Palhaços e vigilantes pró e contra imigração tomam as ruas de cidade finlandesa

Em Tampere, terceira maior cidade do país, palhaços do Loldiers tentam ridicularizar o discurso de extrema direita dos Soldados de Odin, que patrulham as ruas da cidade por conta própria

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Por Richard Martyn-Hemphill

TAMPERE, FINLÂNDIA - Um circo político surreal está atravessando as ruas congeladas da terceira maior cidade da Finlândia. De um lado estão os Soldados de Odin, de extrema direita, uma patrulha de vigilância vestida de couro nomeada em homenagem a uma divindade nórdica, que tomou para si a tarefa de proteger Tampere das cerca de 1,2 mil pessoas que procuram asilo aqui, vindas da Síria, Iraque e outros lugares.

Do outro lado está uma trupe de palhaços que saltam pelas ruas carregando pirulitos, espanadores e escovas de banheiro, zombando e algumas vezes confrontando os grupos anti-imigração, entre eles, os soldados. Os palhaços se denominaram Loldiers de Odin (Loldiers é uma junção do anagrama lol - "laugh out loud" em inglês, ou gargalhada - com "soldiers", soldados) e surgiram nas últimas semanas como defensores do multiculturalismo. 

Membros dos Soldados de Odin, grupo de extrema direita, patrulha as ruas de Tampere - 3ª maior cidade da Filandândia - para onde cerca de 1,2 mil refugiados foram enviados Foto: Ilvy Njiokiktjien/The New York Times

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E assim a vida segue nessa cidade industrial - que alguns chamam de "capital da comédia" da Finlândia - enquanto grande parte da Europa lida com o afluxo de recém-chegados no Oriente Médio, da África e de outras regiões.

Tudo começou com os Soldados de Odin, um grupo que se formou em Kemi, cidade na beira da Lapônia perto do Círculo Polar Ártico que viu milhares de pessoas que procuravam asilo chegarem através da fronteira com a Suécia no final de 2015. Agora, o grupo está organizado em pelo menos 25 cidade da Finlândia, e uma página do Facebook para os soldados foi aberta na Noruega. 

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Em Tampere, membros do grupo patrulham os bairros mais perigosos da cidade três vezes por semana, embora, até agora, sua única contribuição para os agentes da lei tenha sido chamar a polícia depois de encontrar um finlandês bêbado.

"Somos uma patrulha tomando conta da segurança das pessoas, da segurança das mulheres", afirma o líder local Tony, um eletricista de 37 anos que só consentiu em dar o primeiro nome.

Então vêm os Loldiers, acompanhando as músicas de um acordeão decrépito e com um palhaço representando Odin como um bufão barbado vestindo um roupão e um chapéu falso de viking com chifre de plástico. Os palhaços cruzaram pela primeira vez o caminho dos soldados em uma recente patrulha de final de semana, tocando buzinas e cantando canções de ninar. 

No sábado seguinte, os Loldiers tentaram repetir a brincadeira em uma reunião nacionalista. A polícia não achou engraçado e prendeu dois palhaços por perturbar a manifestação.

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Jussi Jalonen, historiador local que estuda os movimento de extrema direita, diz que a trupe de palhaços está usando a arte da paródia em uma tentativa de fazer com que o fervor anti-imigração e a patrulha de vigilância pareçam ridículos. 

"Eles são basicamente um grupo de performance protestando - pacificamente e usando a comédia - contra a extrema direita", afirma ele. 

Alguns dos manifestantes anti-imigração afirmam que os palhaços são anarquistas. Eles dizem que como a Gothan City do Batman, os heróis são os vigilantes e os palhaços, os vilões.

"Eles estão tentando provocar os Soldados de Odin até que batam neles, assim vão levar a culpa. Mas o grupo se manteve tranquilo e não respondeu às provocações", explica um manifestante anti-imigração que estava brandindo uma tocha acesa e se identificou apenas como Jarkko, trabalhador da construção civil de 36 anos. 

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Os Soldados de Odin não eram visíveis na manifestação, embora vários dos presentes dissessem que alguns membros talvez estivessem lá sem suas jaquetas de couro características com a figura de Odin nas costas. 

Os Soldados de Odin dizem que não se intimidam com a chegada dos palhaços, prometendo mais marchas quando a neve degelar na primavera, época em que se espera uma nova onda de imigrantes. "Eles não nos causam problemas, só a eles mesmos", afirma Tony, o líder da divisão de Tampere dos Soldados. 

Sua pequena tropa de 50 soldados surgiu em Tampere nas últimas semanas representando o ressentimento da elite, a falta de confiança na mídia finlandesa, a frustração a respeito do crescimento do desemprego e o medo causado por um súbito afluxo de estrangeiros - acompanhado de relatos de agressões sexuais e ataques terroristas em todo o continente em 2015.

Alguns membros do grupo, incluindo a liderança da organização em Kemi, segundo reportagens do jornal local Aamulehti, estão comprometidos com o neonazismo, e certos participantes têm fichas criminais por violência doméstica. "Escrevem que somos nazistas, mas não é verdade. O grupo é uma equipe de patrulha", diz Tony. 

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Ele afirma que seus homens são muito bem disciplinados e impõe códigos de conduta rigorosos sobre os membros, mas se negou a dar exemplos. "Prestamos muita atenção em quem vem e quem não vem", conta ele, referindo-se a aqueles que têm permissão para participar das patrulhas.

Em uma ronda no meio da noite, um novo soldado chamado Sami, de 42 anos, paramédico com quatro filhos, afirma que o grupo foi descrito de maneira errada pela mídia. "Eles escrevem histórias que falam mal desses caras", afirma Sami, que não quis dar seu nome completo por medo que os repórteres o procurem no trabalho ou em casa, enquanto anda na lama, vigiando a região.

Ele usa uma jaqueta preta, mas não está no grupo a tempo suficiente para ganhar a imagem de Odin nas costas. "Não acho que a polícia tenha recursos suficientes", diz.

As 1,2 mil novas pessoas que procuram asilo parecem estar bem conscientes de que são motivo de muita controvérsia e medo. "Alguns deles têm medo de nós", acredita Ahmed Ramzi Al-Bayati, de 22 anos, vindo do Iraque. "Quando nos veem, saem de perto."

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Mas ele diz que assim mesmo tem se sentido acolhido pelos voluntários e pelos gestos de hospitalidade local. "Acho que estão com medo por seu país", explica sobre os finlandeses. "Eles não querem que ninguém o destrua depois de tudo o que fizeram para construí-lo. Ninguém quer isso. Mas se eles vissem o nosso lado bom...", diz sorrindo.

A prefeita Anna-Kaisa Ikonen crê que a maioria das pessoas em Tampere encara o afluxo de imigrantes com uma mistura moderada de generosidade e pragmatismo, o que desmente o extremismo em ambos os lados da questão. "Espero que a gente não veja essa polarização indo muito além", diz ela.

As patrulhas "definitivamente não são tradicionais", conta, afirmando que "sempre se sentiu segura" em sua cidade, mas que, por outro lado, tomar as ruas vestido de palhaço não é "provavelmente meu jeito de fazer as coisas".

Taina Kopra, apresentadora do Sorin Circus da cidade e professora experiente na arte da palhaçada, reviu os vídeos dos Loldiers na demonstração de Tampere e não achou a performance muito boa porque os personagens eram pouco consistentes.

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"Pode não ser uma boa palhaçada, mas certamente passaram sua mensagem", diz ela.

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