O rio Sena, em Paris, é considerado por muitas pessoas um dos maiores cartões-postais do romantismo. Não é para menos: está localizado na cidade da França que é o principal destino de milhares de casais em lua de mel, renovação de votos e namorados apaixonados. Mas as águas do Sena, por muitos anos, preservaram pouco desse charme da cidade: mau cheiro, resíduos acumulados e águas turvas caracterizavam o rio.
Nem sempre foi assim. Registros históricos já mostram banhos no Sena no século 17. Em 1801, uma piscina foi erguida sobre uma dezena de barcaças e abastecida com água do rio. No final do século 19, já existiam cerca de 20 piscinas flutuantes semelhantes à primeira. Durante os primeiros Jogos Olímpicos sediados em Paris, em 1900, foram realizadas sete provas de natação no rio. Até que em 1923, os banhos no Sena passaram a ser proibidos sob pena de multa, devido aos riscos da navegação fluvial e da poluição.
Agora, com a chegada dos Jogos Olímpicos em Paris em 2024, os banhos devem voltar a ser uma realidade 100 anos depois. O Sena deve ser uma das grandes estrela do maior evento esportivo do mundo. A cerimônia inaugural está marcada para 26 de julho de 2024, e cerca de 10 mil atletas cruzarão o Sena a bordo dos famosos “bateaux-mouches” parisienses, entre as pontes Austerlitz e Jena, na capital. Provas de triatlo e natação em águas abertas também serão disputadas nas águas do rio.
Mas para isso, é preciso de esforços para tornar o rio banhável novamente. A prefeitura de Paris diz que € 1,4 bilhão (R$ 7,3 bilhões de reais) estão estimados para despoluir o Sena. Além do tratamento das águas, a cidade também está trabalhando com a modificação de esgotos em casas e barcos, modernização de estações de tratamento e construção de lagoa.
Pierre Rabadan, secretário municipal encarregado dos Jogos Olímpicos e do Sena, disse à rádio francesa RFI que obras grandes foram feitas em estações de tratamento para que a água jogada no Sena tenha menor impacto ambiental e que ajustes nas canalizações devem impedir que água de esgoto seja despejada no local.
Há ainda esforços para evitar que a chuva arraste as águas residuais para o rio. Para isso, está sendo construido um reservatório subterrâneo para captar água das chuvas quando ocorrem fortes tempestades. “Com essa obra, queremos interceptar as águas excedentes, deixá-las nesse reservatório enquanto a tempestade não passa e depois, encaminhá-las para tratamento, antes de serem despejadas no rio”, explicou Samuel Colin Canivez, diretor de Saneamento da prefeitura de Paris, para a RFI.
Legado olímpico
A promessa de banho no Sena não é novidade. Em novembro de 1988, Jacques Chirac, então prefeito de Paris, declarou: “Vou tomar banho no Sena diante de testemunhas que provam que o Sena se tornou um rio limpo”, afirmando que o feito seria realizado até 1994. O trato não foi concretizado, mas a Olimpíada deu um novo prazo, para que isso se tornasse realidade três décadas depois.
Todo esse esforço devera ser um ‘legado dos Jogos Olímpicos’. A prefeitura diz que o trabalho de despoluição também levará à abertura de três pontos específicos para banho e lazer: Bras Marie, no centro de Paris, Bras Grenelle, entre o porto de Grenelle e as margens da Île aux Cygnes, e Bercy, na passarela Simone de Beauvoir, abaixo do Parc de Bercy.
Para isso, “deve-se alcançar uma qualidade mínima” da água de acordo com a legislação europeia de 2006, que estabelece limites para duas bactérias fecais: Escherichia coli e enterococos intestinais, segundo o serviço local de saneamento Siaap.
“Em setembro de 2020, apenas 2% da descontaminação possível havia sido alcançada. Este verão será superior a 60% e ambicionamos 75% no próximo verão”, afirmou a prefeita Anne Hidalgo.
Segundo a prefeitura, no início de junho de 2023, as análises da água do Sena realizadas com base nos regulamentos europeus em vigor deram “excelentes resultados”. Já no verão de 2022, no local das provas olímpicas de natação no Sena, 91% das medições diárias foram boas para o período de 20 de julho a 11 de agosto./Com AFP
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