Países árabes devem deixar aliança de Trump de lado e pressioná-lo por mais dureza com Israel

Embora grandes rupturas não sejam esperadas, os Estados do Golfo estão pedindo uma postura mais dura em relação a Israel e um abrandamento em relação ao Irã, posições que diferem muito do primeiro mandato do republicano

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Por Ismaeel Naar (The New York Times)

Quando Donald Trump foi presidente dos Estados Unidos pela primeira vez, as ricas monarquias do Golfo Pérsico tiveram um relacionamento majoritariamente harmonioso com seu governo. Enquanto Trump se preparou para retornar à Casa Branca, os líderes desses países do Golfo geralmente o trataram bem.

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Desta vez, porém, os Estados do Golfo e Trump parecem divergir em várias questões fundamentais, como Israel e Irã. As diferenças sobre política energética também podem ser fonte de atrito.

É improvável que haja grandes tensões ou rupturas com os aliados dos EUA no Golfo. Mas Trump encontrará uma região que mudou drasticamente desde que Israel lançou sua guerra em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual as autoridades israelenses dizem que cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 feitas reféns.

A guerra em Gaza, na qual pelo menos 45 mil pessoas foram mortas, de acordo com autoridades de saúde no enclave, se espalhou pela região. No Líbano, o grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irã, sofreu severamente com mais de um ano de luta contra Israel. E na Síria rebeldes derrubaram o regime de Bashar Assad.

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O presidente americano Donald Trump visitou a Arábia Saudita em 2017. A região mudou drasticamente desde seu primeiro mandato. Foto: Stephen Crowley/The New York Times

Agora, enquanto Trump lota seu gabinete com falcões em relação ao Irã e defensores ferrenhos de Israel, os líderes do Golfo têm pedido uma posição mais branda em relação a Teerã e uma linha mais dura sobre Israel.

E também têm pedido para os EUA permanecerem envolvidos com a região.

Uma relação de afinidade

Por enquanto, o governo Trump parece ansioso para se envolver com potências do Golfo como Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Em dezembro, o escolhido de Trump como representante no Oriente Médio, Steve Witkoff, estava na capital dos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi, onde participou de uma conferência sobre bitcoin juntamente com Eric Trump, filho do presidente eleito. Ele também foi a Riad, na Arábia Saudita, onde se encontrou com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, informou o site de notícias Axios.

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A seguir, leia uma análise mais detalhada sobre os problemas enfrentados por Trump em seu relacionamento em evolução com aliados tradicionais do Golfo.

Envolvimento no Oriente Médio

Um dos pedidos mais evidentes no Golfo para que Trump evite uma agenda isolacionista veio do príncipe saudita Turki al-Faisal, ex-chefe dos serviços de inteligência de seu país.

Em uma carta aberta ao presidente eleito dos EUA, publicada em novembro no jornal The National, de Abu Dhabi, o príncipe Turki mencionou uma tentativa de assassinato contra Trump e expressou sua convicção de que “Deus poupou sua vida” em parte para que Trump possa continuar o trabalho que havia começado no Oriente Médio em seu primeiro mandato. Essa missão era trazer “PAZ, com letras maiúsculas”, escreveu ele.

Em seu primeiro mandato, o governo Trump intermediou os Acordos de Abraão, que estabeleceram relações de vários países árabes com Israel.

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Uma mensagem semelhante ao príncipe Turki foi entregue alguns dias depois por Anwar Gargash, conselheiro o presidente dos EAU, o xeque Mohammed bin Zayed, em uma conferência em Abu Dhabi.

Com o Golfo cercado por uma região cada vez mais turbulenta, disse Gargash, a liderança e a parceria americanas permaneceram essenciais. “Precisamos de uma liderança robusta que equilibre as preocupações humanitárias com os interesses estratégicos”, disse ele.

Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. A administração Trump parece ansiosa para se envolver com as potências do Golfo, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Foto: Tamir Kalifa/The New York Times

Endurecendo sobre Israel

Em relação a Israel, a mudança mais marcante na mensagem no Golfo veio do líder de facto da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro. Ao discursar em uma cúpula da Liga Árabe em Riad recentemente, o príncipe Mohammed chamou a campanha militar israelense em Gaza de “genocídio” pela primeira vez.

Pouco antes da guerra em Gaza eclodir, em outubro de 2023, a Arábia Saudita parecia prestes a forjar relações diplomáticas com Israel sem cumprir sua pré-condição de longa data: o estabelecimento de um Estado palestino. Esse acordo teria reconfigurado o Oriente Médio.

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Segundo o plano, a Arábia Saudita normalizaria as relações com Israel em troca de laços de defesa mais fortes com os Estados Unidos e apoio americano a um programa nuclear civil na Arábia Saudita.

Mas falas recentes do príncipe Mohammed sugerem que qualquer acordo está muito distante. Além de sua declaração se referindo ao genocídio em Gaza, ele também deixou claro que a Arábia Saudita não estabelecerá relações diplomáticas com Israel enquanto um Estado palestino não for criado. Essa perspectiva ainda é distante, dada a forte oposição a um Estado palestino dentro do governo do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.

