Três funcionários da ONU são mortos em conflito armado no Sudão

Paramilitares tomaram palácio presidencial neste sábado, 15, e embate já soma 56 mortos; soldados que participaram de golpe em 2021 se rebelam contra líder atual

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Por Redação
Atualização:

CARTUM – Três funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) morreram durante confronto armado na região de Darfur, no Sudão. A informação foi confirmada pelo chefe da missão especial da ONU no país africano neste domingo, 16. Volker Perthes já havia feito um comunicado neste sábado pedindo “cessação imediata” do confronto. “Apelo a ambas as partes para que parem imediatamente os combates e restabeleçam a calma em todo o Sudão. A segurança do povo sudanês é uma prioridade”, escreveu.

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“Três funcionários do Programa Mundial de Alimentos morreram no enfrentamento que eclodiu em Kabkabiya, em Darfur do Norte”, disse o representante especial da ONU, Volker Perthes, em comunicado.

Confrontos violentos entre militares do Sudão e paramilitares ocorrem desde o começo de sábado, 15, na capital e em outras regiões do país. Os embates foram reportados no centro da capital Cartum, e ao menos 56 pessoas morreram nos confrontos.

O Comitê Médico Central do Sudão informou que contabiliza cerca de 600 feridos, incluindo membros das forças de segurança, e que muitos não puderam ser encaminhados a hospitais devido aos combates na região.

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Em uma série de declarações, a milícia Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) acusou o Exército do país de atacar suas forças em uma de suas bases no sul de Cartum. Eles disseram também que tomaram o aeroporto da cidade e “controlaram completamente” o Palácio Republicano de Cartum, sede da presidência do país. O grupo disse ter tomado um aeroporto e uma base aérea na cidade de Merowe, no norte, cerca de 350 quilômetros a noroeste de Cartum.

Vídeos que circulam em redes sociais mostram milicianos andando pela pista do aeroporto local. No entanto, não foi possível checar a veracidade das imagens.

O exército sudanês disse que os combates começaram depois que as tropas do RSF tentaram atacar suas forças na parte sul da capital, acusando o grupo de tentar assumir o controle de locais estratégicos em Cartum, incluindo o palácio. Os militares classificaram as declarações da RSF como “mentiras”.

Fumaça é avistada em aeroporto de Cartum, no Sudão; temor de uma guerra civil Foto: Marwan Ali/AP

Um oficial militar disse à AP que caças decolaram de uma base militar ao norte de Omdurman e atacaram as posições da RSF em Cartum e arredores.

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O grupo RSF (Forças de Apoio Rápido, em português), do general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, apelou à população e aos militares para que se rebelem contra o Exército —e, em específico, contra o general Abdel Fatah al Burhan, líder do país africano desde a tomada de poder.

Hemedti e Burhan uniram esforços para derrubar os civis do poder há cerca de dois anos. Com o passar do tempo, porém, começaram a se enfrentar. O movimento orquestrado por Hemedti é, ao que tudo indica, uma nova tentativa de golpe, desta vez contra um regime que também assumiu o controle do país à força.

Rumores sobre um possível confronto circulavam nos últimos dias. No sábado, Cartum amanheceu com explosões e o som de disparos de armas pesadas.

Principal grupo paramilitar do país, o RSF anunciou a tomada de infraestruturas estratégicas na capital e em cidades como Merowe, ao norte, e El Obeid, a oeste. Em comunicado, pediu aos moradores que se juntem a eles “para proteger a pátria e os lucros da revolução”, em referência à revolta popular que derrubou o ditador Omar al Bashir em 2019.

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O líder Hemedti disse que Burhan, cujo paradeiro é desconhecido, “será morto ou entregue à Justiça”. A crise entre os dois se acentuou nos últimos meses, quando houve impasses relacionados à participação dos paramilitares nas Forças Armadas. Embora o regime não rejeite a integração dos soldados, quer impor condições e limitar seu escopo de atuação.

Avião comercial pega fogo em aeroporto no Sudão

Neste sábado, 15, companhia aérea nacional da Arábia Saudita disse que um de seus Airbus A330 se envolveu em “um acidente” depois que um vídeo o mostrou pegando fogo na pista do Aeroporto Internacional de Cartum em meio aos combates.

A companhia disse em um comunicado no sábado que todos os seus voos foram suspensos após o incidente. Outro avião também parece ter pegado fogo no ataque. O site de rastreamento de voos FlightRadar24 o identificou como um SkyUp Airlines 737. SkyUp é uma companhia aérea com sede em Kiev, na Ucrânia, e não confirmou a informação.

Generais que deram golpe de Estado disputam poder

Dois generais que lideraram o golpe de 2021 são os responsáveis pela onda de violência. Mohamed Hamdan Daglo, também conhecido como “Hemedti”, do RSF, foi quem anunciou a tomada do aeroporto internacional e do palácio presidencial, e convocou a população e os soldados a se rebelarem contra o exército .

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Já o Exército regular, chefiado pelo general Abdel Fatah al Burhan, líder de facto do Sudão desde o golpe de 25 de outubro de 2021, anunciou que havia mobilizado as forças aéreas contra “o inimigo”.

Em Cartum, os jornalistas da AFP ouviram aviões sobrevoando as bases das FAR e o exército postou uma foto de um deles em chamas no Facebook.

Os dois lados também se enfrentam em frente à sede da mídia estadual, segundo testemunhas.

O emissário da ONU no Sudão, Volker Perthes, apelou a ambas as partes para cessarem “imediatamente” os combates, tal como a União Africana e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que se disse “profundamente preocupado” com a situação.

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A Rússia pediu às partes que tomem “medidas urgentes em vista de um cessar-fogo”.

Os habitantes de Cartum estão trancados em suas casas. “Como todos os sudaneses, estamos abrigados”, escreveu o embaixador dos EUA, John Godfrey, no Twitter. “A escalada de tensões entre os militares, ao ponto do confronto direto, é extremamente perigosa. Apelo ao alto comando militar para que ponha fim imediato aos confrontos”, acrescentou. / AP e AFP

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