgatado.

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