BRUXELAS - O governo da Venezuela qualificou como um "erro lamentável" a decisão da União Europeia (UE) de aprovar sanções contra funcionários do presidente Nicolás Maduro. "Que erro lamentável a União Europeia está cometendo!", declarou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, na quinta-feira 19, afirmando que o bloco age como "subsidiário dos interesses" dos EUA.
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Arreaza vinculou a decisão a uma visita do subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, Thomas Shannon, feita ao primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, em Madri, na qual "deu instruções e ordens imperialistas para que começassem um processo" para impor sanções "por parte da União Europeia".
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Desde 2017, Washington estabeleceu sanções contra Maduro e vários de seus funcionários, além de proibir seus cidadãos de negociarem dívida emitida pelo governo venezuelano e por sua estatal petroleira, a PDVSA.
Na quinta-feira, os representantes dos países da UE em Bruxelas deram sinal verde para a imposição de sanções contra "dirigentes da repressão e da situação política na Venezuela". "Os embaixadores concordaram em estabelecer novas listas para impor medidas restritivas visto a situação no país", indicou uma fonte consultada pela agência de notícias France-Presse.
Diferentes fontes diplomáticas já haviam dito na véspera que estas sanções individuais afetariam "sete pessoas". Entre elas, está Diosdado Cabello, número dois do chavismo, e o ministro do Interior, o general Néstor Reverol.
Essas sanções, que incluem o congelamento de ativos e a proibição de viajar ao bloco, devem ser adotadas de maneira formal na próxima semana, "provavelmente" durante a reunião de chanceleres europeus na segunda-feira, segundo outra fonte.
Pressão
A decisão chega em meio a uma nova rodada, na República Dominicana, de conversas para buscar saídas para a crise política e socioeconômica venezuelana. O objetivo das sanções é "apoiar o processo de diálogo" em curso entre governo e oposição na Venezuela, indicou uma terceira fonte diplomática europeia, destacando a "percepção, que se confirmou nos últimos dias, de que se deve continuar pressionando".
Arreaza ironizou a justificativa europeia, após a decisão dos delegados da oposição de se ausentar de um encontro com representantes de Maduro previsto para quinta-feira, em Santo Domingo.
"Dizem no mundo que eles sancionam o governo venezuelano para que haja diálogo (...). Será que não é Julio Borges (principal negociador da oposição) que tem de sofrer sanções?", questionou.
A morte nesta semana do ex-policial Óscar Pérez durante uma operação policial coloca as negociações em pausa, depois que um funcionário de alto escalão insinuou que delegados opositores em Santo Domingo delataram o piloto rebelde.
Preocupada com a "deterioração" da democracia e dos direitos humanos no país, a UE já adotou em novembro uma série de medidas. Entre elas, está um embargo de armas e de material que poderia ser usado para "repressão interna".
Os europeus decidiram não impor sanções individuais contra "responsáveis por graves violações de direitos humanos" e aqueles cujas ações "atentem de alguma maneira contra a democracia ou o Estado de direito na Venezuela", à espera da evolução dos acontecimentos.
A porta-voz da diplomacia europeia, Catherine Ray, recordou que a decisão de novembro estabelecia que tomariam atitudes "à luz dos desenvolvimentos no terreno", e reiterou o apoio "aos esforços em curso para uma solução negociada à crise".
Além de Reverol, outras autoridades das forças de segurança fazem parte da primeira lista de sanções individuais da UE na Venezuela, como o chefe do serviço de Inteligência, Gustavo González, e o ex-comandante da Guarda Nacional Bolivariana Antonio Benavides.
Segundo uma das fontes diplomáticas, a lista se completa com o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena; o presidente do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), Maikel Moreno; e Tarek William Saab, que substituiu Luisa Ortega Díaz como procurador-geral. / AFP
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