“Eu acho que o príncipe herdeiro queria deixar sua posição clara e fora de qualquer sombra de dúvidas”, disse Ali Shihabi, um empresário saudita que é próximo da família governante do reino.

Os Emirados Árabes Unidos — signatários os Acordos de Abraão — também sinalizaram uma postura mais dura em relação a Israel. O primeiro-ministro, Sheikh Abdullah bin Zayed, disse ao seu homólogo israelense na semana passada que os Emirados “não poupariam esforços para apoiar os palestinos”.

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Apesar do posicionamento público da Arábia Saudita sobre o status de um acordo de normalização, diplomatas americanos indicaram que o reino pode estar, no privado, aberto a avançar neste ponto sob uma segunda presidência de Trump — condicionado a um cessar-fogo permanente em Gaza e a um compromisso tangível de Israel em direção a um caminho para a criação de um Estado palestino.

“Tudo isso está pronto para acontecer se a oportunidade se apresentar com um cessar-fogo em Gaza, bem como entendimentos sobre um caminho a seguir para os palestinos”, disse o secretário de estado dos EUA, Antony Blinken, na quarta-feira. “Então, há uma tremenda oportunidade aí.”

Relaxamento com o Irã?

Durante o primeirio mandato de Trump, tanto os Emirados Árabes Unidos quanto a Arábia Saudita defenderam a posição agressiva de seu governo em relação ao Irã, vendo Teerã como um rival perigoso na região.

Eles celebraram quando Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e saudaram sua decisão de autorizar o assassinato de Qassim Suleimani, o general que comandou as milícias e forças proxy do Irã no Oriente Médio, em janeiro de 2020.

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Mas as dinâmicas da região mudaram desde o primeiro governo Trump.

O Irã e a Arábia Saudita alcançaram um acordo em março de 2023 que reduziu as tensões no Golfo Pérsico e abriu a porta para contatos diplomáticos de alto nível.

Outdoor pró-Hezbollah perto de um ponto de táxi em Teerã. Aliados do Golfo dos Estados Unidos têm pedido uma postura mais branda em relação ao Irã. Foto: Arash Khamooshi/The New York Times

Bahrain, depois de anos de tensão com o Irã, após anos de tensão com o Irã, fez propostas ao governo iraniano, com o rei Hamad bin Isa al-Khalifa dizendo que não havia “nenhuma razão para atrasar” a retomada das relações diplomáticas. O pequeno reino insular também condenou o ataque de Israel ao Irã em outubro passado, quando uma guerra secreta entre os dois países irrompeu abertamente com ataques de retaliação.

Para a Arábia Saudita, o objetivo é claro: criar um ambiente regional estável propício ao sonho do príncipe Mohammed de diversificar a economia saudita dependente do petróleo. Para o Irã, décadas de isolamento econômico e político, agravadas pela crescente agitação doméstica, tornaram a reconciliação com Riad uma necessidade.

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Há também indícios de que o Irã pode estar aberto a negociar com Trump. Muitos ex-funcionários, especialistas e editoriais de jornais no Irã pediram abertamente que o governo se envolvesse com Trump.

Até agora, Trump também parece aberto, pelo menos em traçar um curso diferente da campanha de “pressão máxima” do seu primeiro mandato. Em novembro, Elon Musk, um conselheiro próximo de Trump, se encontrou com o embaixador do Irã nas Nações Unidas, disseram autoridades iranianas.

“Nós temos que fazer um acordo porque as consequências são impossíveis”, disse Trump em setembro, referindo-se à ameaça do Irã de desenvolver armas nucleares.

Atritos sobre petróleo

Embora os países do Conselho de Cooperação do Golfo — Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — pareçam abertos à abordagem transacional de Trump à diplomacia, eles podem encontrar a si mesmos em desacordo com suas políticas econômicas.

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Uma promessa central da campanha era aumentar a produção de petróleo e gás dos EUA, uma medida que poderia prejudicar as economias do Golfo.

Se os Estados Unidos aumentarem a produção de petróleo, como Trump prometeu, os produtores do Golfo terão menos escopo para aumentar a produção sem provocar uma queda nos preços.

Bombas de extração de petróleo bruto de poços fora de Midland, Texas. Trump prometeu aumentar a produção de petróleo, o que pode afetar as nações do Golfo ao reduzir os preços.  Foto: Desiree Rios/The New York Times

“O aumento da exploração e produção de petróleo nos EUA reduzirá os preços e colocará em risco as economias do Golfo movidas pelo petróleo”, disse Bader al-Saif, pesquisador associado do instituto de pesquisa Chatham House, de Londres, em um relatório recente.

Trump também deve acelerar os projetos de gás natural liquefeito, revertendo o congelamento de licenças imposto por Biden e aumentando as exportações dos EUA, principalmente para a Europa.

O Catar, um dos maiores produtores de gás ao lado dos Estados Unidos, provavelmente seria o mais afetado, mas até agora minimizou suas preocupações.

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