Para a presidência da Ucrânia, negociar com a Rússia significa ‘rendição’

Mídia dos EUA informou recentemente que alguns altos funcionários estão encorajando a Ucrânia a considerar negociações; mas Zelenski se recusa a negociar sem a retirada das forças russas de todo o território

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

KIEV - As tentativas das potências ocidentais de fazer a Ucrânia, reforçada pelos sucessos de sua contraofensiva militar, a sentar-se para conversar com a Rússia equivalem a pedir sua rendição, disse à AFP assessor do gabinete presidencial ucraniano.

PUBLICIDADE

“Quando você tem a iniciativa no campo de batalha, é um pouco estranho receber propostas do tipo: de qualquer maneira, você não vai conseguir fazer tudo por meios militares, fazer negociações”, disse Majail Podolyak em entrevista em seu escritório.

A mídia dos EUA informou recentemente que alguns altos funcionários estão começando a encorajar a Ucrânia a considerar negociações. No entanto, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, se recusa a negociar sem a retirada das forças russas de todo o território.

Mariupol, na Ucrânia, é uma das regiões devastadas pela invasão russa ao país. Foto: Alexander Ermochenko/Reuters

“A vitória militar provavelmente não é, no verdadeiro sentido da palavra, alcançável por meios militares”, declarou o oficial militar general Mark Milley dos EUA em 9 de novembro. Segundo ele, há “uma janela de oportunidade” para negociação.

Podolyak insiste que Moscou não fez “nenhuma proposta direta” a Kiev sobre essas negociações. Ele prefere transmiti-los por intermediários e até menciona a possibilidade de um cessar-fogo.

Publicidade

Uma ideia que não faz sentido para Kiev, que entende isso como uma manobra do Kremlin para obter um respiro que lhe permita preparar uma nova ofensiva.

“A Rússia não quer negociações. A Rússia está realizando uma campanha de comunicação chamada ‘negociações’”, disse o assessor.

Ele acredita que o Kremilin está tentando desacelerar sua ofensiva. “Enquanto isso, ele treinará seu pessoal mobilizado, encontrará armas adicionais” e fortalecerá suas posições, alertou.

Apesar dos reveses militares, o presidente russo, Vladimir Putin, ainda pensa que “pode destruir a Ucrânia, é sua obsessão”, insistiu o conselheiro. Negociar com ele “não faz o menor sentido”, disse.

O Ocidente “não pressionou a Ucrânia”, diz ele. “Nossos aliados ainda pensam que é possível voltar aos dias anteriores à guerra, quando a Rússia era um parceiro confiável”, acrescentou.

Publicidade

Em março, as tropas russas foram forçadas a voltar para a região de Kiev. Em setembro o fizeram em Kharkiv, na região nordeste, e em novembro as tropas ucranianas recapturaram Kherson, a única cidade tomada pelos russos no início de sua ofensiva na Ucrânia em 24 de fevereiro. “A recaptura de Kherson representou uma virada fundamental no conflito, disse Podolyak.

Impulsionada por estas vitórias, a Ucrânia não pode “permitir qualquer pausa” na sua contra-ofensiva lançada no final do verão, apesar da chegada do frio e dos primeiros nevões, que agravam a situação no terreno.

“Hoje, cada pequena interrupção só aumenta as perdas sofridas pela Ucrânia”, disse o funcionário. Moscou vem atacando a infraestrutura de energia do país há semanas, mergulhando milhões de lares na escuridão.

As regiões de Zaporizhzhia, no sul, onde fica a maior usina nuclear da Europa e uma das maiores do mundo, que sofreu com enormes explosões neste domingo, 20, e Luhansk, no leste, estão agora na mira do exército, disse ele.

Publicidade

O assessor, no entanto, se recusou a especular sobre a possibilidade de uma operação militar para retomar a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Neste contexto, as autoridades ucranianas esperam que o Ocidente aumente as suas entregas de armas. “Seria muito importante fazê-lo bem no inverno”, observou o assessor.

“Ainda faltam 150 a 200 tanques, cerca de 300 veículos blindados, cerca de 100 sistemas de artilharia, 50 a 70 sistemas de lançadores de foguetes múltiplos, incluindo Mísseis Himars, e 10 a 15 sistemas de defesa aérea para fechar os céus”, listou ele.

O HIMARS também pode disparar uma munição chamada Army Tactical Missile System (ATACMS). Podoliak também citou esses tipos de mísseis dos Estados Unidos, que têm um alcance de 300 quilômetros, enquanto o alcance das armas atualmente disponíveis para a Ucrânia mal ultrapassa os 80 quilômetros.

Para o assessor do gabinete presidencial ucraniano, estes mísseis vão aproximar “o fim da guerra” já que com eles a Ucrânia vai “destruir grandes armazéns militares russos” nas áreas ocupadas.

Publicidade

Kiev “não precisa” atacar alvos militares na Rússia, disse o assessor. “A guerra terminará quando recuperarmos o controle de nossas fronteiras e quando a Rússia tiver medo da Ucrânia”, concluiu. /AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.