ENVIADO AO RIO - Era para ser um dos pontos altos da visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, a Brasília na quarta-feira, dia 20, mas a falta de verbas atrapalhou. Os dois governos acertaram o envio ao País de um casal de pandas gigantes, animal símbolo da China.
A prática tem raízes milenares na diplomacia chinesa, quando os pandas eram presenteados como gesto de amizade. No caso do Brasil, seria um empréstimo.
Integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty confirmaram ao Estadão que havia um acerto nesse sentido. Segundo eles, a ideia não foi descartada, mas não será concretizada agora.
Nos bastidores, ocorreu uma disputa silenciosa entre ao menos quatro zoológicos no Rio, em São Paulo e em Cotia (SP) para ver quem receberia os animais. Atualmente, o candidato favorito é um parque em Cotia, na Grande São Paulo.
O Palácio do Planalto tem influência na escolha, dizem políticos e diplomatas a par da negociação. Os governos da China e do Brasil deram o aval político a uma cooperação que envolve, na ponta brasileira, um ente privado.
O assunto foi levado ao presidente Lula pelo advogado e ex-deputado Vicente Cândido (PT-SP), que fez a ponte com um empresário interessado em levar o casal de pandas para um zoológico próximo à represa da Guarapiranga, cuja área ainda depende de urbanização e pode demorar dois anos.
O ex-deputado acha que o anúncio pode ser feito na próxima visita de Xi Jinping ao Brasil. De fato, é comum que o líder chinês inaugure pessoalmente os espaços de visitação dos pandas. Ele deve retornar ao País em julho de 2025, para a Cúpula do Brics - a ser realizada no Rio ou em Brasília.
A razão principal para os pandas não desembarcarem no Brasil a tempo da atual visita de Xi Jinping a Luiz Inácio Lula da Silva é o dinheiro. Segundo dois embaixadores a par das tratativas, os custos giraram em torno de US$ 1 milhão (R$ 5,8 milhões) por ano. “O contrato é caro e complexo”, disse um deles.
Os acordos têm validade por dez anos, geralmente. Os zoológicos candidatos não conseguiram viabilizar a manutenção e gerar receita suficiente para as despesas envolvidas, embora esperem um aumento na procura de visitantes por causa dos pandas-gigantes.
Os pandas precisam de ambientes específicos, com alimentação e cuidados especiais. A China também exige que sejam regularmente visitados por equipes de veterinários ligados à fundação que trabalha em prol de sua conservação global. Em caso de reprodução, os filhotes devem ser devolvidos à China, dentro do programa de reprodução da espécie.
Diplomatas relataram que a viabilidade de concretizar a cooperação hoje é baixa, embora haja desejo dos dois lados de concretizá-la. Ao Estadão, o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, indicou que o empréstimo tinha pendências do lado brasileiro. “Depende do Brasil, para onde vamos mandar?”, afirmou ao ser questionado o que faltava, três semanas atrás.
Conforme dados do Ministério das Relações Exteriores da China, essa cooperação já permitiu o intercâmbio de pandas com 26 instituições, em 20 países diferentes, entre eles Alemanha, Espanha e os Estados Unidos. A parceria remonta a 1972, quando o então presidente Richard Nixon viajou à China para quebrar o gelo nas relações com Pequim e jantou com o líder revolucionário comunista Mao Tsé Tung. Geralmente, a chegada dos pandas é presenciada pelos líderes dos países.
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Apesar da rivalidade política e da disputa de influência, China e EUA renovaram acordos. Em outubro houve uma troca de pandas. Os que estavam abrigados no zoológico de Atlanta foram enviados de volta a Chengdu, na China. Em contrapartida, um novo casal partiu em voo fretado para o zoológico de Washington.
Segundo o governo chinês, os pandas gigantes Lun Lun e Yang Yang, além de suas filhas gêmeas, abrigadas no Zoológico de Atlanta retornaram à China em segurança em 13 de outubro, com boa saúde. O par Bao Li and Qing Bao voou à capital dos Estados Unidos.
O envio envolve uma série de cuidados, inclusive voo fretado. É acompanhado por especialistas em conservação que ficam no país monitorando a adaptação ao novo ambiente. Esse sistema de inspeção e controle é o mais custoso. Há poucos exemplares no mundo, e todos pertencem à China.
Uma série de padrões técnicos são exigidos para que países estabeleçam com a China uma iniciativa internacional de conservação de pandas. Periodicamente, os técnicos chineses precisam visitar os pandas para fazer check-ups de saúde, avaliações gerais e vistoriar os zoológicos que os abrigam.
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