Israel prometeu, neste sábado, 27, acabar com a presença em Gaza da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), envolvida em uma polêmica pelo suposto papel de alguns de seus funcionários no ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro.
O governo dos Estados Unidos anunciou na sexta-feira, 26, a suspensão temporária do financiamento à agência, uma decisão imitada neste sábado por Austrália, Canadá, Itália, Reino Unido, Finlândia e Países Baixos.
A UNRWA, criada em 1949 e no alvo das autoridades israelenses há muito tempo, demitiu vários funcionários depois que Israel acusou estas pessoas de envolvimento na incursão letal do movimento islamista no sul do país. Washington afirmou que a agência da ONU demitiu 12 empregados.
Os atos concretos pelos quais os funcionários são acusados não foram revelados. Mas o titular da diplomacia israelense afirmou neste sábado que a UNRWA não tem futuro na Faixa de Gaza, onde os combates não dão trégua.
O governo pretende garantir que a UNRWA “não será parte” da solução no território palestino após a guerra, declarou afirmou o chanceler Yisrael Katz em um comunicado.
Katz expressou o desejo de “deter” todas as atividades da agência e pediu aos doadores a favorecer agências “que se dedicam à paz e ao desenvolvimento de maneira sincera”.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, escreveu na rede social X que este é o momento de “criar uma alternativa que não eduque gerações de palestinos no ódio”.
O Hamas denunciou as “ameaças” israelenses contra a UNRWA e fez um apelo para que a ONU e outras organizações internacionais “não cedam às ameaças e à chantagem”.
O Hamas, que é classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, acusou o governo israelense de querer “cortar os fundos e privar” os moradores de Gaza de qualquer ajuda.
A guerra começou em 7 de outubro, quando os soldados do Hamas atacaram o sul de Israel, mataram quase 1.140 pessoas, a maioria civis, e sequestraram outras 250, segundo um balanço da AFP elaborado com base em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixa, até o momento, pelo menos 26.257 mortos em Gaza, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
A UNRWA, que atua nos territórios palestinos ocupados, assim como no Líbano, Jordânia e Síria, enfrentou dificuldades para financiar suas operações nos últimos anos.
O governo dos Estados Unidos, seu maior contribuinte, cancelou o financiamento durante o mandato do ex-presidente Donald Trump.
A chegada de Joe Biden à presidência representou um alívio, com o anúncio do retorno da ajuda em 2021.
As relações entre Israel e UNRWA pioraram depois que a agência da ONU atribuiu a tanques israelenses os disparos que atingiram, na quarta-feira, um de seus centros de abrigo aos deslocados em Khan Yunis, no sul de Gaza.
Ao menos 13 pessoas morreram e 56 ficaram feridas no ataque, segundo a agência, que denunciou uma “violação flagrante das regras fundamentais da guerra”.
O Exército israelense anunciou que iniciaria uma “investigação exaustiva” de suas operações na região, mas não descartou a responsabilidade do Hamas nesse ataque. O Exército israelense é a única força que possui tanques destacados em Gaza.
O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, pediu prudência. Apesar de ter reconhecido que a agência desempenha um “papel vital” em Gaza, ele afirmou que espera “total transparência” e “medidas imediatas” antes de tomar uma decisão.
A Suíça também se recusou a tomar partido e pediu “mais informações” antes de aprovar o orçamento de 2024.
Johann Soufi, advogado internacional e ex-diretor do departamento jurídico da UNRWA em Gaza, afirmou a agências de notícias que a instituição tem “política de tolerância zero com a violência e a incitação ao ódio”. /AFP
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